PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Artigo: VERDADE E CAMPANHA

Como é sabido, estamos em campanha eleitoral, um período substancialmente diferente de tudo o que lhe antecede, dado que legalmente são impostas regras aos meios de comunicação social. O problema é saber até que ponto a Comissão Nacional de Eleições deixa de ser uma espécie de entidade reguladora para se transformar num órgão restritivo da liberdade opinativa e, mais do que isso, em certa medida percursor de mecanismos de censura ou de auto-censura que num regime democrático são absolutamente intoleráveis.
Eu percebo o incómodo de certas situações e sobretudo de certas (novas) funções. Mas acho absolutamente intolerável que em nome do respeito pela alegada paridade no tratamento de conteúdo dos meios de comunicação social – em termos de cobertura informativa – se generalize, se alargue a terceiros, no meu caso um articulista de JM que não é de hoje, ultrapassando os limites do razoável e de toda a lógica. Como é que se pode aceitar que em nome de uma paridade informativa – e se algum partido resolver não ter iniciativas nenhumas, pode ele reclamar, depois, pelo facto dos jornalistas não terem andado à procura dos seus dirigentes e candidatos?... – se imponham regras que sendo aceitáveis e até compreensíveis no plano da legalidade eleitoral, passam a ser inconstitucionais no plano da liberdade de opinião? Eu não sou candidato, é bom que se tenha presente. Obviamente que as pessoas sabem que eu sou do PSD, que sou seu dirigente, quer já fui candidato e deputado eleito no passado recente. Mas neste, momento não sou. Mas não faço nenhum travestismo político só porque estamos em campanha eleitoral. Nada disso. Poderia aproveitar este espaço para falar no partido do signatário e para atacar, por exemplo, ou criticar as propostas, os partidos do deputado Maximiano Martins (que não é candidato), do antigo deputado Ricardo Vieira (que não é candidato), do partido da Rua da Carreira (não identificado) ou do partido da antiga deputada Violante Matos (que não é candidato). Não estaria a referir-me a partidos, nem sequer a falar de candidatos, já que essencialmente o objectivo da neutralidade em períodos de campanha reside nestes dois itens.
Vou então referir-me a factos, a coisas concertas, a realidade mais ou menos conhecidas mas que em certa medida têm ocupado este espaço de campanha e que certamente vão ocupar os dias que se seguem até 4 de Maio. E tentar despertar a consciência nem sempre atenta das pessoas.
Comecemos pelos 8 mil empregos numa região que o partido do deputado Maximiano Martins diz tem 9 mil desempregados. Uma região que faz parte de um País com quase 500 mil desempregados, porque em Lisboa se encontra instalado um governo que diz que o que conta são as regras do mercado, que os agentes económicos é que estabelecem os mecanismos de funcionamento do mercado, que os governos são apenas uma espécie de entidades reguladoras, que para haver mais desenvolvimento terá que haver mais desemprego, etc. Ora, é sabido que um dos problemas que de uma forma mais pertinente se colocam hoje, tal como no passado, à Madeira, tem a ver com o emprego. Não esperem de mim, que primo sempre pela verdade e pelo rigor da coerência que imponho a mim próprio como factores essenciais, que venha para aqui dizer que a Madeira tem 2, 3, 4 ou 5 mil desempregados, que a economia funciona na sua plenitude, que o tecido empresarial, esmagadoramente centrado nas pequenas e médias empresas, absorve os recursos humanos disponíveis, que o funcionalismo público não tem representado, nem representa ainda, uma parcela importante de ocupação de efectivos, porventura colocando a Madeira com funcionários a mais, etc. Nada disso, porque estaria a ser hipócrita. Madeira tem hoje 8.300 desempregados, mais coisa menos coisa. Se a preocupação é arredondar, então arredondemos para baixo, porque a verdade o exige. Alguém acredita nos candidatos quais charlatões de pacotilha que tanto prometem o pleno emprego como escondem a realidade fortemente condicionadora com a qual a Madeira se confronta? Perdemos muitas vezes, e nos políticos, principalmente quando em campanha, isso é doentiamente gritante, a noção da nossa realidade, da nossa dimensão, dos nossos condicionalismos enquanto região distante dos principais centros de decisão, marcada pela insularidade e pela ultraperifericidade, refém de exigências que no nosso caso são importantes mas que para outras regiões podem ser menos importantes (por exemplo os transportes aéreas e a sua eficácia). Mas não podemos perder, seja em que situação for e a que pretexto for, o respeito pelos cidadãos e pelo estrito cumprimento da verdade. Criar 350 empresas por ano? Mas como? Vai o partido do deputado Maximiano Martins impor por decreto esse número? Vão encostar os empresários à parede e obrigá-los a gerar empresas como nós bebemos água? Incentivos às empresas? Quais, em concreto? Vai o partido do deputado Maximiano Rodrigues criar mecanismos de apoio fiscal, reduzindo taxas, etc? E que receitas teria a Região, neste quadro, particularmente quando está a braços quer com as catanadas resultantes da imposição política de uma lei de finanças regionais selvagem e vergonhosamente partidária, quer com os naturais cortes nas transferências financeiras da União Europeia em consequência do facto da Madeira ter deixado de integrar o lote das chamadas regiões “objectivo 1”? Criar 8 mil postos de trabalho por ano? Já pensaram bem? Quando o partido do deputado Maximiano Martins está freneticamente a reduzir em 75 mil o número de funcionários públicos no Continente, na Madeira, pelos vistos, faz o contrário, só não os mantém todos como ainda por cima cria uma média de 2 mil novos postos de trabalho por ano (dividam os 8 mil prometidos por 4 anos, o tempo de uma Legislatura, e chegam lá…). Uma pergunta final: alguém acredita ser possível que o Caniçal venha a ser um dia destes campeão da Europa de futebol, vencendo na final o real Madrid ou o Chelsea? Se acreditam nisso, então podem acreditar nos 8 mil novos empregos prometidos…
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 24 de Abril 2007

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