Portugal: Salários mais altos triplicam os menores
Os 10% de trabalhadores por conta de outrem mais bem pagos em Portugal têm salários líquidos que triplicam os dos 10% mais mal pagos. O diferencial não é novo e tem-se mantido estável desde, pelo menos, 1998, o que sugere que a desigualdade salarial no mundo do trabalho não se agravou nos últimos oito anos. Os números constam de um estudo de Sónia Torres, integrado no último Inquérito ao Emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE), publicado há cerca de uma semana. Destes dados não se deve concluir que a desigualdade não tem aumentado em Portugal pois os números referem-se exclusivamente aos salários auferidos no trabalho por conta de outrem, pelo que deixam de fora não só as retribuições do trabalho independente, como outras importantes formas de remuneração (de capitais, de propriedades, juros, entre outras). Se estas formas de remuneração forem tidas em conta, os resultados são bem mais preocupantes. conforme revelam os dados mais recentes do Eurostat. Aí, não só o diferencial entre os 10% mais ricos e os 10% mais pobres passa para 8,2 vezes, como a tendência é de agravamento. O contraste entre os dois indicadores aponta para que o aprofundamento do fosso entre ricos e pobres se tem feito sobretudo por via de outros rendimentos que não os de trabalho. Ou seja, o povo parece ter razão quando diz que não é a trabalhar (pelo menos para outros) que se enriquece. Pouco para ser ricoEm termos salariais, é preciso pouco para se ser rico, ou seja, para se estar incluído nos 10% mais bem pagos. É que cabem nesse décimo da população residente em Portugal todos os que recebem salários líquidos mensais superiores a 1 224 euros (245 contos em moeda antiga). No extremo oposto, está o décimo da população que recebe do seu patrão menos de 380 euros mensais líquidos. Dividindo o primeiro valor pelo segundo, obtém-se as tais 3,2 vezes, que quantificam a desigualdade de rendimentos entre os assalariados mais e menos bem pagos. Desigualdade suspensaEm termos de desigualdade salarial, Portugal parece não ter mudado nos últimos oito anos. Em 1998, aquela diferença era de 3,3 vezes e depois de um período de queda continuada até 3 vezes em 2002, a tendência voltou a inverter-se.A comparação entre os 10% mais ricos e os que auferem salários medianos também quase não mudou. Houve uma quebra nos últimos anos da década de 90 até 2002, mas depois voltou a subir. A mesma conclusão se retira quando se compara o ordenado líquido mediano com os 10% mais pobres, o que significa que a classe média que trabalha para terceiros não está nem mais pobre nem mais rica. Norte paga piorÉ na Região Norte de Portugal continental onde os salários mais baixos têm um peso maior e a tendência é decrescente à medida que se vai para o Sul. Segundo os dados do INE, 4,9% das pessoas que trabalham para terceiros ganham menos do 310 euros. Esta percentagem desce para 4,1% no centro, 3,1% em Lisboa, 3% no Alentejo e 2,4% no Algarve. Em todas as regiões, exceptuando Lisboa e Vale do Tejo, é no escalão entre os 310 e 600 euros que se encontra a maioria dos trabalhadores por conta de outrem. No Norte, são mais de metade (53%), o dobro da percentagem em Lisboa (25). No Centro, Alentejo e Algarve, este escalão remuneratório abrange 44,5%, 46,2% e 38,5%. É por haver tanta gente nos escalões remuneratórios inferiores que o vencimento líquido mediano se afasta tanto do médio. O valor médio é de 712 euros, mas o mediano, que leva em conta a distribuição das pessoas pelos vários escalões, é de apenas 560 euros. Ou seja, metade dos portugueses ganha até 560 euros (fonte: Manuel Esteves, DN de Lisboa)
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