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Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Artigo: Campanha: faltam 2 dias

“Não quero fazer moral, mas dou o seguinte conselho àqueles que a fazem: se quereis tirar às melhores coisas todo o prestígio e todo o valor, continuai a falar delas como o fazeis. Fazei disso o centro da vossa moral, repeti de manhã à noite a felicidade da virtude, a tranquilidade da alma, a equidade e a justiça imanente; pelo caminho por onde ides, essas excelentes coisas acabarão por ganhar o coração do povo; a voz do povo estará do seu lado; mas, passando de mão em mão, perderão toda a sua duradoura; pior: o seu ouro transformar-se-á em chumbo. Ah! Como sois peritos nessas contra-alquimias! Como sabeis desvalorizar as substâncias mais preciosas! Tentai, portanto, uma vez, a título de experiência, uma receita diferente, se não quereis, como até agora, conseguir o contrário daquilo que procurais: negai essas excelentes coisas, retirai-lhes o aplauso da multidão, entravai a sua circulação, voltai a fazê-las outra vez o objecto de secreto pudor da alma solitária, dizei que a moral é um fruto proibido! Talvez ganheis então para a vossa causa a única espécie de homens que interessa, quero dizer, a raça dos heróis (...)” – Friedrich Nietzsche (A Gaia Ciência)

Hoje, quinta-feira, penúltimo dia de campanha eleitoral. Os dois principais partidos – PSD e PS – têm as suas iniciativas de encerramento previstas para o Funchal, a poucos metros uma da outra. Será o fechar da cortina de uma campanha bipolarizada, onde em meu entender ficou mais do que evidente que a lei das finanças regionais terá sido a causa, senão a próxima uma das mais próximas, da demissão do governo regional e da convocação de eleições antecipadas o que ocorre pela primeira vez na Região desde 1976.
Assim como a demissão não constituiu nenhuma patética “traição” como alguns andaram por aí a falar – por exemplo, António Guterres, que tinha sido eleito para um mandato de 4 anos, demitiu-se depois da derrota nas autárquicas de 2005 e por causa de crescentes divergências no seio do PS e ninguém o chamou de “traidor” ou tontices do género – também as eleições regionais, por si só, não serão uma “varinha de condão” susceptível de resolver, todos os problemas por simples toque de magia. Trata-se -e ninguém sabe ainda qual será o resultado eleitoral de domingo – da liberdade, ao dispor de qualquer político ou partido, de procurar um reforço da legitimação política, dotando o vencedor das eleições de uma consistência que, porventura, estava a ser questionada nalguns círculos políticos nacionais.
Eu continuo a pensar – e tenho-o referido sistematicamente nestes meus artigos – que a maioria do eleitorado madeirense votante, estimo que mais de 80% dos eleitores que participam nos actos eleitorais, já definiu o seu sentido de voto e que, salvo uma hecatombe política qualquer, não precisa das campanhas eleitorais para optar. Desconfio que alguns partidos ainda não perceberam isto. A prioridade das campanhas eleitorais deve ser direccionada para duas vertentes distintas mas igualmente importantes: a primeira, a mobilização do eleitorado, para que desta forma se combata, de facto, a abstenção. Mas não acredito que tal desiderato seja alcançado com campanhas perfeitamente patéticas, feitas a reboque da comunicação social ou penduradas nos tempos de antena de ridículos 3 ou 4m que a televisão ou a rádio propiciam durante a campanha. Muito menos a abstenção será seriamente combatida com partidos sem qualquer actividade política quotidiana na Região – em grande medida por não terem representação parlamentar – que nem conseguem promover, por manifesta incapacidade, total desenquadramento relativamente à política e por falta de base social e eleitoral de apoio, qualquer iniciativa de mobilização das pessoas. Eu penso também que o radicalismo político, fruto de uma bipolarização política que na Região não é novidade, também não ajuda.
A segunda vertente das campanhas tem mais a ver com o chamado eleitorado flutuante (prefiro este tema ao de “indecisos”), que não tem qualquer militância partidária, nem uma obrigatória fidelidade eleitoral, e que normalmente varia as suas opções em função da natureza do acto eleitoral. Eu estimo que essa parcela do eleitorado regional se situa nos 20 a 25%, muitos deles não votam ou quando o fazem podem ser influenciados pelas campanhas, pelos discursos políticos, pela credibilidade dos candidatos e pelas propostas que eles apresentem.
É sabido que as campanhas eleitorais se desenvolvem não exclusivamente com base nos manifestos eleitorais dos partidos. Repito, a credibilidade dos partidos, a consistência do seu discurso, a confiança que os seus líderes e candidatos transmitem, a coerência comportamental, antes das eleições, são factores essenciais que, conjugados podem influenciar as opções do eleitorado que vota de uma forma totalmente despreendida, sem um vínculo obrigatório. É sabido que nisto de manifestos a demagogia impera em toda a dimensão, particularmente para quem estando na oposição sabe que nunca poderá ganhar um acto eleitoral. Por isso, é fácil estar na oposição e prometer o paraíso na terra. Sócrates em Fevereiro de 2005 também prometeu 150 mil novos postos de trabalho e baixar os impostos. É ver o que aconteceu às famílias e às empresas por causa do aumento da carga fiscal e consultar as estatísticas oficiais sobre desemprego...
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 03 de Maio 2007

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