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Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Opinião: ERRO

Qualquer pessoa minimamente atenta ao que se passa no PSD, depois da eleição de Manuela Ferreira Leite, percebe que começam a ser cometidos erros, demasiado prematuros, que não indiciam nada de positivo, caso a orientação aponte nesse caminho. Ressalvando que o Congresso de Guimarães pode ser (?) fundamental na clarificação de dúvidas que até lá subsistirão, porque só no final dos trabalhos se perceberá o que realmente quer a nova líder, que prioridades vai enumerar, que objectivos eleitorais vai traçar, que postura adoptará face ao PS e a Sócrates, que tipo de equipa vai escolher, que capacidades terão esses seus colaboradores mais directos, que “jogos” de bastidores será ela obrigada a fazer – e vai ter que fazer, goste ou não goste que se fale disso – que moção global de estratégia vai apresentar, etc. Antes disso ninguém consegue adivinhar, nem deve tentar adivinhar porque em política contam os factos, não as suposições, para onde caminha o PSD. Tudo o que até for dito, reconheço, será extemporâneo, dado que não conseguimos demonstrar que tudo o que dissermos corresponderá à orientação da nova liderança.
Uma questão essencial reside desde logo na urgência de uma imediata alteração estatutária, já em Guimarães, em nome da governabilidade do partido e da inequívoca legitimação reforçada do líder eleito. O partrido não pode depender, num processo tão importante, de regulamentos, muitas vezes feitos por uns “iluminados” que julgam ter descoberto a pólvora. Depois temos situações caricatas e absurdas – mas disso falarei mais adiante – como a de termos a líder do maior partido da oposição eleita com 38% dos votantes, mas num quadro de fragilidade ainda mais dramático, mesmo que ele corresponda ao que se passa em todos os partidos democráticos do nosso universo político. Para além de reafirmar que não vale a pena virem com a conversa da treta de que as “directas” neutralizam as manipulações internas nos partidos que já adoptaram esta figura estatutária – porque ninguém é burro… - acho que ou o PSD introduz nos estatutos normas claras para o processo eleitoral, incluindo uma segunda volta, sempre que necessário, para que tenha sempre um líder eleito pelo menos com, mais de 50% dos votos, ou caso contrário teremos um partido que prefere a hipocrisia da asneirada, continuando a revelar uma incapacidade e uma gritante falta de coragem que podem indiciar um PSD a caminhar deliberadamente para a sua própria descaracterização e destruição.
Quero, antes de mais comentários, reafirmar tudo o que escrevi sobre Pedro Santana Lopes, desde a suspeita de que ele tinha montada uma máquina de candidatura, mesmo antes de consumada publicamente a demissão de Menezes, que deliberadamente afastou Alberto João Jardim de qualquer envolvimento no processo – e para que este não lhe “roubasse” espaço, a necessidade de tudo se feito antes da célebre reunião do Conselho Nacional - e por ter-se submetido aos ditames de ambições (ou vaidades?) pessoais e de dispensáveis auto-elogios que o incapacitaram de adivinhar a derrota que todos previam – e não vou discutir números, porque para todos os efeitos PSL foi o grande derrotado - o que, diga-se em abono da verdade, para um ex-líder do PSD nomeado na secretaria e para um ex-primeiro-ministro que ainda hoje muitos não percebem como lá chegou, não deixou de ser deprimente. Estou-me nas tintas, já o disse antes e reafirmo, para as questões ideológicas até porque nos tempos que correm, 30 anos depois do programa elaborado por Sá Carneiro, não sei que ideologia e que programa pode ter o PSD, no contexto dos nossos dias, num mundo globalizado e que nada tem a ver com a sociedade dos anos setenta, e numa realidade política que mudou muito (alguns até dizem que matou as ideologias, alegando que o posicionamento dos partidos se fez em função da economia…). Por outro lado, repito uma vez mais o que antes afirmei, não acredito que a esmagadora maioria dos eleitores do PSD que votaram nas “directas”, o tivessem feito por questões ideológicas. Não. Votaram em pessoas, nestas