Escritor Ian McEwan descobriu um irmão desconhecido dado pela mãe há 55 anos
O autor britânico Ian McEwan é famoso pelas suas histórias de amores ilícitos, sofrimento em tempo de guerra e intrigas familiares - mas esta história é sobre ele, não é escrita por ele: o escritor admitiu que construiu uma relação sólida com um irmão há muito desaparecido, que fora dado pela mãe a alguém numa estação de caminho-de-ferro apenas com alguns meses de idade. McEwan, cujo romance Amsterdão ganhou o Prémio Booker em 1998 e que tem neste momento Hollywood a transpor outra obra sua para filme, Expiação, de 2001, com a actriz Keira Knightley como protagonista, afirmou ter sentido "uma grande surpresa e prazer", quando descobriu há alguns anos que tinha outro irmão. David Sharp, um homem de 64 anos que vive no Oxfordshire, Sul de Inglaterra, a cerca de 20 quilómetros da casa de McEwan, revelou a história esta semana a um jornal local, o Oxford Mail, ao tornar pública a sua relação fraterna com McEwan. Sharp contou que tinha 14 anos quando os pais lhe contaram que era adoptado. Mais tarde, quando fez perguntas sobre o passado, o pai respondeu-lhe que o tinham "tirado de um jornal". A história é esta: a mãe de McEwan, Rose Wort, engravidou de uma relação com o oficial do Exército David McEwan, quando o marido estava fora do país, a combater na Segunda Guerra Mundial. Desesperada por fazer desaparecer a "prova" do adultério, decidiu dar o bebé. Um anúncio seco num jornal local, em 1942, marcou o início de uma vida de separação para os irmãos. "Precisa-se, lar para um bebé rapaz de um mês; abandono definitivo", dizia. Rose e Percy Sharp responderam e a criança foi-lhes devidamente entregue na estação ferroviária de Reading, em Berkshire, no Sueste de Inglaterra. A mãe de McEwan acabou por casar em 1947 com o amante, depois de o marido ter morrido na guerra, e o casal teve outro filho, Ian, em Junho de 1948. "Recebemo-lo e à família na nossa e mantemo-nos em contacto", afirmou o escritor numa declaração ontem divulgada pelo seu agente. "Tenho pena de que ele nunca tenha chegado a conhecer os nossos pais." David Sharp esperou pela morte dos pais adoptivos para tentar encontrar a sua família biológica. Quando foi à procura das suas raízes através do serviço de busca do Exército de Salvação, começou por encontrar uma tia, que era a única a conhecer o segredo. Soube a verdade ao fim de uma busca que durou quatro anos e garante que nunca fez a mais pequena ideia da fama do irmão. "Nunca tinha ouvido falar dele", afirmou ao Oxford Mail. Teve um relance sobre essa fama logo no primeiro encontro, perturbado várias vezes por caçadores de autógrafos. Os dois homens tiveram vidas muito diferentes. Ian McEwan, agora com 58 anos, fez o liceu, seguiu estudos de Literatura Inglesa na universidade e tornou-se autor de best-sellers. Sharp deixou a escola aos 15 anos e aprendeu a trabalhar nas obras; é pedreiro. "Claro que agora já li todos os livros dele, mas não importa se ele é escritor ou anda a varrer as ruas. Para mim, é o meu irmão", afirma Sharp. Ele próprio está agora a escrever a história da sua vida e o livro chama-se Abandono Definitivo.
Fonte: Kate Kelland, Londres, Jornalista da Reuters (Publico)
Fonte: Kate Kelland, Londres, Jornalista da Reuters (Publico)
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