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segunda-feira, 26 de maio de 2008

Opinião: SEMANA DECISIVA

Esta é a semana decisiva para os candidatos à liderança do PSD que a 31 de Maio se submeterão ao veredicto das bases. Faltam poucos dias para que os candidatos sejam capazes de convencer as bases de que são eles a melhor solução para um partido que eu não acredito possa estar em condições de enfrentar em 20099 um novo desaire eleitoral. Se isso acontecer, julgo que o PSD passa a ter pela frente o desafio de lutar pela sua sobrevivência, porque aos poucos perderá uma base eleitoral de apoio que deixa de acreditar numa força política entregue a gente medíocre, um partido ideologicamente desfigurado ou completamente desfeito em pequenas “quitarolas” que alimentam vaidades pessoais que não há maneira de acabarem.
Mas, com algum humor, apetece-me dizer que, todos os dias, deveríamos ter “directas” em todos os partidos, porque acho que todos os dias, os candidatos deveriam visitar a Madeira. São tantas as promessas, tantas as declarações de intenções, tantas as considerações, tantas as “juras” disto e de aquilo, que já ninguém acredita no que eles dizem, em grande medida porque confrontamos a realidade, os factos, com a demagogia e os trocadilhos de circunstancialismos, que valem o que valem e que devem ser enquadrados no âmbito de pequenas guerras de alecrim e manjedoura que ciclicamente agitam a apatia passiva dos partidos. Há dias, escrevia uma jornalista, num artigo de opinião, que “custa imaginar o que seria a actualidade política sem o sublime espectáculo a que o partido nos habituou. A campanha, em curso, para escolher o novo chefe que irá pastorear as eternas desavenças da trupe, revela bem a capacidade criativa dos seus organizadores. É quase impossível resistir à sofisticação dos ingredientes. Entre os laboriosos jogos dos caciques locais, a descarada "compra" de apoios, os pequenos ódios à flor da pele, o regresso do "menino guerreiro", as divisões das hostes e as velhas intrigas da praxe, o PSD transformou-se numa ficção desenjoativa que ignora olimpicamente o que se passa na realidade (…) Longe de garantir qualquer alternativa viável, o maior partido da oposição, na sua gloriosa inconsistência, tem sido, pelo contrário, o grande trunfo do eng. Sócrates, contribuindo generosamente para a reedição de uma maioria absoluta do PS. Infelizmente e tendo em conta o circo que, entretanto, se montou, não é de esperar que a situação se inverta, por milagre, e que o PSD deixe de ser, de um dia para o outro, mais do que um permanente foco de intrigas e do que um mero aglomerado de interesses particulares”.
Neste jogo de oportunismo e de oportunistas, o PSD não é excepção - porque não me esqueço que quando os social-democratas foram poder em Lisboa, mais do que não terem resolvido questões essenciais para as autonomias, acabaram por revelar-se interlocutores difíceis de lidar. Lembro-me, por exemplo, das mais de 30 medidas negociadas por João Jardim com os governos de Barroso e depois de Santana, a esmagadora maioria das quais foi pelo “cano abaixo”. Ou seja, nada fizeram, adiaram, tal como todos os outros. Porque depois, quando chegam ao poder, entramos num diabólico jogo de conciliação de interesses entre regiões, de gestão de conflitos, de estabelecimento de prioridades num rol imenso de reivindicações e na contenção de protagonismos que impedem que um governo tome medidas a favor de uma região em concreto, sob pena de sofrer, depois, pressões para que tomem medidas semelhantes a favor das demais regiões.
Pedro Santana Lopes, eu conta com o apoio de Alberto João Jardim, veio há dias ao Funchal fazer não percebi o quê. O apoio estava dado mesmo antes de ter vindo ao Funchal e se pensa que por cá ter estado aumentou a sua base de apoio, pode “tirar o cavalinho da chuva”. Santana continua a ser hoje, três anos depois da desastrosa derrota do PSD sofrida em Fevereiro de 2005, a causa de tudo o que aconteceu, antes e depois desse acto eleitoral. Ajustar contas ou fazer acusações, com três anos de atraso, tentando agora envolver Jorge Sampaio numa situação que faz parte do passado, é absolutamente ridículo e revela um pouco o carácter da pessoa em questão. Ou será que será necessário recordar tudo o que se passou entre o abandono de Barroso e a dissolução da Assembleia da República, as tropelias, as divisões no PSD, os ministros que entraram e saíram, os ministros que saltaram de pasta em pasta, a instabilidade política e parlamentar latente, porque o CDS/PP que olhava para Santana Lopes com desconfiança?
Li na imprensa que Santana Lopes negou ter passado uma “rasteira” a Jardim aquando do Conselho Nacional, onde o líder madeirense estaria para se apresentar como candidato. Eu mantenho o que sobre isto disse: Santana Lopes não era candidato, nesse mesmo dia passou para o “Expresso” a notícia de que tinha negociado com Jardim a continuidade na liderança parlamentar quando já tinha decidido (e estava a preparar) que seria candidato. Aliás Jardim já várias vezes disseque foi surpreendido com a decisão de Santana. Mais palavras para quê? Deixe-se de patetices. Santana Lopes reafirmou a sua defesa das autonomias regionais, mas nisso não é diferente, nem melhor, nem pior que os demais candidatos, pois todos dirão que são defensores da autonomia política regional. Todos! Quanto á questão da “compatibilidade ideológica” que Alberto João Jardim disse ser o motivo do seu apoio a Santana, prefiro passar ao lado. Qual é a ideologia do PSD, não do partido que hoje existe, mas do partido desde que morreu a sua grande referência? Se essa dicotomia ideológica, entre a “direita” e a ”esquerda” deixou de existir, porque motivo os partidos políticos se diferenciam pela ideologia e não pelas propostas programáticas ou pela, competência dos seus principais dirigentes? Tenho dúvidas, acho que daria um interessante debate. Quantos eleitores votam nos partidos em função da ideologia destes? Quantos eleitores conseguem tratar ideologicamente os partidos nos quais votam? Quantos militantes do PSD votarão nas “directas” de 31 de Maio, não em pessoas, mas influenciados por questões ideológicas?
Uma curiosidade: a coincidência (?) de pontos de vista sobre a lei de finanças regionais, entre Santana e passos Coelho – não me lembro de os ouvir falar do assunto quando a lei foi aprovada na sua nova versão...: Santana Lopes manifestou o desejo de alterar a actual Lei das Finanças Regionais, enquanto Passos Coelho defendeu um “aprofundamento das autonomias regionais”, criticando à alegada discriminação da região por parte do Governo da República. Mas lá foi acrescentando uma frase, estranha mas reveladora das reservas que existem bem lá no fundo: “ao nível da reserva relativa das competências da Assembleia da República e dos parlamentos regionais, em face das interpretações feitas pelo Tribunal Constitucional, há espaço para uma maior clarificação e maior aprofundamento em matéria de revisão constitucional. Agora isso não significa reduzir o Estado à sua expressão mínima, mas que podemos ir mais longe”. Relativamente à Lei das Finanças Regionais, Coelho garantiu que “a Madeira tem sido vítima de uma injustiça política”, criticando o facto do governo socialista ter tomado uma medida discriminatória. Mais do mesmo. Só isso. aquém tiver tempo e pachorra, que os ature.


Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 26 de Maio de 2008)

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