PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Artigo: CAMPANHA: ÚLTIMO DIA

Vem nos livros!
O pior que pode acontecer aos partidos e aos políticos, em campanha, é uma sucessão de sondagens negativas ou que os colocam muito distantes de objectivos políticos e eleitorais concretos. Pelo desânimo, pela constatação da realidade, regra geral manipulada em campanhas eleitorais, pela evidência das opções do eleitorado, pelos indicadores que antecipadamente, ou mesmo durante o processo eleitoral, os partidos recolhem.
A publicação de sondagens transformou-se n uma rotina em Portugal. Sobram as empresas que se dizem especialistas.
Podemos questionar os modelos adoptados para a realização de sondagens – particularmente as telefónicas – na medida em que poder-se-á questionar as características do agregados familiares contactados, e quais são aqueles que possuem telefone de rede, instrumento utilizado neste tipo de consulta. Podemos questionar ainda a sinceridade das respostas obtidas, se existe ou não deturpação das reais opções eleitorais das pessoas contactadas, se existe ou não o receio de responder com verdade a um contacto telefónico estranho, temendo, por exemplo, uma posterior associação entre a opção eleitoral revelada e o telefone contactado, etc. Existe, como se vê uma imensidão de factores que conjugados, convidam a uma certa perspectiva cautelosa e calculista sempre que se trata de analisar sondagens eleitorais.
Tenho uma grande dificuldade, porventura mesmo uma indisfarçável relutância, em aceitar o primado das sondagens. Acho que o calculismo, repito, nesta matéria nunca é demasiado, nem deixa de constituir uma adequada recomendação. Mas uma coisa é o que penso sobre as sondagens, outra coisa é a legitimidade da sua realização, o interesse mesmo que as rodeia – tudo depende da apreciação cuidada das respectivas fichas técnicas... – e das análise, mais ou menos fantasiosas que se façam em função de resultados que não passam de um somatório de indicadores e de projecções aleatoriamente trabalhados pelas empresas se realizam este trabalho. “As sondagens valem o que valem”! É comum ouvirmos os políticos repeti-lo muitas vezes, quase sempre por motivações diferentes. Os que são beneficiados para neutralizarem qualquer euforia excessiva e precoce da qual se possam depois arrepender, e os perdedores para amenizarem o impacto decorrente de resultados negativos ou de derrotas em previsão que podem até ter uma amplitude ainda maior.
As sondagens têm uma espécie de lado “negro”, mais pernicioso, particularmente quando se pretende combater a abstenção. A repetitiva insistência, por via das sondagens, em vitórias (ou derrotas) antecipadas, pode contribuir para a desmobilização de importantes parcelas do eleitorado, com as inevitáveis consequências nos níveis de participação os quais, sem questionarem a legitimidade democrática dos vencedores, podem naturalmente, por via de algum aproveitamento político mais ”espertalhão”, fragilizar o processo eleitoral em si mesmo. Ora um dos objectivos das regionais de 6 de Maio é impedir o crescimento da abstenção que em 2004 rondou os 40%, mais de 90 mil eleitores (mesmo que, no que a este assunto diz respeito, possamos questionar a validade dos cadernos eleitorais em termos de efectiva, repito, de efectiva actualização)
Mas não somos hipócritas. As sondagens são sempre um indicador, com todos os “descontos” que lhes possamos dar. E é a partir destes indicadores que os partidos começam a ser influenciados, que o desespero aumenta (ou não), que os candidatos muitas vezes perdem o controlo e acabam por cair na mediocridade e no absurdo de não serem mais capazes de distinguir entre a demagogia manipuladora pura e simples e o realismo ético de quem quer ser levado a sério. Todas as sondagens até hoje publicadas apontam para uma direcção e mostram - pelo menos é essa a minha interpretação – que o eleitorado madeirense, muito mais habituado a votar comparativamente ao eleitorado continental (por força de mais 8 eleições regionais já realizadas, e que acrescem a todos os demais actos eleitorais de âmbito nacional até hoje realizados), sabe o que está em causa, conhece as causas próximas e mais remotas da conjuntura política regional, conhece os contornos associados à lei de finanças regionais e às motivações políticas e partidárias a ela subjacentes, enfim, saberá distinguir entre o “trigo e o joio”. Pena é que regularmente, sempre que se realizam eleições na Madeira, o eleitorado da regional seja confrontado com acusações pelo simples facto de votar no PSD. Pelos vistos, o eleitorado madeirense, para se libertar desse estigma, de todos esses atestados de menoridade que sistematicamente lhe são passados, de forma sectária e manipulada, quer por políticos perdedores, quer por outras cumplicidades conhecidas de quem deveria ter o dever ético de isenção, vai ter que votar a pedido, numa oposição que não se revê, em candidatos a quem não quer entregar os destinos da Região.
Caso contrário, o eleitorado regional terá que continuar a ouvir tretas como a do “défice democrático” (ou não será défice de oposição?) ou acusações de “farsa eleitoral” e outras coisas do género. Enquanto isso, neste último dia de campanha eleitoral – e esperando pela noite de domingo para perceber se, finalmente, alguém vai perder eleições”!... – seja-me permitido citar Gonçalo M. Tavares (em “O Senhor Kraus”): “Depois de uma campanha eleitoral animada, a grande vantagem de qualquer eleição democrática é a de o povo sair, finalmente, da sala de estar dos políticos. É uma sensação de alívio que alguns eleitos descrevem como semelhante ao momento em que uma dor intensa, por qualquer razão obscura, termina. (...) Depois de qualquer eleição a sensação dos políticos - quer tenham perdido quer tenham ganho - é a de que o povo mais profundo acaba de entrar todo num comboio, dirigindo-se, compactamente, para uma terra distante. Esse povo voltará apenas, no mesmo comboio, nas semanas que antecedem a eleição seguinte. Esse intervalo temporal é indispensável para que o político tenha tempo para transformar, delicadamente, o ódio ou a indiferença em nova paixão genuína”. Pois é...
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 04 de Maio 2007

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