Opinião: NOTAS NATALÍCIAS (II)
Continuando a falar de pobreza no mundo, ou de situações com ela associadas, porque o Natal deve ser um tempo de reflexão, e não apenas de consumismo desenfreado, gostaria de lembrar que um estudo recente, do Banco Mundial, diz que mais de 80% dos indígenas latino-americanos continuam a viver na pobreza extrema, tendência que pouco mudou desde a década de 1990. Por exemplo, sabiam os leitores que a inexistência de saneamento adequado está na origem de quase 500 milhões de faltas escolares por ano, que a falta de água e de esgotos tem impacto na educação, afectando cerca de 150 milhões de crianças? Estes dados constam do “Relatório de Desenvolvimento Humano” relativo a 2006, recentemente lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) que denuncia elevados números de “crianças impossibilitadas de irem à escola por estarem constantemente acometidas por doenças causadas por água imprópria não podem, de modo algum, desfrutar do direito à educação”. Ou seja, “a igualdade de oportunidades, uma exigência fundamental para a justiça social, é reduzida pela falta de água segura”.
Preocupante é o facto do documento do PNUD confirmar que 115 milhões de crianças estão fora da escola (54%, 62 milhões, são do sexo feminino), que a taxa de analfabetismo entre jovens (entre os 15 e os 24 anos) é de quase 13% nos países em desenvolvimento, que aumenta no mundo árabe (quase 15%), no Sul da Ásia (cerca de 25%) e na África Sub-saariana (quase 29%). O relatório confirma que são as mulheres as mais prejudicadas por esta triste realidade social: a falta de água e saneamento adequados é um factor que aprofunda ainda mais a desigualdade entre sexos e dificulta a saída do ciclo da pobreza. “As mulheres e as meninas são duplamente afectadas, já que são elas que sacrificam o seu tempo e a sua educação para recolher água. Para as jovens, a falta de serviços básicos de água e saneamento se traduz em perda de oportunidades em educação”, acrescenta.
Uma agência de notícias do Brasil, país que pela sua natureza e pela realidade social dedica particular atenção a estas questões, traçou, a propósito deste relatório do PNUD, um quadro que é preocupante:
“O mundo que tem 1,1 mil milhões de pessoas sem acesso a água e 2,6 mil milhões sem saneamento básico. Esta falta de acesso à água e ao saneamento básico mata uma criança a cada 19 segundos, devido a diarreia, reconhece o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2006, recentemente divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O estudo, intitulado “Além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água”, mostra que, ao ritmo actual, o mundo não conseguirá cumprir a meta dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio que apontava para a redução para metade, até 2015, da pobreza no mundo. As estimativas do relatório apontam para 1,1 mil milhões de pessoas sem acesso a água limpa, e que, neste grupo, praticamente duas em cada três vivem com menos de dois dólares por dia. Das cerca de 2,6 mil milhões de pessoas que vivem em casas sem esgoto, 660 milhões sobrevivem com menos de dois dólares por dia. O relatório do PNUD não tem dúvidas: “A crise da água e do saneamento é, acima de tudo, uma crise dos pobres”.
Neste contexto, e num mundo onde milhões de pessoas não têm ainda acesso à água potável, li num jornal nacional que enquanto um habitante de Moçambique “usa, em média, menos de 10 litros de água por dia, um europeu consome entre 200 e 300, e um norte-americano, 575 (em Phoenix, no Arizona, o volume ultrapassa 1 mil). No Reino Unido, um cidadão médio usa mais de 50 litros de água por dia, ou seja, mais de dez vezes o volume disponível para as pessoas que não têm acesso a uma fonte de água potável na maior parte da zona rural da África Sub-saariana. Um norte-americano usa mais água num banho de cinco minutos do que um morador de favela de um país em desenvolvimento usa num dia inteiro”, sublinha o relatório do PNUD.
Os especialistas falam, numa relação entre este cenário de privação e as metas estabelecidas nos chamados “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, nomeadamente em matéria de recursos hídricos, saneamento básico e instalações sanitárias. Para conseguir que esses objectivos sejam cumpridos, como pretendido, até 2015, “assegurar preciso garantir o acesso a água a mais 900 milhões de pessoas e propiciar o saneamento a 1,3 mil milhões, o que explica uma descrença transformada quase em certeza, a de que essas metas não serão atingidas dentro do prazo se for mantida a tendência actual”. Estas projecções do RDH relativo a 2006 admitem que, a manter-se o ritmo actual, o compromisso seja atingido em 2016 (no que diz respeito à água) e apenas em 2022 (quanto ao saneamento). Mas mesmo que as metas sejam atingidas, em 2015 ainda haverá 800 milhões de pessoas sem acesso a água e 1,8 mil milhões sem saneamento.
