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sexta-feira, 16 de março de 2007

Artigo: Eleições regionais (IX)

Eu achei graça ouvir Jacinto Serrão apelar há dias ao eleitorado madeirense para que tivesse a consciência que deve reservar o julgamento sobre o governo de Sócrates apenas para 2009, votando em 6 de Maio apenas em função da governação regional. Depois, avançou com o habitual carrossel das asneiradas, desde o crescimento da economia nacional, ao aumento do emprego, etc, quando qualquer pessoa sabe que o crescimento anunciado pelo INE fica aquém das expectativas e que o desemprego continua estabilizado negativamente. Obviamente que não podia faltar aquela “santa” preocupação, própria de uma veia consular que só lhe fica bem, de que um governo socialista governando bem Portugal governa bem a Madeira. Obviamente que sim, desde que governe bem, que tenha ética, que seja sério, que não se transforme num covil de oportunistas, hipócritas que ainda por cima contam com a conivência cúmplice de quem deveria ter outra postura, mesmo que não conflituosa, e que a prazo, vai sofrer os efeitos desta colagem excessiva a pessoas e partidos que sempre estiveram contra ele e que nunca, repito, nunca o terão como candidato. Só uma mente consular e tacanha, ou uma atitude mental de permanente submissão, sem qualquer dignidade, como a revelada por Serrão, poderia fazer este tipo de discurso: nessa perspectiva, do governo socialista governar bem Portugal e também governar bem a Madeira, então toda a desgraça que os socialistas dizem existir na Madeira também é por culpa dos socialistas de Lisboa? Se é um facto que eles têm governado mal o País, pelo menos de forma arbitrária e conflituosa, quer isso dizer também que foram eles que governaram mal a Madeira?
Jacinto Serrão das duas uma: ou acha que o eleitorado madeirense não passa de uma cambada de analfabetos, que engolem tudo, até o oportunismo saloio e a mediocridade, ou toma-o por tonto e ou é hipócrita? Eu penso que Serrão e seus pares continuam a não ser capazes de ”perdoar” ao eleitorado madeirenses não propriamente a esperada “porrada” sofrida nas regionais de Outubro de 2004, mas essencialmente as duas malha, quer nas autárquicas de 2005, quer sobretudo nas presidenciais de 2006 onde até Manuel Alegre teve mais votos que Soares, o candidato que Serrão apoiou. E, pior do que tudo isso, foram socialistas que andaram a fazer a campanha de Alegre, os mesmos que agora parecem estar a reunir-se à volta do projecto do Partido da Terra (não são permitidas candidaturas de cidadãos às eleições regionais, o que é lamentável e absolutamente arbitrário numa democracia que se pretende exemplar), o que explica algum nervosismo, particularmente à medida em que se começam a conhecer os nomes envolvidos no projecto do PT que, não sendo as vedetas que Serrão julga ter, penso que poderão “morder”, e bem, o eleitorado socialista nalgumas zonas da Madeira. A 6 de Maio falamos...
Será que alguém minimamente inteligente - e os que atacam o eleitorado madeirense fazem-no, apenas porque ele não vota nos partidos desses mentecaptos - consegue dissociar a realidade politica regional e tudo o que esteve subjacente às eleições regionais de 6 de Maio, da realidade política nacional, da desgovernação socialista de Sócrates, que abriu várias frentes de batalha ao mesmo tempo sem estar preparado para enfrentar o retorno social e político, resultante da implementação dessas medidas polémicas em catadupa?
Quando um profissional da justiça, quando um professor que é sacrificado por “reformas” ou legislação inventada de atacado, tudo em nome do primado economicista, quando outros profissionais, mais ou menos lesados por decisões injustas e demagógicas, por exemplo, no âmbito da segurança social ou particularmente dos sistemas de saúde, quando um profissional de saúde, um médico, transformados nos culpados do mau funcionamento de um serviço nacional de saúde caduco, quando um funcionários público, os eternos maus exemplos e a causa dos males do Estado etc, votarem a 6 de Maio podem eles fazê-lo sem ignorar o que se passa a nível nacional, sem esquecerem a governação socialista? Como é que eles podem passar a esponja sobre um governo da República que no quadro das suas tutelas, tem tomado medidas polémicas, algumas precipitadas, quase sempre geradoras de mau estar e de manifestações políticas e sociais por todo o lado?
A ser assim, também o julgamento do governo regional seria só em 2008, termo do actual mandato. Porque motivo andou o governo socialista numa postura persecutória, inventando medidas que visaram, propositadamente, dificultar a acção do governo regional e de Alberto João Jardim, com a intenção deliberada de impedir a materialização do seu programa, tudo para que Alberto João Jardim abandonasse em 2008 o combate politico que os socialistas não queriam travar contra ele? Então se para julgar Sócrates e a sua governação os Madeirenses terão que ter memória curta em 6 de Maio e esperar mais dois anos para darem a cacetada, porque motivo é que, para julgar João Jardim e o Governo Regional, os socialistas andaram estes últimos dois anos promovendo autênticas patifarias, no plano ético, ou boicotes, no plano político, contando com a pressão e a total cumplicidade do PS local de Serrão? Como é que se pode dissociar a demissão de João Jardim, especificamente as causas dessa demissão, da situação política nacional, da falta de diálogo, da cegueira de Sócrates que não esconde a sua má disposição sempre que ouve falar na Madeira?
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 16 de Março 2007

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