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sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Campeã de velocidade com a cabeça coberta

Ruqaya Al-Ghasara fez história: medalha de ouro nos 200 metros nos Jogos Asiáticos. A marca foi banal; o lenço na cabeça é que não é. A sprinter do Bahrein Ruqaya Al- Ghasara teve de dizer a mesma coisa várias vezes depois da vitória: não a atrapalha correr com o hijab, o tradicional lenço muçulmano que lhe cobre a cabeça. Na verdade, insistiu, até a torna mais rápida.
"Usar o vestuário tradicional muçulmano deu-me coragem. Não é um obstáculo - antes pelo contrário", reafirmou Al-Ghasara depois de ganhar a final dos 200 metros na modalidade de atletismo nos Jogos Asiáticos, com o tempo de 23,19 segundos. Na prova dos 100 metros, Al-Ghasara tinha alcançado a medalha de bronze. Na pista, mesmo à distância, é imediatamente reconhecível, por causa do equipamento que só deixa à vista as mãos e o rosto. O tecido é leve e elástico e o hijab branco exibe o mais do que conhecido logótipo da marca de equipamento desportivo que a patrocina. A atleta afirma que o equipamento se trata de uma escolha pessoal, embora a tradição tenha um peso determinante. Enquanto outras atletas do Bahrein se apresentaram vestidas da forma mais comum nas competições internacionais, o facto é que muitas são estrangeiras naturalizadas que não foram educadas segundo a tradição muçulmana. Al-Ghasara, que aponta como ídolo e modelo a campeã norte-americana Marion Jones, diz esperar que a sua escolha inspire outras mulheres muçulmanas a praticarem atletismo e outras modalidades.
"Usar o hijab mostra que não há obstáculos. Alcancei os meus melhores tempos com ele e foi com ele que me qualifiquei para Osaka", declarou, referindo-se à cidade japonesa que organiza em 2007 os Mundiais de Atletismo. Embora a atleta forneça poucos pormenores, o seu caminho até ao topo não foi dos mais fáceis. Al-Ghasara tem 24 anos e chegou tardiamente às pistas, numa nação onde as mulheres têm tradicionalmente sido desencorajadas de competir. Descoberta no liceu, foi indicada ao treinador Tadjine Noureddine, que a guiou até à sua primeira medalha de ouro, nos Jogos Árabes realizados na Jordânia em 2002. "Ela tem excelentes qualidades como sprinter", afirma Noureddine, um antigo corredor de provas com barreiras. "O único problema é que começou tarde e por isso tivemos que trabalhar duramente os alongamentos e a potência muscular. No Bahrein, o desporto para as mulheres é uma coisa nova, com cerca de cinco anos", conta. O treino incluiu uma importante vertente psicológica e exercícios em altitude na África do Sul, revela. Com tudo isto, Al-Ghasara tem conseguido manter afastadas as lesões, tirando alguns problemas nas costas. A atleta não se cansa de agradecer ao treinador, que afirma conhecer perfeitamente quer os segredos da modalidade, quer as questões extra-atletismo envolvidas. "É muçulmano e árabe, por isso conhece bem as tradições islâmicas", afirma.
Christopher Bodeen, Jornalista da AP

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