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quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Opinião: MANIFESTAÇÕES

Por razões várias – e confesso que algumas me escapam quanto à sua lógica e sustentabilidade – os professores têm sido nos últimos meses, “acalmada” que está (pelo menos temporariamente) a instabilidade no Ministério da Saúde, um dos grupos profissionais que mais vezes se tem manifestado contra a política governativa, sobretudo com acções de rua que, não sendo muito mobilizadoras, mostram pelo menos uma capacidade de mediatismo sempre que necessário. Recentemente, registou-se no largo do Rato, junto à sede do PS, um episódio que, confesso, pareceu-me despropositado e nada usual, quando um grupo de professores, numa acção cuja paternidade ainda hoje ninguém descobriu (?), se manifestou ruidosamente contra Sócrates, claramente incomodado e agastado com os acontecimentos. O primeiro-ministro estava ali na qualidade de líder socialista para estar presente numa reunião com professores socialistas, cuja intencionalidade política era mais do que óbvia. Terá sido este – a reunião com docentes afectos ao PS – o pretexto para as ruidosas manifestações, cuja organização Sócrates atribuiu claramente ao PCP, apesar da Federação Nacional dos Professores (Fenprof) se ter demarcado da acção junto à sede do PS, “dizendo que a estrutura não tem nada a ver com o protesto e que não faz a mínima ideia de quem o organizou”. Ainda segundo a Fenprof, esta organização “não convoca manifestações para a porta de partidos políticos em dias em que se realizam reuniões internas dos seus militantes". Vários dos presentes disseram à comunicação social que foram convocados por SMS para se juntarem no Largo do Rato, mas admitiam desconhecer quem convocou o protesto” o que revela hipocrisia ou, sendo verdade, não deixa de ser um absurdo e de constituir pretexto para que se questionem legitimamente várias questões mais pertinentes ligadas à mobilização de docentes.
Ressalvando esta introdução, julgo que é muito importante que os professores – que admito tenham razões de queixa de algumas medidas do Ministério da Educação ou que estejam a organizar-se corporativamente, quer contra os novos modelos de gestão das escolas, quer contra a anunciada avaliação ou novos métodos de progressão na carreira – percebam, aliás tal colmo outros grupos profissionais, que o fundamental não é o mediatismo que se alcança na comunicação social, a capacidade de oratória de alguns dirigentes sindicais mais conhecidos, nem as entrevistas que os dirigentes sindicais concedem ou a amplitude do ruído de manifestações, mas antes a capacidade de negociação, a quiserem de persuasão também, e, mais do que tudo, a disponibilidade evidenciada pelo governo para aceitar dialogar e, eventualmente, inverter a tendência de algumas das medidas anunciadas ou em fase final de estudo ou aprovação legislativa. Neste quadro, puramente profissional e institucional, é errado confundir-se a liberdade de protestar, de reivindicar e de discordar de um governo, com acções junto de sedes de partidos políticos, sejam eles quais forem e os motivos que estão na sua origem. Penso que não estarei a dizer nenhuma enormidade se garantir que a esmagadora maioria das famílias portuguesas têm pelo menos um(a) professor(a) entre os seus membros e que estes problemas acabam por ser acompanhados por todos os membros desse agregado familiar com natural expectativa e ansiedade. Julgo que não é demais lembrar, também, os mais de 16 mil professores desempregados, o que exige que a questão seja encarada com o realismo que muitas vezes não se compadece com fundamentalismos tontos que não conduzem a nada.
Mas o essencial, neste contexto, é ter presente que o próprio José Sócrates reafirmou as “suas” regras do jogo, garantindo nessa reunião partidária no Rato (na qual a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e os seus dois secretários de Estado também estiveram presentes) que reuniu pouco mais de uma centena de docentes socialistas, que “mantém a política educativa porque o país precisa dela e que não governa para obter simpatias”. Obviamente que José Sócrates não podai ser mais claro quanto à sua orientação em matéria de política educativa, que disse será mantida, o que coloca aos professores e aos sindicais – mais àqueles que a estes – desafios novos. Revelou um jornal que, “de acordo com um dos presentes na reunião, uma das 30 intervenções foi de um militante que declarou a José Sócrates que muitos dos professores que votaram no PS em Fevereiro de 2005 não o fariam neste momento. Sócrates respondeu que não estava a trabalhar para as corporações, mas para o país, e que o país precisa das medidas que o Governo está a tomar. Outro militante presente na reunião relatou que o secretário-geral do PS assinalou que não governa para obter simpatia e que não está preocupado em obter simpatias”. Ora esta reafirmação das linhas essenciais do seu programa mostra uma determinação que, francamente, não parece compadecer-se com manifestações como a do Largo do Rato que acabam opor ter um efeito exactamente contrário ao pretendido. Quanto à questão da avaliação dos docentes, e sem querer envolver-me em polémicas que não me dizem respeito, direi apenas que em termos de competência, de esforço, de dedicação, de esforço, de disponibilidade, de preparação, inclusivamente em casa, etc, os professores não podem ser todos colocados num mesmo patamar avaliativo. É assim que eu penso, é isto que eu digo, é esta uma realidade incontornável, gostem ou não de ouvi-la. Podem-se discutir procedimentos, prazos, metodologias, implicações, salvaguarda de manipulações, etc, Mas não me parece que se possam discutir os princípios essenciais subjacentes a toda esta polémica.

Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 28 de Fevereiro de 2008)

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