Artigo: Lisboa
Vamos ter eleições em Lisboa, para a Câmara Municipal, tal como era inevitável. A edilidade da capital tem protagonizado, desde as eleições de Dezembro de 2005, um percurso turbulento, diria truculento, marcado por casos de suspeita de corrupção, pela constituição de arguidos entre os vereadores, pela existência de uma autêntica libertinagem na gestão de empresas públicas municipais, por divergências políticas insanáveis, entre PSD e CDS/PP, quando era suposto que fossem eles o garante da maioria absoluta que Carmona Rodrigues não dispunha, enfim, um manancial de “casos”, demasiados para tão pouco tempo, num processo que em nada dignifica, nem os eleitos, nem a política, nem os partidos directamente envolvidos a esta situação, nem a cidade.
Era mais do que evidente que após a demissão de dois vereadores eleitos pelo PSD, ambos por terem sido constituídos arguidos em processos diferentes, relacionados com os negócios da CML com a “Braga Parques”, responsável pela concessão dos parques de estacionamento da cidade, e apostada noutras negociatas, retirou qualquer capacidade de gestão eficaz e tranquila à autarquia lisboeta. Mas como se tudo isto não bastasse, houve ainda um caso que para mim continua a ter contornos mal clarificados e que se relaciona com a alegada tentativa de aliciamento do vereador Sá Fernandes, eleito pelo Bloco de Esquerda, no sentido deste apoiar um negócio que a CML e aquela empresa tinham agendado. Conhecendo-se o vereador em questão, a sua dependência doentia de protagonismo na comunicação social (que não o regateia), a sua inultrapassável fobia por Carmona Rodrigues - antes por Santana Lopes – e finalmente o partido pelo qual foi candidato e eleito, ninguém percebe bem como é que uma empresa, na posse de todos estes indicadores concretos, tenta subornar semelhante pessoa sabendo que era inevitável – até pelo carácter da pessoa em questão, e que até hoje pelo menos nunca foi posto em causa – que o assunto fosse denunciado publicamente.
Mas deixemos de lado esses episódios e centremo-nos no que vai acontecer, ou melhor, no que porventura poderá acontecer na maior cidade do país, no plano político e partidário. É bom referir, desde logo, que as eleições para a Câmara de Lisboa, nos termos da lei, serão intercalares, válidas apenas até final do actual mandato, 2009, ano em que novas eleições terão lugar. É neste contexto, e por causa disto, que admito como perfeitamente plausível que PSD e PS tenham dificuldade em convencer qualquer ”peso pesado” em aceitar uma candidatura, ainda por cima, no caso do PSD, nas circunstâncias e pelas causas conhecidas em que tudo isto acontece. A primeira expectativa reside, em meu entender, na clarificação da posição do PSD acerca da não realização de eleições para a Assembleia Municipal, numa posição perfeitamente tonta e absurda. O segundo ponto relaciona-se com a divulgação dos candidatos, porque isso poderá ser fundamental para percebermos os contornos, a intensidade e os objectivos eleitorais e do combate político que se adivinha.
O PSD, que já saiu fortemente chamuscado deste processo, que demorou muito a perceber o que estava em causa, que ainda por cima pareceu, a dada altura, estar condicionado ou até refém do que um “independente” resolvia ou não decidia, tem agora nos braços um dos desafios mais importantes dos últimos anos, porventura o maior: ou ganha a Câmara de Lisboa, abrindo porventura uma crise política na maioria socialista, confirmando o fosso entre o PS e o eleitorado, ou, pelo contrário, tudo isso cai por terra, o PSD perde a maior a Câmara do país, retira consistência aos argumentos de que a governação socialista está distante das pessoas, e atira os social-democratas para uma crise política interna para a qual não existirá outra solução que não seja a imediata convocação de um congresso extraordinário e a demissão de Marques Mendes por comprovada incapacidade em propiciar ao PSFD resultados políticos e eleitorais concretos. Quem não consegue ganhar a Câmara de Lisboa em 2007, vai ganhar o País dois anos depois, em 2009?
Julgo que Marques Mendes percebeu sempre esta realidade, que foi em certa medida cúmplice no protelar de uma decisão que há muito parecia inevitável, permitindo o arrastar do “caso” no tempo, talvez porque não tinha (desconfio que não tem) candidato e porque não pode correr o risco de sofrer uma derrota eleitoral. Aliás, é sintomático que o PS – que sempre atirou para o PSD a ”batata quente” – tenha surgido lesto, quando Mendes reconheceu a necessidade de eleições intercalares a responsabilizá-lo pela crise, com a particularidade de recordar ter sido ele o responsável pela escolha de Carmona Rodrigues. Penso – tenho que dizer – que Mendes tem que por de lado essa treta dos “independentes”. Quando o PSD não obteve em Lisboa a maioria absoluta que Rio alcançou no Porto, apesar das reconhecidas condições políticas e eleitorais para o fazer, Marques Mendes sofreu um primeiro (pequeno) revés, suavizado apenas pelo facto do PSD ter sido o mais votado e ter conquistado a presidência da Câmara. Mas Carmona não foi, decididamente, nenhuma mais-valia eleitoral. A sua comprovada inabilidade na gestão política, por exemplo das relações com o CDS/PP, foi reveladora de que na política, sobretudo a um nível mais elevado, as pessoas que manifestam preocupação em sublinhar o seu estatuto de independentes, das duas uma: ou vão jogar golfe e não chateiam ou candidatam-se por listas de cidadãos.
