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quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Artigo: NOVIDADE?

João Carlos Gouveia ascendeu à liderança do PS da Madeira, prometendo a diferença e a mudança. Pelo menos foi essa a ideia que adquiri. Diferença, cortando com o passado do PS que apenas proporcionou a este partido uma sucessão de derrotas com uma sucessão de líderes perdedores, mudança porque percebeu (ou pelo menos disse que tinha percebido) que o PS local precisava de um discurso político novo e diferente, de uma outra atitude perante os problemas que interessam à Madeira e aos madeirenses e que não podem ser ignorados ou secundarizados em nome de solidariedades políticas e partidárias que valem o que valem, isto independentemente de quem estiver no poder em Lisboa.
Nestes primeiros dias depois da sua eleição, fiquei com a sensação que Gouveia, para além de ter mantido praticamente toda a estrutura anterior do partido – e que foi a responsável pela maioria derrota política e eleitoral dos socialistas madeirenses – prova (e confirma) que é uma “fabricação, que do PS que perdeu em 6 de Maio passado, e que enquanto estiver transitoriamente na liderança dos socialistas, estará sempre “amarrado de curto”. Neste quadro, espanta-me esta disponibilidade esquisita (ou talvez não se, por exemplo, especulássemos sobre o advento e sobre eleições futuras…) de Jacinto Serrão que, depois de ter trocado a Assembleia Legislativa pela Assembleia da República, para ficar desta forma distante do debate político regional, aceitou envolver-se com a liderança que lhe sucedeu, como se aos socialistas não existissem alternativas. A não ser que Serrão e os seus colaboradores estejam apostados em suportar Gouveia, custe o que custar, para blindarem o processo eleitoral de 2009 e de 2011 e impedirem a solução que está neste momento a ser calmamente pensada e preparada para o PS local, e que passa por Bernardo Trindade. Uma solução que porventura não agradaria a Serrão, a Vítor Freitas e a outros “serranistas” que Gouveia manteve simplesmente porque não tem alternativas, dadas as muitas recusas e indisponibilidades.
Por outro lado acho absurdo, desajustado e perfeitamente desmotivador (para os socialistas) o discurso que Gouveia utiliza, no qual parece-me confundir questões pessoais com o que realmente interessa ao PS local e aos seus militantes e eleitores. Trazer para a discussão política regional, a Flama, o separatismo, os terroristas (como se em Portugal andássemos a perder hoje tempo a discutir as FP-25 de Abril, os terroristas da organização de extrema-esquerda, a figura de Otelo Saraiva de Carvalho, o MPLD, os terroristas deste movimento de extrema-direita, a figura de António de Spínola, os atentados de uns e outros, etc.), é um absurdo. Assim como seria inadequado o PSD, por exemplo, vir afirmar que o tal, ”incêndio” no carro de Gouveia, numas eleições anteriores, foi uma mera fabricação com objectivos políticos preestabelecidos, o da vitimização visando a obtenção de votos. Desconfio que Gouveia está a cair no erro de se tornar desinteressante, de não trazer nada de novo ao PS e de não ser capaz de mobilizar este partido. A opção pela vitimização não vai dar frutos, porque ninguém a leva a sério. Mesmo assim Gouveia insiste esquecendo (?) que depois das regionais de 2004, nas quais foi eleito deputado regional por em S. Vicente, sofreu duas copiosas derrotas, quer nas autárquicas de 2005 onde foi candidato, quer nas regionais antecipadas de 2007 onde a votação do PS no seu concelho foi patética. Mesmo assim, Gouveia, que nem conseguiu ser eleito deputado regional este ano (limitou-se a chegar a Assembleia Legislativa depois da suspensão de mandato por parte de outros eleitos), parece que não percebeu que precisa de se autonomizar, de ter uma identidade própria, que não precisa de se ridicularizar, de dar a ideia que parou no tempo, no passado, que insiste na vitimização pessoal, quando não é isso que importa ao partido que lidera, que precisa de combater a ideia que sobre ele vai sendo construída de que precisa de “trelas” que ainda por cima estão nas mãos dos anteriores dirigentes socialistas, responsáveis (e causadores) pela esmagadora derrotas nas regionais na antecipadas deste ano, facto que por não ser esquecido pelos eleitores e simpatizantes socialistas, certamente os estará a confundir. Porque a mudança e a diferença por ele prometida, afinal não passa, pelo menos até hoje, de “mudança” e “diferença”.
Neste quadro, julgo que será hilariante o facto de Gouveia ter sequer admitido pedir uma audiência com o presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, acusado por ele de promover o "terrorismo de Estado", de ser “separatista”, “flamista” e não sei que mais. Acho que Alberto João Jardim, caso aceitasse essa audiência, estaria a ser incongruente e a mostrar uma veia masoquista que francamente não lhe conheço. Eu percebo a intenção de Gouveia subjacente a esta encenação: apesar de saber que não seria recebido por Jardim, mesmo assim fez chegar a notícia aos meios de comunicação social (porque é na comunicação que Gouveia aposta e pensa que vai ganhar protagonismo político) para que, depois (lá está…) se apresente no papel da “vítima” que não é recebida por Jardim. Este comportamento, que aliás revela uma perigosa inconstância a uma liderança que se exige coerente, é facilmente desmontado e certamente que causará junto da opinião pública a reacção que eu, por respeito, nem me atrevo de catalogar.
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 14 de Agosto 2007

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