ZIMBABWE EM RUÍNAS DESAFIA MUGABE
A jornalista Patrícia Viegas do DN de Lisboa, escreveu um excelente artigo no dia das eleieções no Zimbabwe: "Esta é a primeira vez na vida que Ruramai Dzvangwa não vota em Robert Mugabe. "Vivemos como camponeses e somos obrigados a procurar água em buracos. Já não esperamos nada de Mugabe", disse à AFP esta habitante de Tafara, um populoso bairro de Harare onde as epidemias têm presença frequente. À semelhança de Ruramai, muitos são os zimbabweanos desiludidos com o regime de Robert Mugabe, o antigo herói da guerra da independência que actualmente lidera um país em ruínas. Quatro milhões de habitantes fugiram do país e não têm direito de voto. E os que ficaram exigem mudanças. "Esta será a primeira vez que ele não terá uma vitória incontestada", prevê, a partir de Harare, Bill Saidi, um comentador, citado pela mesma agência. A base de apoio de Mugabe e da sua União Nacional Africana do Zimbabwe - Frente Patriótica, Zanu-PF, está essencialmente nas zonas rurais. Mas mesmo aí, diz Eldred Masunungure, da Universidade do Zimbabwe, o descontentamento é generalizado devido à actual situação económica. Antigo celeiro da África Austral, de onde Mugabe expulsou mais de quatro mil fazendeiros brancos em 2000, o Zimbabwe tem 100.000% de inflação. "A economia está a tal ponto destruída que vamos ter de recomeçar do zero", declarou Morgan Tsvangirai, líder do Movimento para a Mudança Democrática (MDC, principal formação opositora), avaliando em dez mil milhões de dólares a ajuda necessária à recuperação do país. Simba Makoni, dissidente do partido Zanu-PF, diz que serão precisos pelo menos dez anos para o país renascer. Estes dois homens são os principais rivais de Mugabe nestas eleições presidenciais, legislativas e municipais. Têm maior apoio nas zonas urbanas e entre as classes média e alta. Tsvangirai tem sido o principal rosto da resistência a Mugabe. Mas um MDC dividido não o ajuda. Makoni demitiu-se de ministro das Finanças em 2002 e teria o apoio secreto de vários membros do Zanu-PF. Mas, segundo afirmou o Chefe do Estado, que se candidata agora a um sexto mandato, nenhum deles chegará ao poder: os analistas dizem mesmo que Mugabe pode não vencer as eleições, mas poderá roubá-las. A oposição denunciou que existem 90 mil eleitores fantasma. O líder zimbabweano nega a acusação e prefere denunciar uma conspiração ocidental em marcha, liderada pelo Reino Unido, para o derrubar. Algo que o levou a convidar apenas observadores africanos e de países como o Irão, a Rússia, a China e a Venezuela".
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