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Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Artigo: China...

O primeiro-ministro português José Sócrates manteve a visita turística à China, mesmo depois de saber que nem o Presidente do poderoso gigante asiático, nem muitos dos ministros — os que mais conviriam a Portugal — o receberiam em virtude do facto de terem preferido realizar uma viagem a África a ter que aturar um país que, desde que governado pelos socialistas, anda a pôr-se em bicos-de-pés, por tudo e por nada, convencido que é uma “celebridade” na comunidade internacional, que alguém de bom juízo lhe dá credibilidade ou com ele sequer perde tempo.
A explicação para tudo isto é simples: o Presidente chinês, Hu Jintao, efectua a sua terceira viagem a África (em pouco mais de três anos), apostado em “reforçar a aposta chinesa no continente africano e, ao mesmo tempo, mostrar aos mais relutantes líderes regionais que esta é uma parceria com benefícios mútuos sem risco de nova colonização do continente”. O percurso do presidente chinês mostra como existem coisas mais importantes para Pequim do que ter que receber uma numerosa e dispendiosa delegação que se deslocou à China sem garantia de qualquer sucesso e, ainda por cima para ouvir as asneiradas de um ministro português da Economia cada vez mais ridículo. O périplo presidencial começou nos Emirados Árabes Unidos, seguindo-se a República dos Camarões, Sudão, Libéria, Zâmbia, Namíbia, África do Sul, Moçambique e Seychelles. Um dos objectivos é a eventual concretização da promessa chinesa, a de perdoar a dívida a 33 países, disponibilizar uma linha de crédito de 5.000 milhões de dólares e alargar a entrada facilitada na China a mais de 400 produtos africanos. Recorda-se que Pequim foi palco de uma cimeira que levou à China os chefes de Estado de quase todos os países africanos. Já em Abril de 2006, o Presidente da Nigéria, Olusegun Obasanjo, garantiu a Hu Jintao que este seria o "século da China liderar o mundo" e como tal África aspirava a estar do seu lado.
O jornal inglês, “The Independent”, garantia há poucos dias que "discretamente, e com a atenção do mundo virada para outro lado, a China tornou-se num importante actor em África", continente no qual Portugal tem a mania que, por causa da sua veia colonizadora inata, continua a “dar cartas”. Outros dados que importa reter: cerca de 700 empresas estatais chinesas estão instaladas em África, fornecendo trabalhadores e equipamento (só em Angola, um dos países petrolíferos nos quais Pequim apostou, estarão já mais de 400 mil chineses”. Em três anos, Pequim passou a terceiro maior parceiro comercial de África, logo depois dos EUA e da França, outro país europeu com um grande passado colonial em África. Desde 2000, as trocas entre a China e África mais do que triplicaram (eram de 35 mil milhões em 2005). Obviamente que há sempre o “outro lado da moeda”. Neste caso é evidente que os chineses são acusados de, por causa destes negócios, protegerem ditaduras como o Zimbabwe ou o Sudão, o que impede que elas estejam isoladas internacionalmente.
No primeiro dia da excursão à China, decisões importantes: “os governos de Portugal e da China assinaram um tratado que permitirá a extradição de arguidos e condenados, tratado que obriga os dois países a entregar à outra parte as pessoas perseguidas penalmente ou condenadas”. A China é o país que aplica mais condenações à morte… Mais ainda. Os dois países assinaram um memorando de entendimento de cooperação bilateral no domínio financeiro, que prevê a apresentação de uma proposta para a criação de uma linha de crédito, até ao montante de 300 milhões de euros, destinada a apoiar as exportações em sectores ainda a definir!!! Foi ainda constituído um grupo de trabalho para contribuir para o desenvolvimento do investimento directo entre as duas economias. n

P.S.: O desemprego é uma matéria que, pela sua natureza — mais do que oportunismo saloio decorrente do incontornável aproveitamento político, serve (ou não) como uma bandeira de conveniência, abusivamente agitada, até por quem nem tem moral para falar no assunto, graças às suas graves responsabilidades no agudizar da situação — é frequentemente utilizada para fins específicos que nada têm a ver com o drama das pessoas que se encontram a braços com o desemprego. Há dias, ficamos a saber que a taxa de desemprego em Portugal se manteve inalterada nos 7,1% em Dezembro de 2006. Na Zona Euro, a taxa de desemprego ficou-se pelos 7,5%, enquanto no conjunto da União Europeia permaneceu inalterada nos 7,6%. Segundo as estatísticas, em Portugal verificou-se um recuo de 0,7% comparativamente a Dezembro de 2005. No final de 2006, as taxas de desemprego mais baixas na União Europeia verificaram-se na Dinamarca (3,2%), Holanda (3,6) e Irlanda (4,3), enquanto que os piores países eram a Polónia (12,8%), a Eslováquia (12,0) e a Grécia (8,7). É caso para dizer: melhoramos 0,7%, segundo o Eurostat, mas não tarda muito, para que tenhamos o governo socialista a mandar cá para fora toneladas de propaganda a falar em mais um sucesso. O problema é saber se este desemprego agora divulgado, é o real ou apenas o oficial…
Luis Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 2 de Fevereiro 2007

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