PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

terça-feira, 17 de julho de 2007

Artigo: DUAS NOTAS

I. Qualquer madeirense que se preze, tem que ficar orgulhoso – “babado”, diria eu – perante os feitos dos nossos, dos representantes da Madeira. E sobretudo no desporto, pela visibilidade que daí resulta e, muitas vezes, como é o caso presente, pelo exemplo que os protagonistas transmitem. Mais do que a habitual educação e grande humildade de João Rodrigues, e que caracteriza o seu perfil pessoal – ainda há dias vi-o elogiar a baía de Cascais onde decorreram os mundiais de vela, mas colocando sempre a Madeira no topo das suas preferências, assumidamente, sem vergonha nem complexos de inferioridade – temos que realçar o sucesso de um percurso exemplar, que inclui 4 Jogos Olímpicos e que, aos 35 anos, se prepara (no momento em que escrevo este apontamento) para disputar o acesso ás Olimpíadas de Pequim.
Engenheiro, seria mais fácil a Rodrigues, sobretudo pelas exigências da modalidade que hoje pratica, recolher-se a uma secretária e assumir-se como engenheiro, a sua licenciatura. Dizem-me, os que o conhecem bem, que ele terá muitas dificuldades em viver sem o mar, sem sentir o sopro do vento ou a intensidade das ondas. Porventura ele nunca seria capaz de viver num país sem mar, aliás desse mesmo mal padecem muitos estudantes madeirenses colocados em regiões continentais, sem mar. Eu sei que a ausência desse “cheiro” faz com que os estudantes mergulhem, em determinados momentos da sua vida estudantil, numa letargia que os penaliza e fragiliza. Estou à vontade, porventura mais do que qualquer outro, porque não conheço João Rodrigues, nem com ele alguma vez falei. Por isso, não me podem acusar de ser sectário ou “tendencioso”, até porque sei que é assim que as coisas funcionam, O meu elogio a João Rodrigues é inteiramente justo e assumo-o porque o considero um verdadeiro exemplo de persistência para os nossos jovens, particularmente para aqueles que desenvolvem actividades desportivas náuticas. Estaria a ser injusto se omitisse este atleta. Acho que Rodrigues, antigo campeão europeu e mundial, por tudo o que fez, pela dedicação, pelo palmarés, pela humildade, merecia o apuramento para as Olimpíadas de Pequim, provavelmente fechando em beleza uma carreira desportiva exemplar. Ao João, desejo-lhe, penso que a Madeira toda deseja-lhe os maiores sucessos do mundo, para que a nossa Região garanta desde já uma presença olímpica que, a acontecer, de veria ser apoiada financeiramente pela Madeira de uma forma justa.
Quando se ouve falar na “promoção” de outras modalidades, quando de forma hilariante se ouvem alguns “iluminados” de outras modalidades afirmarem que elas promovem o turismo madeirense (!), não me parece que, a garantir a presença em Pequim, João Rodrigues, por tudo o que fez, pelos títulos que nos trouxe, e pela postura que sempre o caracterizou, mereça ser ignorado pelo Governo Regional e pelas entidades desportivas, sempre vocacionadas a canalizar milhões, transformados num desperdício autêntico, para outra modalidades, financiando uma imensidão de atletas estrangeiros. Seria uma forma dos Madeirenses lhe mostrarem toda a sua solidariedade e de o acompanharem no último percurso olímpico que, espero e desejo, venha a conquistar. E mesmo que o não faça, porque o desporto tem vicissitudes e momentos de azar e de glória, não retiro uma única palavra ao que acabo de dizer. Boa sorte...engenheiro!

II. O Presidente da República, Cavaco Silva, avisou esta semana que "alguns agentes dos poderes públicos devem ter cuidado com as suas atitudes" defendendo que é preciso dar "mais qualidade à democracia portuguesa. Todos nós temos que ter cuidado com as nossas atitude para que a nossa democracia tenha mais qualidade". Cavaco Silva comentava as críticas de partidos da oposição quanto ao alegado autoritarismo e clima de intimidação por parte do Governo. Segundo os (poucos) jornais que destacaram esta afirmação, “sem entrar em pormenores ou em controvérsia sobre os casos polémicos, como a caso DREN ou da demissão de uma directora de um centro de saúde, Cavaco Silva deu um conselho, sem identificar os destinatários”.O problema é esse mesmo. Durante anos, o Governo Regional da Madeira era o único acusado de perseguir pessoas e de sobre elas exercer pressões ou tentar manipulá-las. Nessa altura, não faltavam partidos e meios de comunicação a darem destaque a essas acusações. O contraste é hoje evidente. O Presidente da República faz críticas directas e concretas, falando indirectamente de factos específicos, e a “coisa” morre lá no interior, porventura dos telejornais ou dos jornais, entre o anúncio de contratação de um caixa para um supermercado ou uma participação de missa do 30º dia. “Talvez alguns agentes de poderes públicos devam ter cuidado com as suas atitudes, e o mesmo se aplica aos partidos da oposição e aos cidadãos em geral", afirmou Cavaco que lembrou que "há sempre alguém, há sempre partidos políticos que têm motivos para criticar o Governo". Apesar de tudo, Cavaco Silva disse poder "assegurar aos portugueses que as instituições funcionam de acordo com as regras da democracia". Ou seja, o que os portugueses precisam de saber são os motivos que levaram o Presidente da República a falar nestes termos, e nesse contexto a comunicação social é naturalmente, pela sua natureza e pelas suas responsabilidades, a instituição mais adequada para que esses esclarecimentos e essa informação chegue a cada cidadão. Pelos vistos nada disso acontece. No dia em que Cavaco Silva falou nestes termos, a notícia das televisões eram os rendimentos auferidos por Marques Mendes numa universidade, enquanto docente ou gestor, e que alegadamente não foram declarados à segurança social ou entravam em conflito com as incompatibilidades com os deputados nacionais. É a contra-informação a funcionar na sua plenitude. Chegou-se ao ponto de vermos um jornalista de televisão interpelar de véspera um líder partidário da oposição, sobre uma notícia não publicada e que, por isso, nem era do conhecimento do político visado! A que ponto as coisas chegaram.
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 13 de Julho 2007

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