PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2007

Artigo: Negociatas

Ser-me-ia muito fácil sentar-me na secretária e escrever um artigo no meu computador a desancar, mais uma vez, no governo socialista, pelo facto de ter sido anunciada mais uma decisão penalizadora dos jovens. Não me espanta mesmo que algumas organizações de juventude, excepção feita à JS que parece ter “desaparecido” de circulação (vá lá saber-se porquê!…), não tardem a fazer barulho à volta de uma questão sensível mas ao mesmo tempo polémica e, mais do que isso, o que é grave, demonstrativa de como são as próprias pessoas e os esquemas “mafiosos” que elas alimentam, que acabam por prejudicar os jovens, porventura muitos deles necessitando desse apoio. Isto porque meia dúzia de gatunos (que não têm outro nome) que andam por aí à solta, vivendo à custa do orçamento de Estado, explorando mecanismos de apoio público que pretendiam ser justos mas que acabam apenas para encher a pança a meia dúzia de empresários vadios e que se comportam como autênticos chulos dos dinheiros públicos, fazem negociatas por tudo e por nada, com tudo e com nada, até que alguém descubra os aspectos mais perniciosos destas negociatas intoleráveis num país que se pretende sério. Eu não posso, recuso fazê-lo, cair na crítica pela crítica, sem consistência, sem verdade, como se fosse apenas pela demagogia e pela tentativa de manipulação das pessoas, que se consigam objectivos políticos. Eu acho, sempre achei, que os portugueses cometeram um erro em Fevereiro de 2005, do qual se vão arrepender muito seriamente (principalmente quando se derrubar a fachada da propaganda e da demagogia permanente de um governo que continua a esconder a realidade do país que somos, graças às cumplicidade filtradora de muitos meios de comunicação social), quando deram a maioria absoluta aos socialistas, Há partidos que não têm vocação, nem oferecem garantias de seriedade para governarem com maioria absoluta. Eles não têm culpa, mas a realidade incontornável é esta. Os resultados estão à vista de todos. Neste caso concreto dos anunciados cortes no apoio ao arrendamento dos jovens, evidentemente que eu acho intolerável que a verba orçamental disponível para apoiar jovens arrendatários tenha sido limitada este ano a 32,7 milhões de euros, plafond que segundo um jornal de Lisboa, corresponde a metade da despesa anual média registada entre 2004 e 2006 (cerca de 62 milhões de euros) e “reflecte a nova filosofia adoptada pelo Governo em matéria de apoio a jovens que vivam em casas arrendadas, que se materializa, desde já, no abandono do programa Incentivo ao Arrendamento Jovem”. Grave, neste processo, é o facto de se constatar que esta medida resultará das conclusões de um estudo, segundo o qual “as rendas financiadas pelo Estado através do programa “Incentivo ao Arrendamento Jovem” têm um valor médio muito superior ao valor de mercado”. O estudo ainda não está concluído, mas de verá ser entregue em breve ao governo socialista, a quem caberá uma decisão final nesta matéria. Sabe-se já que o documento sustenta o fim deste programa social, sublinhando que a renda média do IAJ paga em 2006, foi de 328 euros, um valor que supera em 47% a renda média nacional, que é de 222 euros. Ou seja, do universo de rendas comparticipadas pelo Estado em 2006, 36,5% situavam-se entre 299 e 399 euros e 11,6% superavam mesmo os 399 euros. Para o Governo “esta é, de facto, uma das principais perversidades do IAJ, que acaba por funcionar como um “convite” aos senhorios para que cobrem valores acima do equilíbrio de mercado”. Concordo, incondicionalmente, com esta posição do governo, deste ou de qualquer outro, que tomasse idêntica decisão, a de recusar pactuar com a gatunice. Eu ia mais longe e escarrapachava nos jornais os nomes dos inquilinos que têm vivido estes anos todos à custa destes esquemas. Por isso, concordo com esta medida do governo socialista, por muito que me custe reconhecê-lo. Seria mais cómodo desancar nos socialistas, mas não posso nem devo fazê-lo. Acho recomendável que medidas semelhantes, noutros sectores, porventura passíveis de apresentarem um quadro de aldrabice generalizada semelhante a este, fossem igualmente implementadas, para que, de uma vez por todas se acaba com a farsa que por aí vai. Chorem as carpideiras o que chorarem. Não podemos, nem devemos confundir, sob pena da credibilidade pessoal e política ser posta em causa pela opinião pública, confundir a realidade dos factos com as naturais divergências ideológica se políticas que muitas vezes alimentam o radicalismo que conduz-nos a becos-sem-saída. Neste caso concreto, há que moralizar, combatendo uma realidade assente em “esquemas” pouco claros, para mim claramente mafiosos e exploratórios dos dinheiros dos contribuintes. Tudo o resto vale o que vale.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 06 de Fevereiro 2007

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