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sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

ARTIGO: Ladainha patética

Ficamos a saber neste final de 2006 que o PIB per capita em Portugal se situa 30% abaixo da média da União Europeia a 25 Estados-membros, cujo produto interno bruto naquele período, se situou entre os 48 e os 251% da média europeia. Portugal foi um dos poucos países da União Europeia onde o nível de vida se deteriorou consecutivamente nos últimos três anos. Os dados divulgados pelo Eurostat confirmam que o PIB per capita do Luxemburgo, “ajustado às paridades de poder de compra, duplicou a média da Europa a 25 em 2005, enquanto a Irlanda se situou 40% acima da média”. Sabe-se, de acordo com o estudo, que a Holanda, Áustria, Dinamarca, Bélgica, Reino Unido e Suécia apresentaram valores situados entre os 15 e os 25% acima da média da União enquanto a Finlândia, a Alemanha e a França se ficaram pelos 10% acima daquela média — a Itália e a Espanha estão dentro da média europeia, enquanto que abaixo dela figuram o Chipre, com 10%, seguido da Grécia e pela Eslovénia (20%). A Hungria, a Estónia e a Eslováquia contaram com um PIB per capita 40% abaixo da média europeia enquanto que na Lituânia, na Polónia e na Letónia o PIB per capita ficou por cerca de metade da referida média europeia de referência. Para quem passa o dia — como os portugueses — a ter que aturar ou a ouvir o primeiro-ministro e o ministro das finanças, num coro muito bem afinado, falar de recuperação económica e de que “estamos no caminho certo”, transbordando optimismo por excesso, estes valores, bem como o assunto que abaixo referirei, desmontam uma cabala propagandística que, por envolver questões sérias, demasiado sérias, para as famílias e para as empresas, não deveria ser objecto de oportunismo saloio, ou ladainhas patéticas, por parte do governo socialista. Mas como cada país tem o governo que merece… Mas como se isso não bastasse, fiquei a saber por um jornal económico português que o crédito ao consumo de cobrança duvidosa cresceu mais de 57% no mês de Outubro, se comparado com o mesmo mês do ano anterior (2005) e que no total, já são quase 470 milhões de euros que estão em risco de não serem devolvidos às instituições financeiras. Ou seja, “entre Outubro de 2005 e o mesmo mês deste ano, verificou-se um aumento de 22% nos montantes solicitados às sociedades financeiras e à banca através dos créditos ao consumo, confirmados pelos dados do Boletim Estatístico do Banco de Portugal”. No final do mês de Outubro, o montante solicitado pelos portugueses ascendia aos 11,114 mil milhões de euros, correspondendo 4,2% deste montante a crédito ao consumo de cobrança duvidosa. Um dos responsáveis pela Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor em declarações a outro jornal lisboeta reconheceu que esta "é uma situação que, não só já se esperava, como tende a piorar nos próximos anos", sublinhando que "o aumento das cobranças duvidosas nos créditos ao consumo demonstra que cada vez mais portugueses estão presos na espiral de endividamento. Por vezes recorrem aos créditos imediatos para tapar as suas necessidades e pagar outros créditos". Basicamente, sustenta aquele especialista, a subida continuada das taxas de juro, decididas pelo Banco Central Europeu — política que já mereceu reparos de vários dirigentes europeus — é apontada como a principal causa do sobreendividamento familiar dos portugueses, associada ao que muitos classificam de uma “certa leviandade” na atribuição de empréstimos por parte do sector bancário: "Por vezes, recorrem aos créditos imediatos para tapar as suas necessidades e pagar outros créditos e com a época do Natal é muito provável que o endividamento das famílias cresça", alterando-se assim os valores divulgados recentemente mas reportados ainda a Outubro de 2006. Curiosamente, e segundo o Banco de Portugal, continuando a ter Outubro como referência, já quanto aos empréstimos bancários para fins de aquisição de habitação própria, o crédito de cobrança duvidosa recuou, tendo sido detectados 1,170 mil milhões de euros de créditos de cobrança duvidosa, menos 1,26% que os 1,185 mil milhões registados no mesmo mês do ano de 2005. Há que ter presente, lembrando o BP, que o montante pedido à banca aumentou quase 15%, passando dos 79,174 mil milhões de euros para os 90,976 mil milhões entre Outubro de 2005 e de 2006. Se conjugarmos estas duas realidades, incontornáveis, facilmente nos apercebemos que a alegada recuperação da confiança dos consumidores portugueses a par da tão propagandeada recuperação económica do País, se existem mesmo, ou estão apenas na cabeça de Sócrates e Teixeira dos Santos ou nalguns indicadores contraditórios entre si e, por isso mesmo, passíveis de terem utilização diversa, conforme os interesses e objectivos do “freguês”…

Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 29 Dez 2006

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