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segunda-feira, 30 de julho de 2007

Artigo: A HORA DE GOUVEIA

O Partido Socialista terá Congresso Regional no próximo fim-de-semana. João Carlos Gouveia, o polémico deputado de S. Vicente, que protagonizou diversas situações que ganharam visibilidade na comunicação social – uma delas foi a de ter sido o primeiro deputado regional a quem foi levantada a imunidade parlamentar para que pudesse ser julgado num processo de difamação movido pelo próprio presidente do Governo Regional e do qual resultou a condenação do socialista – será eleito líder dos socialistas. À partida, dirão os observadores menos atentos, será uma surpresa esta eleição. E até admito que seja. Mas para os mais atentos à política regional, particularmente ao maior partido da oposição regional, esta eleição de Gouveia representa a concretização de um objectivo político, depois de três derrotas anteriores. Obviamente que eu sei – e também sei que Gouveia tem a consciência disso – que esta sua eleição ocorre numa conjuntura política regional, sobretudo uma conjuntura e partidária marcada pela estrondosa derrota do PS nas regionais de 6 de Maio e fica a dever-se ao vazio de candidatos – todos os que anunciaram que o pretendiam fazer, uns mais empenhados que outros, outros a falar mais a sério que outros, revelaram-se um “flop”.
A verdade é que em política as coisas funcionam assim mesmo, e alguém tinha que ser eleito líder. Obviamente que Gouveia não vai ficar (?) muito tempo na liderança dos socialistas, na medida em que o PS local está à espera de poder escolher o seu verdadeiro Congresso regional no qual será eleito um novo líder (que eu continuo a pensar será Bernardo Trindade e não mais ninguém) que disputará as regionais de 2011 contra um PSD que será encabeçado então por um novo líder que não Alberto João Jardim. Isso vai deixar de inibir, como até hoje tem acontecido, os socialistas locais de deixarem de jogar com “reservas”, embora eles continuem a entender que ainda não chegou o tempo para essa mudança. Há uma catarse a ser feita, porventura haverá, quem sabe, um ajuste de contas interno a ser formalizado (Jacinto Serrão ainda não teve oportunidade de explicar ao partido o que passou e falhou na campanha das regionais de 6 de Maio, quem lhe roeu a corda, porque foram tomadas determinadas opções políticas, de discurso e estratégicas, porque insistiram os socialistas numa posição seguidista face a Lisboa que acabou por os penalizar, etc. Só Serrão poderá dar essas respostas, se é que as pretende dar ao Congresso socialista.
Em torno desta candidatura de João Carlos Gouveia permanece em aberto a “acusação” de que se trata de uma candidatura do aparelho socialista, que desta forma pretende ganhar tempo para poder depois preparar-se e preparar o tal Congresso Regional da verdade. Nas hostes do PSD da Madeira há a convicção de que a eleição de João Carlos Gouveia vai atirar ainda mais o PS para o “fundo” retirando-lhe credibilidade junto das pessoas. Eu penso que politicamente essa perspectiva pode ser considerada, mas também existem outras. Gouveia tem mantido um discurso virado para dentro do PS, de mobilização das bases hoje desmotivadas (um líder que chega ao Congresso eleito num acto que registou uma afluência de 600 pessoas num universo que dizem ser de 3.000 filiados e de cerca de 20 mil eleitores, certamente que sente o peso negativo daí decorrente…). Não cativou ainda a comunicação social – percebe-se isso – mas a verdade é que, conhecendo, como conheço, João Carlos Gouveia (muito antes das lides políticas e partidárias mais intensas), admito que ele possa muito bem fazer mais “estragos” no interior do partido, nomeadamente neutralizar os pequenos grupos ali existentes, o que o coloca sob a “mira” fiscalizadora do grupo que não interessa que o legado de Gouveia seja muito penalizador para o partido.
Depois do Congresso Gouveia tem várias coisas a decidir: Bernardo Martins continuará em Outubro a ser o candidato do PS à Vice-Presidência da Assembleia Legislativa? Vítor Freitas, que deixa de ser Vice do partido, vai continuar a ser o líder parlamentar dos socialistas? João Carlos Gouveia vai ficar fora de tudo? Como será ele parte e protagonista do debate político no qual ele terá que se envolver, até para ganhar espaço e ser conhecido, se optar por ficar fora de tudo? Não pode! Vítor Freitas nem foi eleito deputado (só chegou ao Parlamento em substituição de um deputado socialista eu suspendeu o mandato), aliás, o caricato desta situação vai ao ponto de verificarmos que o próprio João Carlos Gouveia é deputado apenas porque substituiu alguém. Se em 2009, com as eleições legislativas nacionais, Trindade e Serrão regressarem ao parlamento regional Vítor Freitas e Jaime Leandro pura simplesmente abandonam o Parlamento! O homem-forte da nova estrutura dirigente de Gouveia, será o actual Secretário-Geral, Jaime Leandro, que se manterá nessas funções e verá reforçada sua influência partidária (?) com a extinção estatutária das vice-presidências. O próprio Gouveia só foi deputado porque Fino renunciou ao mandato, mas nesse aspecto, Gouveia parece ter a sua posição garantida porque estamos perante uma renúncia ao mandato e não uma substituição temporária. Nos corredores parlamentares corre – embora isso valha o que vale – que Gouveia avançará em Outubro para a liderança do grupo parlamentar, mantendo Jaime Leandro como seu número dois e optará por André Escórcio para a Vice-Presidência da Assembleia, compensando Bernardo Martins, provavelmente este, ou Vítor Freitas (de quem Gouveia precisa imediatamente de se descolar para não continuar a ser acusado de ser uma “fabricação” do ainda líder parlamentar) com a presidência da comissão parlamentar que caberá aos socialistas.
Enfim, a hora é de Gouveia, inquestionavelmente. Mas continua a não ser a hora do PS, pelo contrário.
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 25 de Julho 2007

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