Artigo: 2007
Há uma coisa que todos temos que perceber, por muito que sejam evidentes algumas resistências: 2007 será um ano politicamente difícil para o PSD da Madeira e financeiramente complicadamente diferente para a Região. Tudo porque, pela primeira vez, há que reconhecê-lo, a Região deparou-se com um adversário político no poder em Lisboa que confunde, de uma forma descaradamente assumida, e sem qualquer complexo, que a política, ou melhor dizendo, as diferenças políticas, também dever ser instrumentos geradores de conflitualidades institucionais e até regionais e, pior do que isso, devem constituir o pretexto desejado para decisões claramente marcadas por sentimentos de révanche política e pessoal. Penso, se a memória não me atraiçoa, que até hoje tivemos momentos nos quais as relações entre a Região e o Estado foram extraordinariamente complicadas, em que chegou a nem haver diálogo institucional, mas depois tudo se ia compondo, com cedências aqui ou acolá, na perspectiva incontornável de que mais do que as guerras políticas ou partidárias — que obviamente terão sempre o seu lugar — está em causa a defesa e salvaguarda dos interesses das regiões e das pessoas. Neste caso concreto, e com o actual governo socialista, há uma evidente dependência de tudo o que é pensado e decidido, no que à Madeira diz respeito, relativamente às regionais de 2008, e aos objectivos políticos e eleitorais dos socialistas para esse acto eleitoral, fobia frenética que tem muito a ver, em grande medida, com uma nova lei eleitoral implica desafios novos, sempre sem temores porque a consciência tranquila é substancialmente superior à demagogia de quem nada de útil fez, pelo menos até hoje. Não sou, nunca fui, dos que se perdem com baboseiradas ou futilidades, contornando o “bilhar grande” várias vezes só para fugir ao âmago da questão, ao essencial. E o âmago da questão, em meu entender, é o de que os socialistas acreditam que, com a nova lei eleitoral, mais do que retirar a vitória eleitoral do PSD, em termos quantitativos, será pensável e admissível que seja retirada aos social-democratas a maioria parlamentar absoluta, facto que, pelo menos até Outubro de 2008, não nos iludamos, vai determinar o posicionamento do governo socialista da República e do partido socialista. Ainda por cima numa conjuntura partidária e política de evidente estabilidade parlamentar, já que a maioria absoluta confortável que o PS possui na Assembleia da República, só por causa de uma hecatombe política qualquer ou de uma crise social e económica nacional gravíssima, poderia ser esquecida no quadro de uma decisão presidencial mais radical. Caso contrário não me parece que existam condições até porque o governo socialista de Sócrates já mostrou que sabe gerir a questão da comunicação e da propaganda. Por isso, e fazendo é no que alguns meios de comunicação social têm noticiado — até porque sei que alguns deles terão fontes credíveis que sustentam a informação publicada — não me parece admissível, seja em que circunstâncias for, que uma alegada orientação global, compreensível e lógica neste enquadramento político, financeiro e orçamental, de contenção, de repensar estruturas governativas no que à sua amplitude e eficácia diz respeito, entre outros factores, sejam sistematicamente minimizadas ou desvalorizadas na sua inevitabilidade, porquanto isso será questionar quem aparentemente decidiu que assim fosse feito, e muito bem. Sacudir a “água do capote”, insistindo, por comodismo balofo, na teoria da treta de que o mal não está “em todas as aldeias” mas apenas na casa do vizinho, só acentua a futilidade de certos comportamentos e adia para um futuro extraordinariamente próximo decisões que inevitavelmente terão que ser tomadas. Oxalá que não chegássemos a este ponto, oxalá que estivesse enganado, mas os milhões de euros que deixamos de receber por termos deixado de integrar o lote das regiões “objectivo 1”, mais os milhões que ao abrigo da lei das finanças regionais, nas suas diversas componentes, deixarão de ser transferidos para a Região, devido às pulhices partidárias em Lisboa, a par de dificuldades adicionais, mas complementares na perspectiva de que há uma cabala, se quiserem, uma orientação global de deliberada obstaculização da acção do governo madeirense — como foi o caso da recusa na atribuição do aval do Estado, fundamental para que a Madeira formalize a contracção de um empréstimo junto do Banco Europeu de Investimentos — tudo isso, encarado no seu conjunto, mostra que não estamos a enfrentar futilidades e que a questão porventura deve merecer mais atenção do que a que alguns julgam a adequada e que o Governo Regional tem de controlar, de facto e cada vez mais, todas as questões financeiras e orçamentais. Eu insisto no que já uma vez aqui escrevi: é importante que, de uma vez por todas, se desmistifique junto da opinião pública a ideia de que um certo desespero financeiro do executivo possa conduzi-lo a uma situação de vulnerabilidade perante o assalto e as pressões externas, por parte de estruturas organizadas e que normalmente são especialistas em “soluções” imediatas, geradores dos tais milhões necessários naquele momento, mas que, depois, acabam por ter custos penosos no futuro, e nem sequer muito longínquo. Eu sei que estas questões se comentam, cada vez mais, nos bastidores da política regional, à boca pequena, porque ninguém as quer aflorar, receando não percebo bem o quê. Se a realidade é esta — se tem sido esta a ideia que aos poucos andam a passar para a opinião pública, se esta será uma das bandeiras principais da estratégia da oposição — então nada melhor que combatê-la a tempo, para que não sejamos surpreendidos quando já não houver remédio. Felizmente eu tenho destas coisas tontas, mas que gosto imenso, de aparentemente dizer “banalidades” ou não dizer o que alguns querem, principalmente os tais “milagreiros” de pança cheia que por aí andam e arrotar ameaçadores. Mas tenho a vantagem de poder publicar essas “tontices” todas e de as poder consultar sempre que entender, na certeza de que dificilmente serei surpreendido pelos factos.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira 8 de Janeiro 2007
Jornal da Madeira 8 de Janeiro 2007
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