Preocupante é o facto do documento do PNUD confirmar que 115 milhões de crianças estão fora da escola (54%, 62 milhões, são do sexo feminino), que a taxa de analfabetismo entre jovens (entre os 15 e os 24 anos) é de quase 13% nos países em desenvolvimento, que aumenta no mundo árabe (quase 15%), no Sul da Ásia (cerca de 25%) e na África Sub-saariana (quase 29%). O relatório confirma que são as mulheres as mais prejudicadas por esta triste realidade social: a falta de água e saneamento adequados é um factor que aprofunda ainda mais a desigualdade entre sexos e dificulta a saída do ciclo da pobreza. “As mulheres e as meninas são duplamente afectadas, já que são elas que sacrificam o seu tempo e a sua educação para recolher água. Para as jovens, a falta de serviços básicos de água e saneamento se traduz em perda de oportunidades em educação”, acrescenta.
Uma agência de notícias do Brasil, país que pela sua natureza e pela realidade social dedica particular atenção a estas questões, traçou, a propósito deste relatório do PNUD, um quadro que é preocupante:
“O mundo que tem 1,1 mil milhões de pessoas sem acesso a água e 2,6 mil milhões sem saneamento básico. Esta falta de acesso à água e ao saneamento básico mata uma criança a cada 19 segundos, devido a diarreia, reconhece o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 2006, recentemente divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). O estudo, intitulado “Além da escassez: poder, pobreza e a crise mundial da água”, mostra que, ao ritmo actual, o mundo não conseguirá cumprir a meta dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio que apontava para a redução para metade, até 2015, da pobreza no mundo. As estimativas do relatório apontam para 1,1 mil milhões de pessoas sem acesso a água limpa, e que, neste grupo, praticamente duas em cada três vivem com menos de dois dólares por dia. Das cerca de 2,6 mil milhões de pessoas que vivem em casas sem esgoto, 660 milhões sobrevivem com menos de dois dólares por dia. O relatório do PNUD não tem dúvidas: “A crise da água e do saneamento é, acima de tudo, uma crise dos pobres”.
Neste contexto, e num mundo onde milhões de pessoas não têm ainda acesso à água potável, li num jornal nacional que enquanto um habitante de Moçambique “usa, em média, menos de 10 litros de água por dia, um europeu consome entre 200 e 300, e um norte-americano, 575 (em Phoenix, no Arizona, o volume ultrapassa 1 mil). No Reino Unido, um cidadão médio usa mais de 50 litros de água por dia, ou seja, mais de dez vezes o volume disponível para as pessoas que não têm acesso a uma fonte de água potável na maior parte da zona rural da África Sub-saariana. Um norte-americano usa mais água num banho de cinco minutos do que um morador de favela de um país em desenvolvimento usa num dia inteiro”, sublinha o relatório do PNUD.
Os especialistas falam, numa relação entre este cenário de privação e as metas estabelecidas nos chamados “Objectivos de Desenvolvimento do Milénio”, nomeadamente em matéria de recursos hídricos, saneamento básico e instalações sanitárias. Para conseguir que esses objectivos sejam cumpridos, como pretendido, até 2015, “assegurar preciso garantir o acesso a água a mais 900 milhões de pessoas e propiciar o saneamento a 1,3 mil milhões, o que explica uma descrença transformada quase em certeza, a de que essas metas não serão atingidas dentro do prazo se for mantida a tendência actual”. Estas projecções do RDH relativo a 2006 admitem que, a manter-se o ritmo actual, o compromisso seja atingido em 2016 (no que diz respeito à água) e apenas em 2022 (quanto ao saneamento). Mas mesmo que as metas sejam atingidas, em 2015 ainda haverá 800 milhões de pessoas sem acesso a água e 1,8 mil milhões sem saneamento.
Luís Filipe Malheiro (in "Jornal da Madeira", 24 de Dezembro 2007)
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