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quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Artigo: Qual crise?

A Inspecção-Geral de Portugal é um país em franca recuperação económica. Diz o governo socialista, está dito! Os portugueses andam sem dinheiro nos bolsos, as famílias continuam a enfrentar problemas crescentes, as empresas ou estão falidas, ou não sabem para que lado se viram. Mas o país está a recuperar. O governo socialista diz, está dito. E todos os que disserem o contrário ou são burros, ou é analfabetos, ou são do “contra” ou quer impedir os senhores ministros de governarem. Em recuperação! Perceberam? O país está em franca recuperação económica. Até o Banco de Portugal que é do contra e que não é dado a fazer frentes aos governos, diz isso mesmo. Portanto há notícias que são invenções. Então resolvi inventar mais uma notícia que saiu há dias na imprensa e que deve ser uma enorme mentira: A Inspecção de Trabalho detectou quase 17 milhões de euros de salários, subsídios e prémios em atraso, o que representa um crescimento de 62% em relação a 2005. As inspecções a mais de 35 mil locais de trabalho ocorreram em todo o país, em conjunto com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, inspecção tributária, GNR e PSP. As acções de fiscalização incidiram sobretudo no sector da construção civil e renderam mais de 12 milhões de euros, com mais de duas mil empresas suspensas da sua actividade, na sua maioria por incumprimento das normas de segurança”. De facto tudo indica que não passamos de uma cambada de más-línguas. Até o Banco de Portugal veio dar uma mãozinha ao Governo: “O saldo dos empréstimos de cobrança duvidosa em Novembro no sector da habitação era de 1,17 mil milhões de euros contra 1,17 mil milhões de euros no mês anterior e de 1,19 mil milhões de euros no período homólogo de 2005. No sector da habitação o saldo dos empréstimos atingiu os 92,09 mil milhões de euros em Novembro dos quais 91,07 mil milhões de euros a mais de cinco anos, 801 milhões de euros entre um a cinco anos e 214 milhões de euros a menos de um ano. O saldo dos empréstimos de cobrança duvidosa no sector do consumo atingia os 404 milhões de euros no final de Novembro contra 467 milhões de euros em Outubro versus 290 milhões de euros em Novembro de 2005. Nos empréstimos bancários para outros fins que não a habitação ou o consumo, o saldo de cobrança duvidosa atingia os 604 milhões de euros no final de Novembro contra 596 milhões de euros em Outubro e 570 milhões de euros em Novembro do ano passado”. Estão a ver. Os portugueses até devem menos à banca. Por isso, estamos em recuperação económica. Diz o governo socialista da República, está dito! Achei piada ontem a uma notícia com origem em Espanha, na medida em que ela retrata bem a nossa maneira de ser, pessimistas quanto baste, mas essencialmente uns incontroláveis gastadores. Um retrato que, segundo o “Observador Cetelem 2007”, estudo publicado esta semana num jornal espanhol, se manterá até 2010 e que não deixa dúvidas: “O optimismo será o mais baixo, os rendimentos ficarão bastante aquém da média, a poupança será pouca, mas em termos de consumo poucos serão os países que nos ultrapassarão”. Este retrato do nosso país, de acordo com o estudo, é reforçado pelo sublinhar de que “portugueses — já bastante deprimidos — serão os mais pessimistas dos 12 países estudados e só os húngaros estarão próximos de nós. Todos os outros países terão um nível de optimismo dentro da média (4,7 pontos). Os campeões do optimismo serão os belgas, seguidos pelos espanhóis”. O documento desvenda as potenciais causas para tanto desânimo: “uma das razões para tanto pessimismo poderá ser o nível de rendimentos ‘per capita’ e por ano que não chegará aos 15 mil euros. A média dos 12 países estudados será superior aos 20 mil euros anuais ‘per capita’”. Isto porque só a Rússia, Polónia, República Checa e a Hungria terão salários mais baixos do que os dos portugueses, cujos baixos rendimentos os impedirão de fazer poupanças (só 14% dos inquiridos no âmbito do “Observador Cetelem” tencionam pôr de parte algum dinheiro para dias piores…). Em, matéria de consumo, ficamos a saber, pelo estudo que venho citando, somos dos maiores e que poucos serão os países que nos baterão. As intenções consumistas (64%) ficam acima da média (61%), ultrapassando países com melhor nível de vida, como a Alemanha, o Reino Unido ou a França… Estava eu a tentar fechar este artigo, quando eis que me chega mais um documento do Banco de Portugal, essa douta instituição liderada pelo antigo secretário-geral do PS, Vítor Constâncio, segundo a qual a dívida directa do Estado atingiu os 108,85 mil milhões de euros em Dezembro de 2006 contra 107,359 mil milhões de euros no mês anterior e 102 mil milhões de euros no período homólogo do ano anterior. Mas o Boletim Estatístico disse mais: o saldo negativo das balanças Corrente e de Capital ascendeu nos onze primeiros meses do ano passado aos 11,2 mil milhões de euros, contra os 11 mil milhões de euros registados no período homólogo de 2005. Ou seja, tudo na mesma. Mas, caramba, somos um país em recuperação económica, em acelerada passada…
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 23 de Janeiro 2007

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