Luís Filipe Malheiro
Era mais do que evidente que após a demissão de dois vereadores eleitos pelo PSD, ambos por terem sido constituídos arguidos em processos diferentes, relacionados com os negócios da CML com a “Braga Parques”, responsável pela concessão dos parques de estacionamento da cidade, e apostada noutras negociatas, retirou qualquer capacidade de gestão eficaz e tranquila à autarquia lisboeta. Mas como se tudo isto não bastasse, houve ainda um caso que para mim continua a ter contornos mal clarificados e que se relaciona com a alegada tentativa de aliciamento do vereador Sá Fernandes, eleito pelo Bloco de Esquerda, no sentido deste apoiar um negócio que a CML e aquela empresa tinham agendado. Conhecendo-se o vereador em questão, a sua dependência doentia de protagonismo na comunicação social (que não o regateia), a sua inultrapassável fobia por Carmona Rodrigues - antes por Santana Lopes – e finalmente o partido pelo qual foi candidato e eleito, ninguém percebe bem como é que uma empresa, na posse de todos estes indicadores concretos, tenta subornar semelhante pessoa sabendo que era inevitável – até pelo carácter da pessoa em questão, e que até hoje pelo menos nunca foi posto em causa – que o assunto fosse denunciado publicamente.
Mas deixemos de lado esses episódios e centremo-nos no que vai acontecer, ou melhor, no que porventura poderá acontecer na maior cidade do país, no plano político e partidário. É bom referir, desde logo, que as eleições para a Câmara de Lisboa, nos termos da lei, serão intercalares, válidas apenas até final do actual mandato, 2009, ano em que novas eleições terão lugar. É neste contexto, e por causa disto, que admito como perfeitamente plausível que PSD e PS tenham dificuldade em convencer qualquer ”peso pesado” em aceitar uma candidatura, ainda por cima, no caso do PSD, nas circunstâncias e pelas causas conhecidas em que tudo isto acontece. A primeira expectativa reside, em meu entender, na clarificação da posição do PSD acerca da não realização de eleições para a Assembleia Municipal, numa posição perfeitamente tonta e absurda. O segundo ponto relaciona-se com a divulgação dos candidatos, porque isso poderá ser fundamental para percebermos os contornos, a intensidade e os objectivos eleitorais e do combate político que se adivinha.
O PSD, que já saiu fortemente chamuscado deste processo, que demorou muito a perceber o que estava em causa, que ainda por cima pareceu, a dada altura, estar condicionado ou até refém do que um “independente” resolvia ou não decidia, tem agora nos braços um dos desafios mais importantes dos últimos anos, porventura o maior: ou ganha a Câmara de Lisboa, abrindo porventura uma crise política na maioria socialista, confirmando o fosso entre o PS e o eleitorado, ou, pelo contrário, tudo isso cai por terra, o PSD perde a maior a Câmara do país, retira consistência aos argumentos de que a governação socialista está distante das pessoas, e atira os social-democratas para uma crise política interna para a qual não existirá outra solução que não seja a imediata convocação de um congresso extraordinário e a demissão de Marques Mendes por comprovada incapacidade em propiciar ao PSFD resultados políticos e eleitorais concretos. Quem não consegue ganhar a Câmara de Lisboa em 2007, vai ganhar o País dois anos depois, em 2009?
Julgo que Marques Mendes percebeu sempre esta realidade, que foi em certa medida cúmplice no protelar de uma decisão que há muito parecia inevitável, permitindo o arrastar do “caso” no tempo, talvez porque não tinha (desconfio que não tem) candidato e porque não pode correr o risco de sofrer uma derrota eleitoral. Aliás, é sintomático que o PS – que sempre atirou para o PSD a ”batata quente” – tenha surgido lesto, quando Mendes reconheceu a necessidade de eleições intercalares a responsabilizá-lo pela crise, com a particularidade de recordar ter sido ele o responsável pela escolha de Carmona Rodrigues. Penso – tenho que dizer – que Mendes tem que por de lado essa treta dos “independentes”. Quando o PSD não obteve em Lisboa a maioria absoluta que Rio alcançou no Porto, apesar das reconhecidas condições políticas e eleitorais para o fazer, Marques Mendes sofreu um primeiro (pequeno) revés, suavizado apenas pelo facto do PSD ter sido o mais votado e ter conquistado a presidência da Câmara. Mas Carmona não foi, decididamente, nenhuma mais-valia eleitoral. A sua comprovada inabilidade na gestão política, por exemplo das relações com o CDS/PP, foi reveladora de que na política, sobretudo a um nível mais elevado, as pessoas que manifestam preocupação em sublinhar o seu estatuto de independentes, das duas uma: ou vão jogar golfe e não chateiam ou candidatam-se por listas de cidadãos.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 07 de Maio 2007
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