Artigo: E agora?
O PCP acaba de dar um tiro-no-pé e, pior do que isso, acaba por retirar definitivamente qualquer credibilidade nas denúncias que sistematicamente andam a fazer pela cidade. Os comunistas cometeram um erro – numa intervenção parlamentar – denunciando a existência de alegadas situações pouco claras na atribuição de “casas de função” ou apartamentos em bairros sociais a personalidades políticas ligadas ao PSD e ao PS que, segundo os comunistas, não se encontram abrangidas pelos itens que justificam o apoio governamental em matéria habitacional. A primeira reacção dos deputados, recordo-me bem, foi de compreensível estupefacção. Os deputados acabavam de ser confrontados com uma acusação grave, concreta e directa, de Edgar Silva, que pela natureza das insinuações, poderia ter evoluções políticas com naturais consequências daí resultantes. Tudo isto explica que o próprio PSD, e bem, tenha solicitado que o diploma em discussão no plenário, baixasse à Comissão Especializada para que o PCP apresentasse as situações ilegais para que as mesmas fossem investigadas. Melhor do que isto não poderia ser feito pela maioria.
Sucede que o tempo foi passando e as pessoas começaram a perceber que o PCP não tinha nenhuma lista de pessoas “corruptas”, que as irregularidades alegadamente existentes, não passavam de uma potencial invenção desbocada de Edgar Silva e que as situações apuradas (uma ou duas) estavam perfeitamente legalizadas e não evidenciavam qualquer irregularidade ou ilegalidade. Os comunistas acabavam de parir um rato. Perante estes factos acho que o PSD deve apresentar imediatamente um voto de protesto – em vez de reagir com votos de protesto de justificação questionável – contra o PCP e a mentira, porque o parlamento regional, cuja imagem perante a opinião pública, há que reconhecer, anda pelas ruas da amargura, não seja ainda mais conspurcada com “facilitismos” linguísticos deste jaez que depois rapidamente caem no esquecimento. Não. Um partido que fez uma acusação concreta, que acusou, que se disponibilizou a apresentar uma lista de ilegalidades, deve ser penalizado a partir do momento em que se constata o embuste. Eu acho que, de futuro, o Regimento da Assembleia deve permitir que no plano político e regimental sejam previstas penalizações a quem adopte comportamento tão patético e mentiroso, expondo a Assembleia ao ridículo. Mas a maioria deve ter outra postura: feita a acusação, toca a investigação imediatamente e apurar factos. Temer essa investigação acaba por suscitar a dúvida entre as pessoas e alimentar a especulação, o que não ajuda nem o PSD, nem a Assembleia, nem a Autonomia. Não há quem resista muito tempo vivendo permanentemente sob a suspeição e na dúvida.
Segundo a imprensa, o presidente do Instituto de Habitação da Madeira declarou no final de uma reunião da comissão que “hoje ficou provado que é mentira”. Atouguia saia de uma audição parlamentar solicitada pelo PCP, pretexto para que este partido apresentasse uma lista apontando a existência de pessoas, deputados e políticos, que haviam tido apoio da Investimentos Habitacionais da Madeira (IHM) para a aquisição de habitação a custos controlados, em detrimento de famílias com carências. Revelando uma habilidade própria de quem domina o sector ao qual está ligado, e com competência comprovada, Atouguia levou uma lista de todas as 917 famílias que até hoje foram beneficiadas pela “Investimentos” e assegurou que, durante os cinco anos que já preside aquele organismo «ninguém pode dizer que atribuímos casas a famílias que não mereciam». Dessa lista não constava nenhum caso apontado pelos comunistas.
