Artigo: SUCESSÃO
É para mim mais do que evidente que Alberto João Jardim abriu a corrida à sua sucessão na liderança do PSD em 2011. Não se trata de fomentar um combate interno, ou de alimentar conflitos, mais ou menos latentes, que o seu carisma foi suficiente para travar ou neutralizar. Se a intenção expressa, repetidamente este ano, por João Jardim, de que é este o seu último mandato, conjugando cansaço de uma vida política activa com mais de 35 anos, com a idade com que terminará este mandato, se confirma, o PSD vai ter, finalmente, que despir-se de preconceitos e encarar de frente uma realidade interna que certamente o afectará e deixará marcas. Não sou dos que acreditam que tudo se processará pacificamente, que basta tirar Alberto João Jardim e eleger seja quem for, para que tudo continue na mesma. Não quero com isto dizer que alguma hecatombe virá por aí fora, mas o PSD madeirense tem exemplos concretos – e que exemplos! – que mostram que a falta de inteligência, a ausência de realismo político e as opções mal tomadas, ou em função de interesses internos cruzados com outros, ou graças a manipulações da estrutura partidária, representam sempre um elevado custo político a pagar e que podem muito bem aturar o partido para uma travessia do deserto que no caso de uma estrutura de poder como o PSD da Madeira teria inevitavelmente consequências trágicas.
Não sei como tudo se processará, e porventura isso nem me importa. Os estatutos estabelecem um modelo eleitoral interno das “directas”, que não significa, por si só, nem a mobilização das bases, nem níveis de participação elevados, nem sequer a ausência a isenção de tentativas e/ou manobras de bastidores visando a manipulação das bases através da influência dos órgãos de base.
Desiludam-se os que pensavam que eu viria para aqui afirmar o contrário. Não me parece que o PSD possa chegar a 2011 e escolher um protagonista distante do debate político, afastado do confronto quotidiano que naturalmente vai acontecer de uma forma intensa no Parlamento – onde as atenções terão que ser cada vez maiores - como se se tratasse de um “D. Sebastião” caído do céu, armado em ”salvador” de coisa nenhuma. As opções podem ser muitas, porventura serão muitas. Há uma diferença entre desejo ou disponibilidades e a realidade de um combate eleitoral interno que não me parece possa ser pacífico, caso não se cumpram determinados requisitos. E mesmo assim nunca saberemos se a escolha foi a melhor. Muitos dos que estão hoje com João Jardim, e que recusam abordar a questão da sucessão, recusando deixá-la influenciar internamente, naturalmente deixarão de estar do mesmo lado, pensando da mesma forma. Por outro lado, não tenho dúvida que muita gente que tem acompanhado Alberto João Jardim, porão um ponto final na sua carreira partidária quando ele abandonara o PSD. Os objectivos passam a ser diferentes, a partir do momento em que há uma disputa. A escolha, como é evidente, tem que ser pensada, amadurecida, reflectida, tendo presente que o PSD não ganha eleições contando apenas com os seus militantes. Há que olhar para fora, para os seus simpatizantes e eleitores (não os que votam nos partidos da oposição) perceber o que eles esperam e querem, manter um discurso político regionalista que tem que ser rigoroso e coerente, estabelecer (?) um perfil, de liderança e depois avançar para a decisão interna, com responsabilidade e com tranquilidade.
Uma escolha errada terá repercussões eleitorais, e não será exagerado afirmar que o impacto de um insucesso eleitoral no PSD da Madeira, será semelhante, ou até mesmo pior, em termos de “devastação” interna e política, do que aquele que aconteceu com o PSD dos Açores depois da saída intempestiva de Mota Amaral. O legado do governo regional que agora iniciará funções, será importante, sobretudo a dinâmica que ele mostrar e a sua capacidade política de intervenção e de persuasão. É previsível que num quadro desta natureza, ao próprio Alberto João Jardim interessará, aos poucos, um menor protagonismo político passível de reduzir a dependência do PSD relativamente à sua pessoa. Mas ele precisará, a seu tempo, de ter condições para que o PSD passe à fase seguinte deste processo, com a garantia de que não haverá conflitualidades desgastantes, ou que entrar-se-á numa espiral de jogos sujos de bastidores. No fundo João Jardim precisa de impedir que o futuro do PSD local seja prejudicado por qualquer sentimento de frustração entre os cidadãos, relativamente a expectativas criadas para esta Legislatura e que possam não ser cumpridas.