ou em quaisquer outras, pensando mais em 2009 e na resposta que o PSD tem que dar, não para dentro de si mesmo, olhando para o seu umbigo como se ele fosse o centro do mundo, mas a resposta que o PSD tem que dar a mais de 1,5 milhões de eleitores que tradicionalmente estão com ele e precisam de saber se existirá alguma alternativa ou, pelo contrário, um conluio patrocinado por quem em suspeito (e isso diz-me respeito a mim). Julgo, sem querer especular, que uma vez mais corremos o risco de nos confrontarmos, mais cedo do que se prevê, com a confirmação de que o PSD quis foi sobretudo resolver, e apressadamente, o vazio de liderança que o fragilizava - num processo que até nem foi dignificante, longe disso - a pensar mais em si próprio do que naquilo que seria (são) as necessidades e expectativas dos eleitores perante a realidade política nacional em permanente agravamento.
Julgo que o primeiro erro de MFL – mas que a comunicação obviamente apresentou, repetidamente, como um absurdo braço-de-ferro alegadamente ganho a Santana Lopes, que desejava naturalmente libertar-se rapidamente das funções de líder parlamentar, nas quais não poderia continuar – teve a ver com o facto de ter deixado que se instalasse uma polémica em torno do sucessor de PSL, aparecendo envolvido na história uma figura - claramente um “cristão novo” do PSD, bem falando, militante do PSD, segundo ele, desde 2005 (não militante segundo muitos…) – que eu continuo a não perceber que seja capaz de impor-se, por muito que seja, e reconheço que é, um bom comunicador na televisão (Paulo Rangel). MFL tem que perceber uma coisa muito importante: para o PSD, a estrutura partidária do Porto pode ser decisiva, pode ser ela praticamente a dar “ordens” ou a influenciar e manipular resultados. Mas num contexto eleitoral mais alargado, ao país todo, o Porto está longe de ser decisivo para os triunfos eleitorais do PSD como uma cuidada análise aos números o demonstrará.
O segundo erro de MFL – e não vou falar, porque outros já o fizeram, nem na pressão de alguma comunicação social que parece querer impor as regras do jogo ao PSD e condicionar a sua estratégia e objectivos, nem nos comentadores (um deles sem contraditório, que recusa, e eu sei do que estou a falar…) que usaram os seus espaços na televisão, que deveriam ser isentos, para fazerem propaganda e se envolverem directamente num processo partidário específico, dando expressão ao seu apoio pessoal, repetidamente reafirmando, passível de constituir numa clara manipulação do eleitorado do PSD, o que por si só seria passível de uma queixa junto de entidade competente – tem a ver com a incompreensível decisão de não ter votado a favor de uma moção de censura do CDS/PP. Das duas uma: ou o PSD está contra este governo socialista, vai combatê-lo e quer derrotá-lo em 2009 (e nesse caso não pode andar a votar em função da autoria da moção de censura, até porque não passa de uma fantochada o argumento, que já ouvi, que o CDS/PP poderia invadir (desde quando?!) o espaço próprio do PSD), ou andamos todos iludidos a julgar que um “chá das cincos seguido de canastra” é uma espécie de oposição a sério ou porque alguma coisa vai mudar, tudo porque faltam as instruções do tal “padrinho” que pensa mais em si e no seu próprio calendário e interesses, que no PSD.
Não tenho nada contra Manuela Ferreira Leite e nem sequer é o facto de, alegadamente, ter uma imagem pessoal que experimenta dificuldades reconhecidas de aceitação junto das pessoas que a deve impedir de tentar o sucesso eleitoral que o PSD precisa em 2009. O que me preocupa é ver a líder do maior partido da oposição chegar a um congresso eleita com 38% dos votantes, correspondendo estes a 60% de um universo de 77.088 filiados. À imagem da realidade eleitoral nacional, temos uma MFL que surgirá em Congresso eleita por 22,3% dos filiados inscritos nos cadernos eleitorais e que, por isso, precisa urgentemente de desmistificar esta realidade, desde logo implementando a alteração estatutária que anteriormente falei.

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 12 de Junho de 2008)

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