Artigo: País imenso…
Na semana passada retive, a propósito de Portugal, duas notícias que não resisto a trazê-las aos nossos leitores, sem mais comentários, porque acho que as pessoas são suficientemente inteligentes para perceberem o que se passa e, pior do que isso, para entenderem o que está por detrás de algumas asneiradas que se dizem, sobretudo quando elas se confrontam com a verdade, dura e pura dos números: • “Portugal é, cada vez mais, um destino apetecido pelas classes média/alta e alta provenientes do Norte da Europa. Até final deste ano, às cerca de 100 mil pessoas naturais de Inglaterra, Irlanda, Alemanha e Holanda que residem em permanência no país deverão juntar-se mais oito a dez mil. A conclusão é do The Portugal News — jornal de língua inglesa sedeado no Algarve e com uma circulação média semanal de 23.000 exemplares — que levou a cabo uma sondagem para saber o que pensa a comunidade estrangeira (os oriundos do Norte da Europa) sobre Portugal. Um dos motivos apontados para o crescimento desta população em Portugal prende-se com a intensificação dos voos de baixo custo provenientes, sobretudo, de Inglaterra e Irlanda — 84,5% dos inquiridos declararam efectuar um mínimo de sete viagens anuais de avião (…) O director do jornal, Paul Luckman, não deixou, no entanto, de salientar que a famosa burocracia portuguesa continua a entravar o início das actividades empresariais e negociais em que os estrangeiros pretendem investir. A maior dos inquiridos considera ainda que o Governo português os ignora, contrariando assim uma tendência dos sectores comercial e industrial, os quais parecem mais receptivos às suas iniciativas. O estudo do “The Portugal News” refere ainda que o Algarve é o destino preferido da maior parte da comunidade inquirida (no último relatório foram três vezes mais do que em 2005). A residência destas camadas sociais estrangeiras em Portugal — que na prática representam cerca de um por cento do total da população — é ainda alvo de comparação com Espanha. "Portugal, especialmente o Algarve, continuará a atrair a parte mais rica dos estrangeiros da Europa do Norte, enquanto a Espanha atrairá o "en-mass", refere o documento (…)”; • “A percentagem de jovens portugueses que consomem álcool é muito semelhante à encontrada entre os norte-americanos do mesmo escalão etário. São 35% os jovens com uma média de 14 anos de idade que dizem utilizar ocasional ou regularmente bebidas alcoólicas. Destes, dois em cada dez associam-nas a outros consumos, como tabaco e cannabis. São também os jovens, a partir dos 15 e até aos 29 anos, que mais morrem nas estradas portuguesas, quer como condutores, passageiros ou mesmo peões. Estas conclusões são de dois estudos apresentados num debate sobre Jovens e Álcool, tipologia e consumo, relação com a sinistralidade rodoviária e sensibilização para comportamentos responsáveis, promovido pela Associação Nacional de Empresas de Bebidas Espirituosas (Anebe). A associação defende que a idade limite de compra e consumo de bebidas alcoólicas em estabelecimentos públicos aumente dos 16 para os 18 anos, declara o presidente da Anebe, Denis Coubronne. Segundo o estudo “Repercussões do consumo de tabaco, do álcool e de outras drogas na saúde das crianças e dos adolescentes”, desenvolvido por uma equipa do Instituto Superior Miguel Torga, de Coimbra, com base numa população de cerca de sete centenas de crianças e jovens, entre os oito e os 18 anos de idade — que foram a consultas de medicina geral e familiar nos centros de saúde da sub-região de Coimbra —, de entre os adolescentes, 35,6% diz ter hábitos alcoólicos. Destes, 21,7% associam o uso de tabaco e da cannabis ao consumo de álcool”. Realmente somos um país sui generis. Ainda recentemente foi revelado que o rendimento médio por habitante em Portugal é o menor da Europa Ocidental e que o crescimento do rendimento esperado é também o menor. Estas conclusões constam de um estudo do “Observador Cetelem”, realizado com base num inquérito anual a 10 mil pessoas em 12 países europeus. E como se tudo isso não bastasse, os autores constataram ainda que "os portugueses são os mais pessimistas" dos 12 países considerados: "com a taxa de inflação a aumentar mais do que os salários, o poder de compra dos portugueses está em queda, mas, apesar disso e do alto endividamento das famílias, a vontade de consumir é maior do que a de poupar". Como era previsível, as regiões de Lisboa e Porto são as mais consumistas, enquanto no Algarve aparece como a região portuguesa com maior propensão para poupar.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 05 de Fevereiro 2007
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