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segunda-feira, 14 de maio de 2007

Artigo: QUE SAÍDA?

Não creio, passado o natural radicalismo bipolarizador das campanhas eleitorais, nomeadamente na Madeira onde essa bipolarização é mais fortemente sentida, que seja tempo para ajustes de contas ou coisas do género. Mas isso não tem nada a ver com atitudes ou com alguns comportamentos reveladores de memória curta, porque é inegável que o confronto eleitoral muitas vezes ultrapassa os limites do razoável, acabando por deixar marcas que não se podem apagar por simples toque de magia, como se fosse possível passar uma esponja em tudo o que se passou. O voto do Povo é um voto soberano. As pessoas votaram em liberdade, com convicção e de acordo com a sua consciência. Lamentar a forma como as pessoas votam, lamentar que o Povo não tenha dado o seu voto a partidos que pretensamente “mais de perto trabalham das pessoas” - como foi afirmado na noite eleitoral - mais do que um absurdo, parece-me uma enormidade reveladora de que também é preciso estatura para reconhecer a soberania do voto e saber reconhecer e aceitar as derrotas.
Sei, por experiência acumulada, que as grandes vitórias eleitorais são momentos específicos, quase sempre efémeros, justificados por determinados factores num determinado momento ou conjuntura, mas que se alteram rapidamente na eleição seguinte, porque entretanto ou tudo muda, ou instala-se a frustração de expectativas goradas. Sei também, por experiência e conhecimento, que os actos eleitorais são cada vez mais decididos, quer pela capacidade de mobilização de eleitores mostrada pelos partidos durante a campanha eleitoral, quer sobretudo pela forma como o chamado eleitorado flutuante – que em Portugal continua a representar uma fatia importante dos inscritos e a ter um contributo decisivo nos resultados finais – decide votar num determinado acto eleitoral, influenciado ou não por factores que podem ser minimizados pelos partidos, mas que assumem uma dimensão decisiva para o cidadão comum.
O paradoxo da estrondosa e inesperada (pelos números) vitória eleitoral do PSD da Madeira nas regionais de domingo passado, é que elas podem constituir uma espécie de “derrota” dos social-democratas em próximas eleições. Eu explico. No jogo eleitoral, sobretudo nas análises feitas à posterior, há sempre uma componente comparativa, em função da qual se fazem análises, se geram extrapolações e se chegam a conclusões, umas mais ou menos precipitadas, outras mais manipuladas. A inevitabilidade dessa comparação de resultados é incontornável, seja em que acto eleitoral for. Com os mais de 90 mil votos, fasquia nunca antes alcançada – e não creio que o número de eleitores aumente, bem pelo contrário, para que se possam admitir como razoável a repetição de uma situação como a registada em 6 de Maio passado – e com mais de 64% dos votos, o PSD da Madeira dificilmente poderá aspirar a repetir tal resultado, conjugando estes dois factores, a componente quantitativa e a componente percentual. Ou seja, qualquer resultado que possa ser obtido no futuro – ressalvando que a votação de 1984, até hoje a mais significativa, acabou por ser ultrapassada 23 anos depois, por razões de todos conhecidas – por comparação será sempre uma “derrota”, independentemente de quem liderar o PSD e for seu candidato. Mesmo que ganhe as eleições e até tenha maioria absoluta dos mandatos parlamentares. Há que estar preparado para estas “vitórias” ou “derrotas” construídas por comparação matemática.
Eu não sei, nem isso me importa sequer neste momento, saber se as regionais de 6 de Maio terão sido uma espécie de plebiscito à Autonomia, ou se o resultado de um confronto, mesmo que indirecto e não assumido por uma das partes, entre Jardim e Sócrates, tudo por causa da Lei de Finanças Regionais. O que eu considero, respeitando quem discorde do meu ponto de vista, é que as pessoas perceberam que alguma coisa de imprópria, inexplicável e inadequada se passou com a Madeira por causa da lei de finanças regionais, reconheceram – e aceitaram a argumentação do PSD e de João Jardim - que a Região estava a ser prejudicada, assumiram a existência de um problema político, só resolúvel por intervenção e decisão política, e resolveram, ponderadas toda as alternativas existentes, manifestar um voto de confiança em Alberto João Jardim, exigindo-lhe que encontre solução para esses problemas que atormentam a Madeira
Não creio, e sinceramente o afirmo, que a lei de finanças regionais seja alterada, porque qualquer iniciativa dessas, na Assembleia da República, se não contar com a anuência da maioria absoluta socialista, destina-se ao caixote do lixo. Não me parece, também, apesar do impacto que as eleições regionais possam, ter no domínio da legitimação de Jardim, que Cavaco, nesta fase, vésperas de uma presidência portuguesa da União Europeia, queira envolver-se numa crise política com o governo socialista de Sócrates, até porque as sondagens em nada ajudam – uma recentemente divulgada mostra um Marques Mendes em queda livre e um PSD nacional em desgaste. Portanto, confesso, sigo com expectativa esta questão, porque não sei – embora em política existam milagres – como vão conseguir dar a volta a uma realidade que não sei como pode ser alterada. Jardim afirmou na RTP que não está muito virado para a continuação de “guerras políticas” com Lisboa, admitiu até uma solução negociada que permita ao governo central “sair de cabeça erguida”. Mas qual, francamente, qual a solução, que pelo menos não provoque, de imediato, uma reacção negativa na comunicação social, a instabilidade no PS, até mesmo um levantamento nas autarquias, elas próprias a braços com um garrote financeiro – e nisto de recursos financeiros a solidariedade partidária institucional é uma treta! Creio que há que dar tempo, porventura tudo se passará nos bastidores, mas sem garantia de sucesso no que aos objectivos da Madeira, em concreto, diz respeito.

Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 14 de Maio 2007

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