Artigo: Governo desilude?
Num dos meus últimos artigos tive oportunidade de referir, com base numa sondagem publicada num jornal de Lisboa um ano depois de Cavaco Silva ter sido eleito, que o Presidente da República se tornou o político mais popular, ganhando com o facto do governo estar em queda de popularidade. Tenho, por princípio, um distanciamento calculista em relação a todas as sondagens. Mas aceito que sejam, desde que realizadas por entidades credíveis e sérias, elementos importantes para se ter em consideração. Não caio no erro de desvalorizar as sondagens só porque nos são desfavoráveis e de valorizá-las (nalguns casos, hiper valorizá-las) quando nos são favoráveis.
Na sondagem, realizada no início de Janeiro, 43,2% dos inquiridos considerou que o governo de Sócrates está a governar “pior do que esperava, contra 20,4% que considerou que está a superar as suas expectativas — 30,7% diz que o Governo está a actuar igual ao que esperava”. Resolvida esta questão, passemos ao que os inquiridos pensam dos membros do Governo iniciam assim o ano de 2007 com uma nota negativa dos portugueses.
Eleitoralmente a sondagem mostra que as intenções de voto no PS passaram de 40,5%, em Dezembro de 2006, para 38,9% nesta sondagem, mas mesmo assim os socialistas desfrutam de uma confortável liderança — o PSD não foi além dos 28,4% das intenções de voto, tendo-se registado apenas subidas com os pequenos partidos (CDU de 7,1 para 8,2%, BE de 3,9 para os 4,9% e até o CDS-PP subiu de 3,0 para 3,4%).
Numa escala de 0 a 20, os portugueses colocaram Sócrates nos 9,7 tendo Marques Mendes e Ribeiro e Castro sido os únicos líderes partidários com nota negativa (empatados com um 6,9 mas com apreciações negativas entre o eleitorado que reconheceu ter votado nos dois partidos). Francisco Louçã, do BE, com 11,4 e Jerónimo de Sousa, do PCP, com 10,2, completam a lista. O mais surpreendente de tudo isto, é que transpondo a mesma escala para os ministros, os cidadãos inquiridos colocaram o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, como o membro do Governo mais popular pela sexta vez consecutiva, com 12,1. Correia de Campos, com 7,4 e a ministra da Educação, com 8,8, ocuparam os últimos lugares.
Relativamente à apreciação da actuação de Cavaco Silva, alguns dados que retive. Globalmente, 59,2% dos inquiridos consideram boa, 8,4% má e 15,8% o tradicional assim-assim. Entre os que se afirmaram eleitores do PS, 67,2% apoiaram Cavaco, sendo o mais curioso deste valor é que ele ultrapassa os totais registados entre os eleitores do PSD (64,4%). Cavaco Silva com esta estranha colagem à esquerda política e parlamentar, uma colagem excessiva que dispensava elogios despropositados, consegue o milagre de obter o apoio de 40% dos eleitores que votaram na CDU, superiores aos 48,3% apurados entre os eleitores do CDS/PP. Imaginem que os eleitores do Bloco de Esquerda inquiridos naquela sondagem, 60,5% disseram apoiar Cavaco Silva. Obviamente que ninguém acredita que alguma vez o eleitorado tradicional de PC e Bloco de Esquerda e a maioria dos eleitores do PS alguma vez se reveja e votem em Cavaco Silva. Mas estes resultados mostram que o “colaboracionismo” presidencial tem um retorno em termos de imagem pública, principalmente porque à esquerda percebem que isso prejudica e penaliza os partidos do centro e da direita. O que lamento é que a direcção do PSD parece não perceber isso, alinhando essa por uma dependência patética e desnecessária em relação a Belém.
Quando há dias me pediram na televisão para indicar o melhor momento de Cavaco Silva, não tive dúvida: o discurso de posse de apelo à unidade e a filosofia subjacente à mensagem de Ano Novo, final de 2006. Bem como as preocupações pela pobreza e pela exclusão social em Portugal. Quanto ao pior momento, referi então a excessiva colagem, por sua iniciativa ou por tolerância, relativamente ao governo socialista, branqueando o que sobre ele foi dito durante três meses de campanha eleitoral. O Presidente revela memória curta e esquece-se que está a lidar com uma maioria política que não o apoiou, que não votou nele e que certamente nunca o levará ao colo seja em que eleições forem.
