Moçambique só vale para apostas de longo prazo
Segundo os jornalistas André Macedo e Sílvia de Oliveira, do Diário Económico, "o desenvolvimento de Moçambique passa pelos grandes projectos como a Ponte sobre o Zambeze, a maior obra desde a independência do país, mas isso não chega. Um investimento - são 66 milhões de euros - que mobiliza investidores, cria emprego, dá um impulso à economia, mas não é suficiente para arrancar Moçambique do estado de pobreza onde falta quase tudo menos recursos naturais. O antigo ministro das Finanças moçambicano e ex-presidente do BCI Fomento deixou a sua ideia sobre o que seria do país daqui a 10 anos se se deixasse o crescimento entregue apenas aos mega-projectos. “As empresas crescerão, os bancos também, mas as pessoas não ficarão necessariamente mais ricas”, alertou Abdul Magid Osman durante o Observatório que o Diário Económico realizou em Maputo, na terça-feira, e que serviu para juntar empresários e gestores de Portugal e de Moçambique num debate sobre os investimentos e as relações comerciais entre os dois países. O verdadeiro projecto que falta também a Moçambique é o da criação de uma rede sólida de pequenas e médias empresas. Só assim será possível “tornar mais abrangente e distribuir a riqueza que se for criando”, sublinhou Prakash Ratilal, antigo governador do Banco de Moçambique e actual presidente do Moza Banco, um investimento do empresário macaense Stanley Ho. Na sua opinião, “as grandes empresas deveriam arrastar as PME porque, se não, Moçambique terá apenas picos de desenvolvimento”. E isso, sublinha, não conseguirá acabar de vez com os tumultos sociais como o que se viveu no início de Março, com a guerra dos “chapas” que acabaram por obrigar o Governo moçambicano a recuar no aumento do preço dos combustíveis. Segundo estes economistas moçambicanos, Portugal tem um bom sistema de PME, que deveria ser exportado para Moçambique. “É aqui que Portugal e a União Europeia podem colaborar, ajudar à criação de uma classe média moçambicana. Os empresários portugueses deveriam aproximar-se, o país deve ser olhado como uma espécie de plataforma para um mercado de 200 milhões de pessoas que vivem no espaço da Southern African Development Community (SADC)”, frisou Prakash Ratilal. Uma ideia enfatizada por outro empresário moçambicano. Joaquim de Carvalho, presidente da TDM – Telecomunicações de Moçambique, para quem “os grandes projectos bastam-se a si próprios, andam sozinhos”. Segundo defende, Moçambique irá continuar a crescer – “é um país de oportunidades”, como bem referiu Abdool Vakil, presidente do Banco Efisa -, mas, sobretudo, à custa dos grandes projectos, e “isso preocupa, preocupa verificar que actualmente a produtividade no sector agrícola, sustentáculo da economia, se mantém praticamente aos níveis de 1975”.
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