PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Artigo: Duas Notas

I. Foi há dias anunciado — dias depois do patético ministro da Economia que nós temos que aturar, sabe-se lá até quando (ontem mesmo li que o homem chegou ao desplante de afirmar, numa entrevista a um jornal português que “está entre o detestado e o odiado e que é aquele que eles adoram detestar; eles, é claro, são os partidos da oposição, são os sindicatos, são os jornalistas, são todos os que o contestam”) — que o “rendimento médio por habitante em Portugal é o menor da Europa Ocidental” e que o crescimento do rendimento esperado é também o menor. De acordo com a empresa “Cetelem”, especializada em crédito ao consumo, e responsável pela elaboração do chamado “Observador Cetelem” (estudo realizado com base num inquérito anual a 10 mil pessoas em 12 países europeus), "os portugueses são os mais pessimistas" dos 12 países considerados, embora se tenha registado alguma (pouca) melhoria quanto às expectativas para 2007. Segundo a Cetelem, com a taxa de inflação a aumentar mais do que os salários, “o poder de compra dos portugueses está em queda, mas apesar disso e do alto endividamento das famílias, a vontade de consumir é maior do que a de poupar". Lisboa e Porto são as regiões mais consumistas, enquanto que o Algarve é a que mais poupa. Sem surpresa, aliás, a empresa autora do estudo admite que “a grande maioria dos portugueses manifesta maior propensão para consumir do que para poupar, mas quando se pergunta o que vai de facto comprar em 2007, há uma tendência de diminuição, com excepção da electrónica de consumo e dos telemóveis”. O estudo refere que a compra de automóvel não é uma prioridade para os portugueses para 2007, o que faz com que a recuperação do sector possa não ocorrer antes de 2010. Isto porque o estudo confirma que as “intenções de compra para os próximos 12 meses sugerem também reduções nas compras de automóveis e de motos, de electrodomésticos, de computadores pessoais e de móveis”. Por outro lado, as compras de telemóvel estão em alta assim como a electrónica (televisores e vídeo e aparelhagens de alta-fidelidade) regista uma ligeira recuperação. O estudo da empresa especializada em crédito ao consumo do grupo financeiro e bancário BNP Paribas, realiza-se desde 1989 em França e abrange actualmente 12 países: França, Itália, Espanha, Portugal, Bélgica, Reino Unido, Alemanha, Polónia, República Checa, Eslováquia, Hungria e Rússia. Ou seja, estamos, de facto, num país transformado num “oásis” pela propaganda socialista, graças, pelos vistos, aos salários de miséria que se transformaram numa atracção para investidores estrangeiros, que por sugestão do próprio governo, podem entrar por aí dentro e explorar estes pobres e desgraçados portugueses que ainda por cima perderam a espinha dorsal e a força do protesto legítimo. Mas, diz o ditado, quem assim quer, assim tem… II. Há uma coisa que não entendo: se o Jornal da Madeira não passa de um pasquim do regime, um instrumento de propaganda do poder laranja; se os jornalistas do JM não têm liberdade de imprensa e fazem fila na Quinta Vigia para obterem “luz verde” para tudo o que escrevem; se o JM não é lido por ninguém, nem serve sequer para enrolar batatas ou limpar qualquer sítio à escola; se não faz sentido que o Governo Regional tenha participação no JM (e até em Lisboa fazem leis direccionadas exclusivamente contra a Região) mas já ninguém se importa que os socialistas tenham a maioria na poderosa RTP-RDP ou na Agência Lusa (porque entretanto “despacharam” os jornais que tinham para alguns grupos económicos nacionais), se o JM é isto e mais aquilo, se os jornalistas do JM são perseguidos, levados para catacumbas, torturados, deformados, transformados em sacos de pancadaria, se lhes cortam os dedos para que não usem os computadores, se lhes furam a cabeça para que não pensem pela sua cabeça, se mais frito e mais assado, porque motivo os socialistas locais, continuamente ressabiados, sempre que se trata de afrontar o Governo Regional, metem o JM ao barulho? Recorrendo aos actores da “Conversa da Treta”, eu diria que “não sei, talvez, hesito”. Hesito em catalogar esta mesquinhez menor e nojenta de quem não sabe fazer política sem andar a achincalhar — não a mim porque graças a Deus já nem ligo a tal gente — mas a achincalhar as pessoas que profissionalmente trabalham no JM, cumprindo com dignidade a sua actividade profissional, graças a princípios éticos que adquiriram ao longo da sua vida, da sua educação, da sua família, e que certamente não encontram referências ou exemplos em certos grupelhos de gente mesquinha e sem escrúpulos que por aí anda armados em moralistas de coisa nenhuma. Eu, por ser do PSD, já sei que sou um reles escriba do regime. Outros, porventura mais fanáticos, mais sectários, mais tendenciosos que eu, mas que discretamente estão colaboracionistas silenciosos e conotados, até aos cabelos, com determinados partidos, ideologias ou projectos políticos, esses passam imunes no “ralador socialista”. Pudera! Dá-lhes jeito, fazem-lhes jeitos. Finalmente um último lamento: o de que estas campanhas contra o JM e os seus profissionais acabam por encontram eco e cumplicidades onde menos se esperava que isso acontecesse, no próprio sector da comunicação social. Enquanto jornalista, nunca faltei com o meu apoio e solidariedade classista, custasse isso o que me custasse.
Luis Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 07 de Fevereiro 2007

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