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Opinião e coisas do nosso mundo...

terça-feira, 17 de junho de 2008

Opinião: UM PAÍS CONFUSO, UMA EUROPA CONFUSA

No dia em que ficamos a saber, pelo INE, que “em Maio de 2008, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou uma taxa de variação homóloga de 2,8%, três décimas de ponto percentual (p.p.) superior ao valor observado em Abril de 2008 (a variação mensal situou-se em 0,4% e a variação média nos últimos doze meses manteve-se em 2,6%) e que a taxa de variação média dos últimos doze meses aumentou para 2,6%, 0,1 p.p. superior ao valor observado no mês anterior”, ficamos também a saber que o petróleo atingiu ontem novos recordes, quase 140 dólares por barril: “O preço do barril de petróleo negociado em Nova Iorque atingiu um novo recorde absoluto de 139,89 dólares (90,41 euros), reagindo à suspensão parcial da produção do mar do Norte. Este agravamento do preço do crude apanhou desprevenido os analistas, que esperavam um movimento exactamente contrário do petróleo, na sequência do anúncio do aumento da produção de um importante exportador mundial, a Arábia Saudita. O movimento ascendente está associado ao comportamento dos investidores que receberam de forma nervosa a suspensão da produção do grupo petrolífero norueguês StatoilHydro”.
A conjugação destes dois factos – por um lado a inflação crescente (que só ajuda o BCE e o seu Presidente, o francês Trichet, nos argumentos usados nos últimas semanas para um alegado aumento das taxas de juro ainda durante o verão) e, por outro, a instabilidade no mercado do petróleo, com todas as consequências daí resultantes para as economias dos países e os orçamentos das famílias e empresas – confirmam que vivemos um mundo absurdamente “louco” onde tudo pode acontecer. Aliás, espanta-me que as prioridades de uma Europa - cada vez mais mergulhada na mediocridade e na incompetência, atributos aos quais nem a Comissão Europeia nem o seu Presidente, Barroso, escapam (com este cada vez mais envolvido naquilo que parece ser um escândalo em preparação, se preferirem, uma patifaria que deveria merecer uma firme repulsa por parte de quem pensa que a democracia ainda é um valor a ser rigorosamente observado e respeitado por todos) – sejam a forma como “entalar” a Irlanda e os irlandeses, que votaram em liberdade e com convicção (que Bruxelas promova o referendo nos outros países para verem o que o acontece em vez de se refugiarem traiçoeiramente nas ratificações parlamentares que mais não são do que imposições ao povo de documentos e decisões que eles desconhecem), e não resolver os graves problemas sociais existentes, e que têm a ver como crescimento do desemprego, com a falta de recursos financeiros para a formalização de apoios, com o aumento das assimetrias entre países, com a deslocalização de empresas, com a miséria, a fome, a pobreza, a exclusão social, com o fenómeno da emigração, etc. Realmente é impressionante que a um ano de eleições europeias os iluminados eurocratas de Bruxelas – com raras excepções – queiram impor-nos à força um Tratado que dizem ser a “salvação” para a Europa e para os europeus, o qual não divulgam junto dos cidadãos antes os querem manter distantes do processo decisório.
Enquanto isso, fiquei a conhecer, ontem, os resultados de uma sondagem, segundo a qual “José Sócrates é o líder partidário em quem os portugueses mais confiam para desempenhar o cargo de primeiro-ministro, apesar da contestação social que grassa no País. Isto de acordo uma sondagem CM-Aximage realizada entre os dias 7 e 9 do corrente, que coincidem com o fim da paralisação dos pescadores e o início do bloqueio dos camionistas. À pergunta "em qual dos dois líderes tem mais confiança para primeiro--ministro?", 37,9% respondeu José Sócrates e 33,3% Manuela Ferreira Leite. A diferença entre o primeiro-ministro e a líder do PSD (4,6 pontos percentuais) é praticamente a mesma que separa o PS do PSD na intenção de voto legislativo: 35,2% contra 30,3%. No último mês, o PS perdeu 1,3 pontos, os mesmos que o PSD ganhou no mesmo período. Os partidos à esquerda pararam de crescer (o BE ficou nos 7,8% e a CDU desceu de 8,2 para 7,8%) e, à direita, o CDS continua nos 3,7%. Pode isto significar que a subida do PSD desde Abril (mais 4% desde a saída de Menezes da liderança) se deve à transferência de intenção de voto do eleitorado do centro-direita. A sondagem revela ainda que as expectativas no Governo atingiram o ponto mais baixo dos últimos 12 meses: 58,2% dos inquiridos na sondagem responderam que Sócrates está a governar pior do que esperavam. Em relação à avaliação dos líderes, José Sócrates continua na última posição, com 7,7 valores, numa escala de 0 a 20. Ferreira Leite entrou directamente para o terceiro lugar (11), logo após Francisco Louçã (11,7) e Jerónimo de Sousa (11,3). Paulo Portas subiu para 9,3, mas continuou no penúltimo lugar”.
Ressalvando que estes resultados, tal como recordam os autores, não comportam ainda um eventual impacto negativo na imagem do Governo, do PS ou de Sócrates, causada pela crise resultante da paralização no sector dos transportes – embora esse impacto seja, regra geral, inconstante, efémero, e acaba por não influenciar, de uma forma permanente, as opções evidenciadas pelas pessoas - sabemos que em Portugal – e esta nota preliminar deve ser aqui referenciada – há hábito d desvalorizar as sondagens quando os resultados não correspondem ao que queremos, valorizando-as, até por vezes hipervalorizando-as, quando, pelo contrário, os resultados correspondem ou ultrapassam as nossas expectativas. Para mim, as sondagens são sempre sondagens, ou seja, referências que num determinado momento, e numa conjuntura em concreto, que não pode ser dissociada de outras componentes que, de uma forma ou outra, prejudicam ou favorecem esse trabalho, devem ser olhadas como instrumentos de apoio, reveladores de uma determinada tendência, mas que nada têm a ver, depois, com o universo eleitoral do país. Independentemente disso, registo a capacidade de resistência de Sócrates, maior que a revelada pelo PS e a subida do PSD, natural num partido com um novo líder, associada a alguns sinais que apontam para dificuldades acrescidas, em termos de trabalho político futuro, à espera de Manuela Ferreira Leite que, mesmo assim, conta com a confirmação (mais de 50%) de que será melhor líder par a o PSD do que foi Filipe Menezes.
Uma nota final: li num jornal nacional que o ministro das Finanças congelou o plano de renovação global da frota automóvel do Ministério da Defesa, “mas autorizou a substituição dos actuais carros de serviço do ministro da Defesa, e do secretário de Estado da Defesa, viaturas, de marca Mercedes, destinadas a substituir o Mercedes 220 do ministro e o BMW 520 do secretário de Estado e custam quase 140 mil euros”…

Luís Filipe Malheiro (in Jornal da Madeira, 17 de Junho de 2008)

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