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segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Etiópia Como a Mossad salvou a vida de milhares de judeus

Um espião israelita conta num livro os segredos das operações Moisés e Salomão. "Fomos o único país ocidentalizado que foi buscar africanos para os libertar e não para os escravizar". Na década de 1980, enquanto outros espiões israelitas perseguiam inimigos árabes por toda a Europa, Gad Shimron foi para a África profunda numa missão secreta para salvar vidas. Milhares de judeus etíopes tinham fugido do conflito na Eritreia apenas para ficarem alojados em campos apinhados no vizinho Sudão. Shimron, então um jovem operacional da Mossad, foi enviado para um Estado muçulmano com o propósito de encontrar uma maneira de levar os refugiados para Israel. O resultado da sua missão, que tinha o nome de código Brothers (Irmãos), tornou-se uma moderna lenda sionista. Para Shimron, foi uma mistura emaranhada de humanidade e risco sobre a qual, uma geração depois, ele escreveu um livro com a rara aprovação do censores israelitas. "O sentimento é o de que o Sudão foi um dos nossos melhores momentos, a mobilização de todo o establishment de defesa para um objectivo verdadeiramente altruísta," diz à Reuters Shimron, agora com 57 anos, numa entrevista para promover a edição inglesa de Mossad Exodus. "Fomos o único país ocidentalizado que foi buscar africanos para os libertar e não para os escravizar." Outros grupos de africanos foram encorajados a deixar os seus países em situações de emergência, mas esta migração pretendia realojar judeus etíopes na sua terra ancestral. Dezenas de milhares mudaram-se para Israel durante a Brothers e outras operações clandestinas. Actualmente, a comunidade de judeus etíopes em Israel ascende a cerca de 100 mil, embora a sua integração seja por vezes dificultada pela burocracia estatal e alegações de discriminação racista. Quando Shimron e uma pequena equipa da Mossad viajou para Cartum em 1981, fazendo-se passar por empresários de uma agência de viagens suíça, contavam com a bênção do então primeiro-ministro israelita Menachem Begin - ele próprio um polaco que fugiu as nazis durante o Holocausto. A Mossad adquirira uma velha estância, na costa de Port Sudan, que Shimron e os seus colegas renovaram e encheram de funcionários locais. Era uma fachada, mas muito bem sucedida, o que atraiu a atenção de estrangeiros amantes do mergulho e da pesca desportiva. "A maioria das operações da Mossad perdia dinheiro mas nós fizemos um pequeno lucro", contou Shimron. "Tivemos de inventar uma série de pretextos para levar a cabo o nosso verdadeiro trabalho, como festas em Cartum, aprovisionamento de víveres, todo o tipo de coisas."
Um país hostil
De 1982 a 1984, a partir de instruções via rádio chegadas de Telavive, os israelitas viajavam entre a estância e as áreas interiores onde haviam localizado 800 judeus etíopes. Viajando de noite por estradas esburacadas, a distâncias de 440 quilómetros, sempre conscientes do facto de se encontrarem num país profundamente hostil ao Estado judaico, os homens da Mossad levaram centenas de refugiados para uma praia, onde eles eram recolhidos por comandos navais israelitas e transportados por ferry até ao seu novo lar nacional. "Ainda me lembro como era a aparência deles na caixa de carga dos camiões, pálidos e andrajosos, velhos e crianças agarrados uns aos outros em busca de apoio. Olhavam para nós espantados, com uma confiança total, e nunca se queixaram", recorda Shimron. Houve muitos problemas. Um dos sócios de Shimron foi detido pelas forças de segurança sudanesas, e só conseguiu escapar através da vidraça de uma esquadra. Noutra ocasião, um dos camiões de Shimron - na altura vazio - foi mandado parar pela polícia. O anterior condutor do veículo tinha passado por um checkpoint. "Felizmente, o polícia em questão tinha uma imaginação muito machista, e alegava ter alvejado o camião quando o motorista se recusara a parar. Fiz-lhe notar a ausência de buracos de balas na viatura, e ele deixou-me ir embora". Contratempos como este e o abrandamento do ritmo das evacuações por mar persuadiram Israel a tentar algo mais dramático. Altos responsáveis de Cartum foram subornados para "virarem a cara para o lado" quando vissem aviões de carga israelitas a voar para bases no deserto onde iriam buscar os restantes refugiados. Posteriormente, Israel foi buscar mais 22 mil judeus etíopes, em pontes aéreas conhecidas como Operação Moisés e Operação Salomão. Assimilar os recém-chegados de Áfrca também não aconteceu sem reveses. Alguns queixaram-se de ter sido abandonados a uma vida de pobreza nas margens da sociedade israelita. Eclodiram motins quando se soube que o Ministério da Saúde tinha uma política de deitar fora o sangue doado pelos imigrante etíopes - por receio de contaminação. Milhares de etíopes, muitos deles com dificuldades em provar a sua ascendência judaica no âmbito das restritas directivas estabelecidas pelo Rabinato Ortodoxo, ainda esperam autorização para viverem em Israel. No final de 2008, prometem as autoridades, já todos se terão mudado."Os etíopes com os quais me mantive em contacto não lamentam ter vindo para Sião", apesar das dificuldades", assevera Shimron (fonte: Dan Williams, Reuters, Jerusalém, in Publico)

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