Continuo a pensar que neste momento este assunto pouco ou nada interessa. A Madeira, e o PSD, têm outros desafios mais importantes a resolver, precisam de dar resposta à própria resposta dada pelo eleitorado nas regionais de domingo, de encontrar mecanismos passíveis de gerar resultados, de ultrapassar impasses, de preparar desafios legislativos importantes e, mais do que isso, precisam de marcar claramente uma posição política inequívoca, visando vista a revisão constitucional de 2009. Distrair o partido com questões que naturalmente passaram a estar presentes nas tarefas a médio prazo – é certo que depois das declarações do próprio Alberto João Jardim – quando as prioridades são outras, pode ser contraproducente.
Luís Filipe Malheiro
Não sei como tudo se processará, e porventura isso nem me importa. Os estatutos estabelecem um modelo eleitoral interno das “directas”, que não significa, por si só, nem a mobilização das bases, nem níveis de participação elevados, nem sequer a ausência a isenção de tentativas e/ou manobras de bastidores visando a manipulação das bases através da influência dos órgãos de base.
Desiludam-se os que pensavam que eu viria para aqui afirmar o contrário. Não me parece que o PSD possa chegar a 2011 e escolher um protagonista distante do debate político, afastado do confronto quotidiano que naturalmente vai acontecer de uma forma intensa no Parlamento – onde as atenções terão que ser cada vez maiores - como se se tratasse de um “D. Sebastião” caído do céu, armado em ”salvador” de coisa nenhuma. As opções podem ser muitas, porventura serão muitas. Há uma diferença entre desejo ou disponibilidades e a realidade de um combate eleitoral interno que não me parece possa ser pacífico, caso não se cumpram determinados requisitos. E mesmo assim nunca saberemos se a escolha foi a melhor. Muitos dos que estão hoje com João Jardim, e que recusam abordar a questão da sucessão, recusando deixá-la influenciar internamente, naturalmente deixarão de estar do mesmo lado, pensando da mesma forma. Por outro lado, não tenho dúvida que muita gente que tem acompanhado Alberto João Jardim, porão um ponto final na sua carreira partidária quando ele abandonara o PSD. Os objectivos passam a ser diferentes, a partir do momento em que há uma disputa. A escolha, como é evidente, tem que ser pensada, amadurecida, reflectida, tendo presente que o PSD não ganha eleições contando apenas com os seus militantes. Há que olhar para fora, para os seus simpatizantes e eleitores (não os que votam nos partidos da oposição) perceber o que eles esperam e querem, manter um discurso político regionalista que tem que ser rigoroso e coerente, estabelecer (?) um perfil, de liderança e depois avançar para a decisão interna, com responsabilidade e com tranquilidade.
Uma escolha errada terá repercussões eleitorais, e não será exagerado afirmar que o impacto de um insucesso eleitoral no PSD da Madeira, será semelhante, ou até mesmo pior, em termos de “devastação” interna e política, do que aquele que aconteceu com o PSD dos Açores depois da saída intempestiva de Mota Amaral. O legado do governo regional que agora iniciará funções, será importante, sobretudo a dinâmica que ele mostrar e a sua capacidade política de intervenção e de persuasão. É previsível que num quadro desta natureza, ao próprio Alberto João Jardim interessará, aos poucos, um menor protagonismo político passível de reduzir a dependência do PSD relativamente à sua pessoa. Mas ele precisará, a seu tempo, de ter condições para que o PSD passe à fase seguinte deste processo, com a garantia de que não haverá conflitualidades desgastantes, ou que entrar-se-á numa espiral de jogos sujos de bastidores. No fundo João Jardim precisa de impedir que o futuro do PSD local seja prejudicado por qualquer sentimento de frustração entre os cidadãos, relativamente a expectativas criadas para esta Legislatura e que possam não ser cumpridas.
Continuo a pensar que neste momento este assunto pouco ou nada interessa. A Madeira, e o PSD, têm outros desafios mais importantes a resolver, precisam de dar resposta à própria resposta dada pelo eleitorado nas regionais de domingo, de encontrar mecanismos passíveis de gerar resultados, de ultrapassar impasses, de preparar desafios legislativos importantes e, mais do que isso, precisam de marcar claramente uma posição política inequívoca, visando vista a revisão constitucional de 2009. Distrair o partido com questões que naturalmente passaram a estar presentes nas tarefas a médio prazo – é certo que depois das declarações do próprio Alberto João Jardim – quando as prioridades são outras, pode ser contraproducente.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 11 de Maio 2007
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