O pior de tudo isto, é que não me espanta nada que, mesmo depois deste episódio esclarecedor da credibilidade política de alguns partidos de discurso mais afiado, e que de uma vez por todas desmistifica a postura do PCP (que tantas vezes encontra fácil eco junto dos meios de comunicação social) a farsa vá continuar porque quem tem o dever moral e ético de denunciar estes factos e questionar a credibilidade de instituições políticas, vai uma vez mais branquear factos. Porquê? Porque mais do que questionar a verdade de tudo o que é dito, particularmente das acusações feitas perante as câmaras da televisão (os comunistas vivem em função do protagonismo que lhes é dado na comunicação social), interessará garantir que as conferências de imprensa se mantenham e que a cobertura das “romarias excursionistas” dos comunistas a vários locais da cidade para “denúncias” aos meios de comunicação social prossiga. Independentemente do facto do PCP ter mentido. Mas é esta a credibilidade e a ética que temos…
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 01 de Fevereiro 2007
Sucede que o tempo foi passando e as pessoas começaram a perceber que o PCP não tinha nenhuma lista de pessoas “corruptas”, que as irregularidades alegadamente existentes, não passavam de uma potencial invenção desbocada de Edgar Silva e que as situações apuradas (uma ou duas) estavam perfeitamente legalizadas e não evidenciavam qualquer irregularidade ou ilegalidade. Os comunistas acabavam de parir um rato. Perante estes factos acho que o PSD deve apresentar imediatamente um voto de protesto – em vez de reagir com votos de protesto de justificação questionável – contra o PCP e a mentira, porque o parlamento regional, cuja imagem perante a opinião pública, há que reconhecer, anda pelas ruas da amargura, não seja ainda mais conspurcada com “facilitismos” linguísticos deste jaez que depois rapidamente caem no esquecimento. Não. Um partido que fez uma acusação concreta, que acusou, que se disponibilizou a apresentar uma lista de ilegalidades, deve ser penalizado a partir do momento em que se constata o embuste. Eu acho que, de futuro, o Regimento da Assembleia deve permitir que no plano político e regimental sejam previstas penalizações a quem adopte comportamento tão patético e mentiroso, expondo a Assembleia ao ridículo. Mas a maioria deve ter outra postura: feita a acusação, toca a investigação imediatamente e apurar factos. Temer essa investigação acaba por suscitar a dúvida entre as pessoas e alimentar a especulação, o que não ajuda nem o PSD, nem a Assembleia, nem a Autonomia. Não há quem resista muito tempo vivendo permanentemente sob a suspeição e na dúvida.
Segundo a imprensa, o presidente do Instituto de Habitação da Madeira declarou no final de uma reunião da comissão que “hoje ficou provado que é mentira”. Atouguia saia de uma audição parlamentar solicitada pelo PCP, pretexto para que este partido apresentasse uma lista apontando a existência de pessoas, deputados e políticos, que haviam tido apoio da Investimentos Habitacionais da Madeira (IHM) para a aquisição de habitação a custos controlados, em detrimento de famílias com carências. Revelando uma habilidade própria de quem domina o sector ao qual está ligado, e com competência comprovada, Atouguia levou uma lista de todas as 917 famílias que até hoje foram beneficiadas pela “Investimentos” e assegurou que, durante os cinco anos que já preside aquele organismo «ninguém pode dizer que atribuímos casas a famílias que não mereciam». Dessa lista não constava nenhum caso apontado pelos comunistas.
O pior de tudo isto, é que não me espanta nada que, mesmo depois deste episódio esclarecedor da credibilidade política de alguns partidos de discurso mais afiado, e que de uma vez por todas desmistifica a postura do PCP (que tantas vezes encontra fácil eco junto dos meios de comunicação social) a farsa vá continuar porque quem tem o dever moral e ético de denunciar estes factos e questionar a credibilidade de instituições políticas, vai uma vez mais branquear factos. Porquê? Porque mais do que questionar a verdade de tudo o que é dito, particularmente das acusações feitas perante as câmaras da televisão (os comunistas vivem em função do protagonismo que lhes é dado na comunicação social), interessará garantir que as conferências de imprensa se mantenham e que a cobertura das “romarias excursionistas” dos comunistas a vários locais da cidade para “denúncias” aos meios de comunicação social prossiga. Independentemente do facto do PCP ter mentido. Mas é esta a credibilidade e a ética que temos…
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 01 de Fevereiro 2007
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