Será que, pela leitura da sondagem acima, temos um povo português com memória curta ou simplesmente incoerente?
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 30 de Janeiro 2007
Na sondagem, realizada no início de Janeiro, 43,2% dos inquiridos considerou que o governo de Sócrates está a governar “pior do que esperava, contra 20,4% que considerou que está a superar as suas expectativas — 30,7% diz que o Governo está a actuar igual ao que esperava”. Resolvida esta questão, passemos ao que os inquiridos pensam dos membros do Governo iniciam assim o ano de 2007 com uma nota negativa dos portugueses.
Eleitoralmente a sondagem mostra que as intenções de voto no PS passaram de 40,5%, em Dezembro de 2006, para 38,9% nesta sondagem, mas mesmo assim os socialistas desfrutam de uma confortável liderança — o PSD não foi além dos 28,4% das intenções de voto, tendo-se registado apenas subidas com os pequenos partidos (CDU de 7,1 para 8,2%, BE de 3,9 para os 4,9% e até o CDS-PP subiu de 3,0 para 3,4%).
Numa escala de 0 a 20, os portugueses colocaram Sócrates nos 9,7 tendo Marques Mendes e Ribeiro e Castro sido os únicos líderes partidários com nota negativa (empatados com um 6,9 mas com apreciações negativas entre o eleitorado que reconheceu ter votado nos dois partidos). Francisco Louçã, do BE, com 11,4 e Jerónimo de Sousa, do PCP, com 10,2, completam a lista. O mais surpreendente de tudo isto, é que transpondo a mesma escala para os ministros, os cidadãos inquiridos colocaram o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, como o membro do Governo mais popular pela sexta vez consecutiva, com 12,1. Correia de Campos, com 7,4 e a ministra da Educação, com 8,8, ocuparam os últimos lugares.
Relativamente à apreciação da actuação de Cavaco Silva, alguns dados que retive. Globalmente, 59,2% dos inquiridos consideram boa, 8,4% má e 15,8% o tradicional assim-assim. Entre os que se afirmaram eleitores do PS, 67,2% apoiaram Cavaco, sendo o mais curioso deste valor é que ele ultrapassa os totais registados entre os eleitores do PSD (64,4%). Cavaco Silva com esta estranha colagem à esquerda política e parlamentar, uma colagem excessiva que dispensava elogios despropositados, consegue o milagre de obter o apoio de 40% dos eleitores que votaram na CDU, superiores aos 48,3% apurados entre os eleitores do CDS/PP. Imaginem que os eleitores do Bloco de Esquerda inquiridos naquela sondagem, 60,5% disseram apoiar Cavaco Silva. Obviamente que ninguém acredita que alguma vez o eleitorado tradicional de PC e Bloco de Esquerda e a maioria dos eleitores do PS alguma vez se reveja e votem em Cavaco Silva. Mas estes resultados mostram que o “colaboracionismo” presidencial tem um retorno em termos de imagem pública, principalmente porque à esquerda percebem que isso prejudica e penaliza os partidos do centro e da direita. O que lamento é que a direcção do PSD parece não perceber isso, alinhando essa por uma dependência patética e desnecessária em relação a Belém.
Quando há dias me pediram na televisão para indicar o melhor momento de Cavaco Silva, não tive dúvida: o discurso de posse de apelo à unidade e a filosofia subjacente à mensagem de Ano Novo, final de 2006. Bem como as preocupações pela pobreza e pela exclusão social em Portugal. Quanto ao pior momento, referi então a excessiva colagem, por sua iniciativa ou por tolerância, relativamente ao governo socialista, branqueando o que sobre ele foi dito durante três meses de campanha eleitoral. O Presidente revela memória curta e esquece-se que está a lidar com uma maioria política que não o apoiou, que não votou nele e que certamente nunca o levará ao colo seja em que eleições forem.
Será que, pela leitura da sondagem acima, temos um povo português com memória curta ou simplesmente incoerente?
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 30 de Janeiro 2007
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