Reino Unido caminha para sociedade de vigilância
Assim que se entra é-se filmado duas vezes: do lado de fora e do lado de dentro. É-se vigiado enquanto se espera pelo elevador. E, dentro do elevador, se for sozinho não ceda à tentação de uma careta para o espelho - alguém estará a vê-lo. Há alguém a ver este texto a ser batido num computador portátil numa mesa do café do edifício, desenhado por David Adjaye, da biblioteca local de Whitechapel, no Este londrino. A câmara desce do tecto com a forma redonda de um pequeno candeeiro e é uma das 4,2 milhões que neste preciso momento vigiam todo o Reino Unido.
São números assim - 20 por cento das câmaras de segurança existentes no mundo inteiro, estão concentradas no Reino Unido; uma câmara por cada 14 habitantes - que preocupam o Information Comissioner"s Office, órgão independente que se dedica a vigiar como se é vigiado, e que acaba de divulgar um relatório a chamar a atenção para os perigos de uma sociedade progressivamente mais vigiada e simultaneamente com menos protecção de privacidade.Um outro relatório internacional, publicado pela organização de defesa dos direitos humanos Privacy International, parece confirmar o pior - o Reino Unido está no top 5 dos países com mais vigilância.
"Estás a olhar para onde?"
Num daqueles sites onde os cidadãos colocam fotografias da sua cidade, descobre-se uma imagem de Londres que mostra um sóbrio grafito. Numa parede, está escrito, precisamente no sítio para onde aponta uma câmara de segurança: "Estás a olhar para onde?" Para todo o lado. Não só para os movimentos - nas ruas, nos espaços públicos, nos espaços privados como bancos ou supermercados; até mesmo no local de trabalho -, mas para tudo o que fazemos. O que compramos, o que comemos, o que bebemos, de que gostamos - dia-a-dia, a informação vai-se armazenando. Enquanto cidadão, enquanto utilizador de um serviço, enquanto cliente ou consumidor, é-se obrigado permanentemente a fornecer dados. Informação que serve para, por exemplo, conceber perfis de consumidor - e é assim que nos chega publicidade a casa que traz no destinatário precisamente o nosso nome. Não se trata de ficção científica, e a única diferença em relação ao 1984, como realçava um artigo de opinião no The Guardian, é que não há um Big Brother - o Estado -, mas muitos pequenos irmãos.
O hábito de vigiar e ser vigiado
Ontem, o jornal noticiava que, segundo um investigador da Royal Academy of Engineering, no prazo de cinco anos qualquer pessoa poderá fazer uma busca no Google e descobrir o que é que um determinado indivíduo esteve a fazer a certa hora de tal dia. O hábito de ser vigiado parece vir acompanhado de um hábito de vigiar - o relatório prevê que em 2016, por exemplo, os pais tenham acesso às refeições dos filhos nas escolas - e ainda, quase de auto-vigia, como é o caso de ter a própria casa todo o dia em directo. A obsessão em passar o que é da esfera privada para a esfera pública - na Internet -, através de fotografias, vídeos, blogues e páginas pessoais, contribui ainda mais para uma sociedade em que todos os passos são registados. Até aqui, os britânicos não se têm manifestado contra crescentes medidas de segurança que implicam mais vigilância e mais divulgação de dados pessoais, justamente por se tratarem de medidas de segurança. São vistas como tal, como ferramenta de caça a criminosos e terroristas. Depois deste relatório, talvez mudem de ideias. E muitos, ao saírem de casa para fazer as tarefas de sempre, estarão certamente mais atentos às câmaras que os rodeiam.
São números assim - 20 por cento das câmaras de segurança existentes no mundo inteiro, estão concentradas no Reino Unido; uma câmara por cada 14 habitantes - que preocupam o Information Comissioner"s Office, órgão independente que se dedica a vigiar como se é vigiado, e que acaba de divulgar um relatório a chamar a atenção para os perigos de uma sociedade progressivamente mais vigiada e simultaneamente com menos protecção de privacidade.Um outro relatório internacional, publicado pela organização de defesa dos direitos humanos Privacy International, parece confirmar o pior - o Reino Unido está no top 5 dos países com mais vigilância.
"Estás a olhar para onde?"
Num daqueles sites onde os cidadãos colocam fotografias da sua cidade, descobre-se uma imagem de Londres que mostra um sóbrio grafito. Numa parede, está escrito, precisamente no sítio para onde aponta uma câmara de segurança: "Estás a olhar para onde?" Para todo o lado. Não só para os movimentos - nas ruas, nos espaços públicos, nos espaços privados como bancos ou supermercados; até mesmo no local de trabalho -, mas para tudo o que fazemos. O que compramos, o que comemos, o que bebemos, de que gostamos - dia-a-dia, a informação vai-se armazenando. Enquanto cidadão, enquanto utilizador de um serviço, enquanto cliente ou consumidor, é-se obrigado permanentemente a fornecer dados. Informação que serve para, por exemplo, conceber perfis de consumidor - e é assim que nos chega publicidade a casa que traz no destinatário precisamente o nosso nome. Não se trata de ficção científica, e a única diferença em relação ao 1984, como realçava um artigo de opinião no The Guardian, é que não há um Big Brother - o Estado -, mas muitos pequenos irmãos.
O hábito de vigiar e ser vigiado
Ontem, o jornal noticiava que, segundo um investigador da Royal Academy of Engineering, no prazo de cinco anos qualquer pessoa poderá fazer uma busca no Google e descobrir o que é que um determinado indivíduo esteve a fazer a certa hora de tal dia. O hábito de ser vigiado parece vir acompanhado de um hábito de vigiar - o relatório prevê que em 2016, por exemplo, os pais tenham acesso às refeições dos filhos nas escolas - e ainda, quase de auto-vigia, como é o caso de ter a própria casa todo o dia em directo. A obsessão em passar o que é da esfera privada para a esfera pública - na Internet -, através de fotografias, vídeos, blogues e páginas pessoais, contribui ainda mais para uma sociedade em que todos os passos são registados. Até aqui, os britânicos não se têm manifestado contra crescentes medidas de segurança que implicam mais vigilância e mais divulgação de dados pessoais, justamente por se tratarem de medidas de segurança. São vistas como tal, como ferramenta de caça a criminosos e terroristas. Depois deste relatório, talvez mudem de ideias. E muitos, ao saírem de casa para fazer as tarefas de sempre, estarão certamente mais atentos às câmaras que os rodeiam.
Susana Moreira Marques, Londres (Publico)
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