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domingo, 4 de fevereiro de 2007

Existem quase cinco milhões de crianças abandonadas

Ninguém sabe ao certo o número dos chamados «órfãos sociais» existentes na Rússia, mas são muitos milhares os que vivem nas ruas, longe dos pais, alcoólicos, a cumprirem penas de prisão ou sem condições económicas «Segundo diferentes cálculos, há entre cem mil e cinco milhões de crianças abandonadas na Rússia», afirma o presidente da Comissão para a Política Social do Conselho da Federação, Andrei Chmeliov. «De acordo com o ministério da Educação, serão entre 100 mil e 500 mil. O Procurador-Geral fala em 700 mil crianças sem pais, mas a governadora de São Petersburgo diz que o número real se aproxima do milhão», precisa Chmeliov, acrescentando que a Comissão para a Segurança e Defesa do Conselho da Federação (câmara alta do parlamento russo) coloca a fasquia nos três a cinco milhões. Andrei faz parte desse numeroso exército de crianças e adolescentes abandonados, que procuram sobreviver de qualquer maneira nas ruas da capital russa. Não é de muitas palavras, mas contou à Agência Lusa: «Sou de uma aldeia do Distrito de Vladimir (a cerca de 400 quilómetros de Moscovo). Estava farto do ambiente e decidi ver outro mundo». O adolescente, com roupas ainda não muito coçadas e sujas, contou que o pai se encontra a cumprir pena de prisão e a mãe é alcoólica, mas reconheceu que a vida de «bezprizornik» (vagabundo) também nada tem de romântico: «é preciso matar a fome, ganhar para a vodka, a cerveja ou cola». Quando Andrei fala em «cola», não se refere ao refrigerante, mas à cola industrial, que os jovens cheiram quando falta o dinheiro para comprar outras drogas. Segundo dados oficiais, no fim da Segunda Guerra Mundial havia, na União Soviética, cerca de 700 mil crianças abandonadas. «A quantidade de crianças abandonadas aumenta não só devido às dificuldades económicas e à degradação social, mas também fruto da política do Estado. Em vez de trabalhar com famílias de risco, o Estado tem mentalidade repressiva e, anualmente, cerca de 20 mil famílias são privadas dos direitos paternais e as crianças enviadas para orfanatos», disse Svetlana Pronina, da organização Direitos da Criança. As estatísticas mostram que nos orfanatos russos se encontram 200 mil crianças, 30% das quais acabam por aderir a grupos criminosos e ir para a prisão e 14% suicidam-se. Quanto ao destino das crianças da rua, Andrei Chmeliov calcula que «um terço prostitui-se e é utilizado na produção de filmes pornográficos, 30% roubam ou traficam estupefacientes». O Presidente russo, Vladimir Putin, exigiu que o Governo tomasse medidas para resolver o problema das crianças órfãs e vagabundas e o ministro da Saúde e do Desenvolvimento Social, Mikhail Zurabov, prometeu acabar com os orfanatos e internatos num prazo de seis a sete anos, encontrando famílias adoptivas para os deserdados. Porém, poucos são os que acreditam na concretização desse programa, pois ninguém está preparado, nem as famílias que potencialmente podem adoptar, nem as crianças. «Uma criança de um internato precisa de adaptação social para a vida em família. No orfanato, a criança está habituada a viver no mesmo colectivo, a estudar e descansar segundo um horário. Simplesmente não faz ideia do que é uma família e não se adapta de imediato às novas condições», defendeu Sapar Kuliarov, presidente da Fundação Aconchego da Infância. «Trata-se de uma tarefa para dezenas de anos», considerou Ella Pamfilova, dirigente do Conselho para os Direitos Humanos junto do Presidente da Rússia.
«A maioria das famílias, hoje, não está moralmente pronta para adoptar crianças, já para não falar do aspecto financeiro da questão», sublinhou. Andrei Chmeliov considerou ainda que «as crianças abandonadas não são apenas um problema, mas também uma possibilidade» e propõe a criação de orfanatos religiosos e militares, estruturas que «podem disciplinar a criança e garantir a socialização». «Devido à crise demográfica na Rússia, em 2007, vai ter lugar uma verdadeira crise de mobilização para as forças armadas: faz 17 anos a geração menos numerosa (que nasceu em 1990) e, anualmente, o número de mancebos irá diminuir em mais de 100 mil. O mesmo se passa na formação de oficiais. Os órfãos e abandonados podem ser atraídos pelo sonho de fazer uma carreira militar», concluiu Chmeliov.

Fonte: Sol

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