PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Artigo: Mudança? Como?

Alberto João Jardim tem sistemática e coerentemente defendido a necessidade de ser fomentada uma mudança política em Portugal, sustentando esses seus apelos na degradação da situação económica, social, política e orçamental do País, no facto de haver uma clara aposta na mentira que a propaganda propicia ao actual governo socialista da República, mas essencialmente por causa da constatação de que os portugueses, não só se consideram cada vez mais enganados por promessas que ajudaram a vencer eleições mas rapidamente foram esquecidas, mas sobretudo desiludidos porque perante o impacto quase nulo do esforço colectivo feito nos últimos dois anos, sem resultados concretos na melhoria do nível de vida das famílias e das empresas. Mas cabe aos cidadãos — e não ao discurso ou a dialéctica política, que embora legítimos, valem o que valem — viabilizar essa mudança, organizando-se, pressionando, reclamando, manifestando-se. Eu também penso que quando um povo se diz enganado e desiludido, ele não pode ser cúmplice de políticas que o penalizam e perante elas optar pela passividade. Pelo contrário, o povo deve obrigar, democraticamente, quem tem o poder de decisão, que decida, custe o que custar, permitindo assim que se devolva aos portugueses o direito de decisão. Mas para isso, é fundamental que o sistema partidário da oposição se estabilize e se credibilize. A inexistência de alternativas credíveis e consistentes acaba por revelar-se contrária a qualquer mudança, por muito premente e até urgente que ela seja. Neste momento, de afastada que está qualquer possibilidade de PCP ou Bloco de Esquerda poderem ser alguma vez alternativa à actual maioria absoluta socialista, é evidente que PSD e CDS/PP estão a milhas dessa credibilidade pretendida, incapazes de conseguirem gerar junto do eleitorado e dos cidadãos em geral, uma atitude colectiva de apoio e de confiança. Os dois partidos parecem estar às voltas consigo próprios, em buscar do seu espaço de afirmação, do seu discurso, enfim, do seu lugar na actual política portuguesa. Ambos os partidos andam a braços com sinais de instabilidade interna, com conflitualidades pessoais, tudo por causa da vaidade indisfarçável nalguns dos seus membros que se julgam mais importantes do que são e que não conseguem respeitar os objectivos colectivos, optando antes por sacrificá-los aos interesses sectários, mesquinhos, oportunistas e pessoais que os movem. Tudo isso deita por terra qualquer expectativa de mudança, nem sequer ajuda a uma decisão mais radicalizada que pudesse ser tomada, mesmo que legítima, sobretudo em caso de uma degradação da situação actual. Sobre o PSD continuo a pensar que tudo se fica a dever a Marques Mendes e à forma excessivamente “mole” como tem afirmado a sua liderança. Essa imagem de fragilidade permite que alguns “pavões” com, ambições de liderança — mas que não só não têm perfil como nunca conseguirão ganhar eleições — andem freneticamente movimentadiços, quais protagonistas de uma “gaiola de malucas”. Marques Mendes deve entender, tem que entender, de uma vez por todas, que as lideranças legitimadas em Congresso se discutem e se disputam em Congresso. Não nas páginas de jornais, ou fazendo tristes figuras como se passa com alguns dos seus alegados “opositores”. Quanto ao CDS/PP, a situação é mais complicada e poderá resvalar para a “peixeirada”, caso não sejam tomadas decisões concretas. Acredito que a única decisão possível, neste momento, passa por um Congresso extraordinário. O que se passa na direita, mais do que um confronto entre duas correntes, ou entre a direcção eleita em congresso e o grupo parlamentar constituído pelos “órfãos” do portismo (e pelo próprio Paulo Portas, que foi quem escolheu todos os actuais deputados eleitos em Fevereiro de 2005), pode constituir um conflito que tem o PS, mais precisamente uma eventual aproximação dos centristas aos socialistas, como pano de fundo, provavelmente porque o CDS/PP é um partido vocacionado para coligações, ora com o PSD, ora com o PS. Neste momento Ribeiro e Castro, líder do CDS/PP, exige a demissão do reeleito Nuno Melo, líder parlamentar do CDS. O patético de tudo isto resulta do facto de não se perceber qual o efeito desta polémica e o que impede Nuno Melo, mesmo que se demita, de voltar a candidatar-se e a ser eleito. Dado que todos os actuais deputados foram escolhidos por Paulo Portas, ele próprio deputado, e sabendo-se que toda esta instabilidade tem a ver com um cenário de eventual regresso de Paulo Portas à liderança do partido — refeito da “pancada” que levou nas eleições legislativas nacionais de Fevereiro de 2005… — há um “braço-de-ferro” que nunca propiciará uma vitória a Ribeiro e Castro, dado que a actual direcção se encontra numa posição minoritária no seio do grupo parlamentar. Pode-se afirmar que Ribeiro e Castro está, completamente, impotente, perante a “rebelião” dos deputados, facto que fragiliza o CDS/PP e lhe retira qualquer credibilidade, junto dos seus próprios eleitores. Nem sei mesmo, bem vistas as coisas, se o Congresso, neste quadro, será uma solução para os problemas do CDS/PP, assim como não se percebe o que pretende Paulo Portas. Assim sendo, como se pode pensar numa mudança? Que alternativas se oferecem aos portugueses?

Luis Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 09 de Janeiro de 2007

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast