Manifestantes alugam-se, para causas sem activistas
Tem uma causa justa para protestar, mas não tem quem o acompanhe? Não há problema: o site alemão Erento tem para lhe alugar mais de 300 manifestantes. Pode ser à hora ou ao dia.Aquele que afirma ser o site número um da Alemanha no ramo do aluguer, com 820 mil objectos de todos os tipos, tem para oferecer voluntários de todas as idades e vindos de toda a Alemanha, para participar em concentrações sociais ou políticas, ou em acções comerciais, como figurantes pagos para fazerem claque durante operações de promoção.Os organizadores mal preparados podem também alugar megafones, camiões com sistemas de som e até vestuário de trabalho.Os manifestantes são alugados a preços variáveis, entre os dez e os 30 euros por hora ou 145 euros por dia. Há um Curriculum vitae de cada um, com as suas características e uma fotografia: lá estão o peso, a altura, as línguas que falam ou escrevem."Aquele que tem uma opinião deve afirmá-la", observa-se, sublinhando que os manifestantes recusam participar em reuniões de carácter racista ou xenófobo.Uwe Kampschulte, co-fundador da Erento, afirma que a ideia de criar um departamento de aluguer de manifestantes surgiu depois de uma iniciativa da Federação Nacional dos Médicos para uma convenção em Dezembro do ano passado. Pagaram a 170 desempregados ou estudantes para engrossarem as fileiras de uma concentração em frente ao Reichstag (parlamento) em Berlim, para protestar contra a reforma da saúde em estudo na Alemanha.O porta-voz da organização médica, Roland Stahl, afirmou então não ver o mais pequeno problema em investir cinco mil euros para encontrar manifestantes falsos. "Não era uma manifestação, mas uma operação de relações públicas", justificou. Segundo a federação, os manifestantes deviam "realizar uma cadeia humana durante uma hora para uma acção destinada à imprensa e à televisão".Segundo a imprensa alemã, a federação médica não foi a primeira organizadora de uma manifestação a lançar mão de figurantes. Em 2006, vários desfiles de médicos tiveram o "apoio" de manifestantes falsos, mas não houve publicidade à volta disso.A rubrica "manifestantes" foi criada este mês pela Erento depois da manifestação dos médicos. "Temos tido vários pedidos para este género de pessoal", explicou uma porta-voz do site. O departamento teve uma grande procura e até meio do mês registou 306 candidatos. O número tem aumentado constantemente, segundo a porta-voz, embora reconheça que nas primeiras semanas do mês "houve muitas perguntas, mas nenhum dos candidatos foi alugado".Para Monique Hoppe, de 23 anos, estudante de Desporto em Berlim, o facto de entrar em manifestações a favor de organizações nas quais não se reconhece não é um problema. "Para mim é um trabalho como outro qualquer, mas compreendo os que estão reticentes, porque é preciso mostrar a cara e há o risco de ser filmado [por câmaras de televisão]."Michael Glaser, de 22 anos, a concluir um bacharelato, admite que o recurso a figurantes "pode dar uma falsa ideia da democracia"."Pode ser perigoso, se os manifestantes forem utilizados por organizações de extrema-direita", nota. "Mas o dinheiro é bem-vindo, desde que aqueles que pagam correspondam à minha ética", acrescentou Glaser, militante de esquerda. O seu maior desejo é ser contratado para se manifestar "pela paz, pela solidariedade e pela justiça social".
Fonte: Cyril Julien, Berlim, Jornalista da AFP
Fonte: Cyril Julien, Berlim, Jornalista da AFP
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