Artigo: CAMPANHA: FALTAM 3 DIAS
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A análise dos números eleitorais, com base em critérios comparativos, leva-nos a concluir que existe um eleitorado flutuante, da ordem dos 10 mil eleitores, que vota em função de factores mais imediatistas, que pode se sente vinculado de forma pragmática a qualquer partido e que pode ser influenciado pelas campanhas eleitorais e pela propaganda, e que em determinadas circunstâncias pode ter um papel decisivo na definição de uma eleição e na viabilização de representações parlamentares por parte dos partidos mais pequenos. Há depois uma fatia crescente de eleitores (mais de 90 mil em 2004 e em 2005) que pura e simplesmente não votam, ou por descontentamento, ou por parte de interesse ou por não terem sido devidamente sensibilizados ao exercício desse dever de cidadania.
Por tudo isto, é evidente que estes últimos dias de campanha eleitoral terão necessariamente de visar estes eleitores, até porque não me parece que tal como o PCP estará à espera de cativar eleitores que votam no PSD por convicção, também não creio que o PS esteja a contar com votos de eleitores do Bloco de Esquerda que nunca votaram noutro partido.
Aos partidos políticos envolvidos na campanha eleitoral, a três dias do seu final, cabe essencialmente a aposta em dois sentidos: por um lado, o da mobilização dos eleitores que passados estes dias de campanha, ainda não estão convencidos. Por outro lado, convencê-los, não só a participar no acto eleitoral de 6 de Maio, reduzindo a abstenção que em 2004 ultrapassou os 90 mil eleitores, mas tentando cativar o interesse desses eleitores pelos seus projectos.
Estes últimos dias caracterizar-se-ão por acções centradas essencialmente no Funchal. A capital madeirense será palco dos chamados comícios finai de campanha – PSD e PS realizam os seus comícios amanhã, praticamente à mesma hora – pelo reforço dos contactos “porta-a-porta” e pela presença mais visível de caravanas partidárias nas ruas da cidade, apelando ao voto e distribuindo propaganda. É uma rotina que se repete todos os anos, sempre que há eleições, mas neste caso concreto com uma justificação acrescida: a alteração da lei eleitoral atribui aos votos de cada partido na capital, uma dimensão inequivocamente superior, já que muitos dos partidos políticos fazem depender a concretização da sua pretendida representação parlamentar da votação que conseguirem nas mais de 100 mesas de voto do Funchal, o que explica uma concentração de esforços e de iniciativas neste concelho ao longo destes últimos dias.
Evidentemente que a campanha eleitoral está radicalizada. Não é um fenómeno novo, nem sequer podemos admitir que alguém estivesse à espera que essa radicalização de discurso assente numa tradicional bipolarização partidária, não se verificasse nesta campanha. O próprio PSD da Madeira estimula essa bipolarização, ao colocar todos os partidos da oposição juntos e num dos pólos. Outra questão que me parece importante reter, nesta altura, prende-se com o facto de não me parecer que seja plausível que os políticos, independentemente das suas divergências, encarem estas eleições de uma forma pouco séria e que transformem as campanhas eleitorais em espaços de escárnio e maledicência em vez de serem espaços de mobilização e de esclarecimento dos cidadãos. Isto se realmente existe a intenção de dignificar a política, independentemente das divergências existentes, e ainda bem, entre partidos e candidatos. Esta semana, por exemplo, li no editorial do DN de Lisboa, uma crítica, que subscrevo, acho pertinente e que nada tem a ver com opções partidárias em concreto: “Este ano as eleições regionais da Madeira têm mais um protagonista. Chama-se “Manuel da Bexiga”. É um actor contratado pelo PND de Manuel Monteiro para fazer de falso candidato na campanha. Faz comícios e até foi ele que inaugurou a sede da campanha. Anda sempre com uma tesoura de poda porque o seu objectivo é "podar o Jardim". Manuel Monteiro, que por estes dias tem estado na Madeira, justificou esta ideia de campanha da seguinte forma: considerando que a democracia é uma farsa, faz da sua campanha outra. Tudo isto diz muito do respeito que tem pela democracia Manuel Monteiro, pessoa cujas opiniões ainda são ouvidas e que já teve responsabilidades partidárias. Por outro lado, mais grave, ajuda a arredar da campanha da Madeira o debate político. No fundo, este é mais um exemplo do estilo que os políticos usam quando a questão é João Jardim. Com acusações levianas e habitualmente desmentidas pelas urnas. Ainda na sexta-feira passada, o próprio José Sócrates disse no Parlamento que a Madeira tinha um ambiente de claustrofobia democrática. Se acha isso, devia actuar, como primeiro-ministro. Se não acha, não o devia dizer. E é assim, sem oposição à altura, que Jardim vai ganhar as nonas eleições. E, segundo as sondagens, com mais votos que as anteriores”.
Aproveitemos estes dias que ainda faltam.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 02 de Maio 2007
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