PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 21 de março de 2007

Artigo: ESTE PAÍS QUE SOMOS...

I. Noticiava há dias um jornal nacional que “cada português deve 12,8 mil euros ao estrangeiro”. A explicação é simples: “só no ano passado, cada português pagou ao estrangeiro 16,7 mil euros em juros e amortizações de empréstimos. Nesta conta, estão também incluídos os rendimentos - de salários e propriedades - transferidos para fora de fronteiras, mas a parte de leão refere-se aos juros do endividamento das famílias, com a compra de casas e empréstimos ao consumo”. Ou seja, a conjugação destes indicadores explicam porque motivo o défice externo saltou de 8,1% em 2005 para os 8,7% da riqueza gerada pelo País (PIB) em 2006, apesar do aumento das exportações. O jornal fala na existência de uma “ameaça que pode tornar Portugal o país mais pobre da Europa, já que estamos a consumir as poupanças dos estrangeiros e as taxas de juro estão cada vez mais altas”. Segundo os indicadores do INE, a dívida externa, em 2006 aumentou 12% em relação a 2005 (passando de 12,08 mil milhões de euros para 13,52 mil milhões de euros), duplicando em três anos. Cada português deve 12,8 mil euros ao estrangeiro. Quer isto dizer que estamos mais tesos do que pensávamos... A explicação técnica parece residir na apetência dos portugueses pelos empréstimos, obrigando desta forma a banca a contratar fundos no exterior, já que as poupanças internas - acumuladas em depósitos bancários - são insuficientes: o endividamento médio dos portugueses em empréstimos para a habitação e em consumo ultrapassa em 20% os rendimentos líquidos anuais. Ou seja, para as dívidas contratadas - e a serem pagas ao longo de vários anos - é necessário o equivalente a 120% do salário anual. O endividamento pode piorar, afectando a carteira doméstica e o défice do País. Isto porque entre Dezembro de 2005 e Março de 2006, as taxas de juro aumentaram de 2% para os 3,75%. Lindo!
II. Os madeirenses tem sido massacrados pelas “matracas” oposicionistas a propósito das concessões da exploração de vias de circulação terrestres - modelo que o Governo Regional dos Açores resolveu seguir na Região e que os governos socialistas no Continente adoptaram desde o tempo de Guterres – até porque as pessoas já se aperceberam que essa solução representa uma necessidade financeira dos governos, aliada ao facto de não me parecer que seja uma responsabilidade incontestável do Estado tratar da manutenção e da gestão de estradas. Mas para que se perceba como estamos a falar de algo que se tornou, com os anos, uma banalidade incontornável em Portugal, lembro que foi recentemente noticiado que o Estado “vai pagar um valor médio de 18 milhões de euros por ano à concessionária rodoviária que vier a explorar o Túnel do Marão, em Trás-os-Montes”, porquanto apesar de estarem previstas portagens nesta concessão rodoviária, a primeira lançada por este governo socialista, “o tráfego esperado nesta zona do Interior do País não deverá ser suficiente para assegurar a viabilidade económica da via que vai ligar a A4 e o IP4 entre Amarante e Vila Real. Com uma concessão para 30 anos, o financiamento da exploração por parte do Estado a esta nova concessão poderá atingir, no final do prazo, 540 milhões de euros, a preços correntes de 2006. A construção desta via, com uma extensão de cerca de 30 quilómetros, que inclui o maior túnel rodoviário do País, vai custar um máximo de 375 milhões de euros. O primeiro troço vai abrir dois anos após o contrato de concessão. A totalidade da via estará concluída quatro anos depois. O Túnel do Marão fará parte da futura auto-estrada entre Amarante e Bragança, cuja segunda fase será construída e financiada em regime Scut (sem custos para o utilizador)”.

III. O semanário Expresso dava conta, numa das suas últimas edições, de uma realidade cada vez mais preocupante no nosso País: “Nos serviços hospitalares aumenta o número de crianças, sobretudo bebés, que aguardam alta social. Já estão bem do ponto de vista clínico, mas como os pais biológicos carecem de condições para os receber têm de aguardar por uma instituição ou família de acolhimento. Os números globais à escala nacional não estão apurados, mas em algumas unidades surgem cinco novos casos por mês. Esta realidade deve-se ao acréscimo de situações sociais graves, devidas ao desemprego, à imigração, à pobreza ou à toxicodependência. Penso que não é uma surpresa para ninguém, mas é este o Portugal que somos: “Os menores com doenças crónicas ou deficiências profundas são os principais alvos de abandono familiar. Filhos de famílias desestruturadas ou com graves carências económicas, tornam-se residentes involuntários das enfermarias, a única casa que conhecem durante muitos e longos meses. Num hospital do Porto, uma adolescente com doença degenerativa vive há um ano e meio longe da família. Sem condições de a ter em casa, os pais foram espaçando as visitas até deixarem de aparecer. Além da menina de 12 anos, outro rapaz da mesma idade teve o mesmo destino. Sem família próxima e problemas de saúde mental, há mais de um ano que o hospital busca em vão uma instituição que o acolha. São situações muito pesadas para as famílias. Embora o número de crianças internadas por maus tratos físicos tenha vindo a estagnar, regista-se uma flagrante subida de casos de menores vítimas de negligência alimentar, cuidados de saúde e higiene”.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 21 de Março 2007

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