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Opinião e coisas do nosso mundo...

domingo, 28 de janeiro de 2007

Artigo: Febre

Foi esta semana noticiado que Portugal foi o segundo país do mundo, logo a seguir à China, que mais melhorias registou, durante os últimos 30 anos, em termos do índice da globalização calculado por uma organização suíça especializada. O estudo realizado pelo instituto suíço “KOF”, de Zurique — e que desde 1970 efectua este tipo de iniciativas — considera para os resultados obtidos, diversos indicadores políticos, económicos e sociais. Portugal surgiu no 13.º lugar entre 121 países analisados, com um resultado de 83,06 pontos — há trinta anos o nosso país estava na 34.ª posição com 41,86 pontos. Referia um jornal que “esta quase duplicação na pontuação faz com que Portugal se destaque claramente como um dos países onde o fenómeno da globalização mais se fez sentir durante as últimas três décadas. Ligeiramente à frente, com uma melhoria de 43,21 pontos, aparece apenas a China, um país que nos últimos anos protagonizou uma marcada abertura ao resto do mundo. Em terceiro lugar fica a vizinha Espanha”. Admite-se que, para além da abertura política e das transformações económicas na China, para estes resultados dos países ibéricos tenha contribuído o facto de terem adoptado um regime político democrático que lhes permitiu, também a nível económico e social, maior abertura e desenvolvimento.
Imaginem então o que se passa. A voracidade globalizadora portuguesa é de tal modo que o nosso país está neste momento à frente de países como os Estados Unidos, Alemanha e Espanha e aproximou-se dos primeiros lugares, actualmente ocupados pela Bélgica, Áustria e Suécia. Diz o estudo que “é ao nível da globalização económica, que leva em conta questões como o peso do comércio internacional e o investimento directo estrangeiro na economia, que Portugal mais se destaca, ficando na nona posição, superando o Reino Unido e a Finlândia”. Quanto aos indicadores de carácter social — nos quais as telecomunicações, o turismo ou os hábitos culturais são decisivos — Portugal é considerado o 22.º mais globalizado a nível mundial. Já na globalização política, o nosso país fica ainda mais atrás, com o 26.º lugar, um resultado que se explica fundamentalmente pelo reduzido número de embaixadas, sustentam os autores.
No meio de tanta globalização estonteante, dei por mim a pensar que é por causa disso — quem sabe — que o governo socialista já apresentou aos sindicatos a sua proposta de um novo modelo que permitirá rescindir os contratos dos funcionários públicos, o qual permite despedimentos com justa causa e rescisões amigáveis, acaba com as promoções automáticas nas carreiras e prevê prémios por boa “performance” de um trabalhador ou de uma equipa. Mais. O congelamento das reformas antecipadas permitiu travar as despesas do Estado, já que em 2006, tudo indica que a despesa total com pensões do universo da Segurança Social ficou 400 milhões de euros abaixo do orçamentado, ou seja, cerca de 3% menos do que o Governo tinha inscrito. E o universo de pensionistas cresceu apenas 1,5%. Brilhante. Contenção à custa dos mais necessitados…
Querem mais exemplos da “globalização” portuguesa? Dez empresas públicas pagaram 5,137 milhões de euros de indemnizações a gestores que cessaram funções antes do fim do mandato, entre 2003 e 2006, revela uma auditoria do Tribunal de Contas. Na auditoria feita a 25 empresas públicas, o Tribunal de Contas aponta que a empresa que mais dinheiro pagou em indemnizações a administradores foi a Caixa Geral de Depósitos que desembolsou 4,202 milhões de euros. Satisfeitos? Então olhem para mais este exemplo da “globalização” à portuguesa: “A Inspecção-Geral de Trabalho detectou quase 17 milhões de euros de salários, subsídios e prémios em atraso, o que representa um crescimento de 62% em relação a 2005. As inspecções a mais de 35 mil locais de trabalho ocorreram em todo o país, em conjunto com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, inspecção tributária, GNR e PSP. As acções de fiscalização incidiram sobretudo no sector da construção civil e renderam mais de 12 milhões de euros, com mais de duas mil empresas suspensas da sua actividade, na sua maioria por incumprimento das normas de segurança”.
Viva a globalização!
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 26 de Janeiro 2007

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