Artigo: DESAFIOS
As eleições regionais de domingo acabaram com um mito, alimentado durante mais de vinte anos, o de que o PSD da Madeira ganhava as maiorias absolutas por causa da anterior lei eleitoral e que uma nova lei eleitoral acabaria com esse predomínio eleitoral dos social-democratas. Mais. Neste contexto, os resultados de domingo também são uma vitória de Alberto João Jardim e dos poucos, no PSD, que o apoiaram na sua iniciativa de aceitar uma nova lei eleitoral, sobretudo quando confrontado que o Partido Socialista se preparava para avançar com um modelo eleitoral extraordinariamente “esquisito”. Eu recordo – e as pessoas não podem ter memória curta, muito menos em política – que, publicamente, foram feitas declarações evidenciando algum desagrado por essa alteração e dúvidas quanto ao seu impacto na realidade eleitoral social-democrata. Ora os resultados eleitorais de domingo mostraram que o problema dos partidos políticos não residia propriamente na anterior lei eleitoral, mas sim numa questão de credibilidade, de recolha de apoio junto da opinião pública, de carácter e de coerência, de conquista de credibilidade do eleitorado, porque no fundo é este que vota e não os meios de comunicação social onde paradoxalmente muitas vezes parece centrar-se o debate político regional e mesmo nacional.
Partidos com candidatos desconhecidos e que não oferecem garantias, com líderes desacreditados e que não conseguem, com esta ou com qualquer outra lei eleitoral que produzam, ganhar seja o que for, podem procurar justificações (?) para as suas derrotas eleitorais, mas nunca com base na lei eleitoral. O que se passou em 6 de Maio foi a demonstração de que a nova lei eleitoral beneficiou os pequenos partidos, alargou o leque partidário com representação parlamentar, mas em nada beliscou a posição hegemónica do partido maioritário.
Mas eu não tenho ilusões. Os resultados de domingo foram, para o PSD da Madeira, uma excepção. Estávamos todos convencidos de que a vitória seria uma realidade, porventura nunca duvidamos disso, sobretudo à medida que a campanha se desenvolvia e constatávamos a empatia que recebíamos, a forma atenta como a principal mensagem política do candidato do PSD era ouvida pelas pessoas, o interesse manifestado em perceber o que se passa, etc. Mas a amplitude da vitória – embora as sondagens começassem a indiciar alguma coisa de extraordinários nos últimos dias – não era conhecida.
Penso que as regionais de 6 de Maio desfizeram um mito e propiciaram a Alberto João Jardim, também neste domínio, uma vitória política pessoal que retirou consistência e razão de ser a todas as dúvidas e críticas, umas mais abertas do que outras, que então se ouviram. Obviamente que eu considero, até pelo bom senso e pelo pragmatismo com que olho para resultados eleitorais, depois deles conhecidos, que o desfecho eleitoral de 6 de Maio foi uma excepção. A conjugação de vários factores, a influência decisiva de uma determinada situação em concreto (o impacto negativo da lei de finanças regionais e as motivações políticas, partidárias e eleitorais que estiveram subjacentes à a sua aprovação nos moldes em que aconteceu), determinaram a renovação de um voto de confiança do eleitorado em Alberto João Jardim, mais nele do que no PSD, para que seja ele a tomar a iniciativa de tentar resolver o diferendo com a República e salvaguardar os interesses da Madeira e dos Madeirenses.
O pior que poderia acontecer, agora, era mergulhar a Região na sensação do “dejá vu”, de “mais do mesmo”, porque diga-se o que se disser, a verdade é que para além das responsabilidades dos socialistas, os de lá e os de cá - pela sua cumplicidade doentia e pela desavergonhada colagem ás decisões de Lisboa, sem que ousassem, como lhes competia, uma vez que fosse, questionar o que era feito e decidido – criou-se entre as pessoas a ideia de que politicamente houve também, em termos regionais, alguma inércia, tudo porque Alberto João Jardim foi obrigado a um intervencionismo generalizado, mesmo em questões menores, mas desgastantes, em relação às quais poderia ter ficado mais distante.
Não se pode tolerar, e esse sentimento foi decisivo nos resultados eleitorais, que deputados eleitos pela Madeira aplaudissem de pé na Assembleia da República uma lei de finanças regionais, que embora justificada com argumentos que obviamente teriam que ser aceites e compreendidos, a verdade é que prejudica) a Madeira, penalizando uma região que, por mais desenvolvida que seja, no quadro das regiões portuguesas, nunca deixará de ser será, sempre, uma região marcada pela insularidade e pela ultraperiferia, realidades fortemente condicionadoras. Isso aconteceu com os deputados socialistas eleitos pela Região que contribuíram, em muito, para a derrota do seu partido e para um certo sentimento de ajuste de contas que se instalou no eleitorado e que teve repercussão nas urnas.
Para além das responsabilidades dos socialistas, que por isso foram penalizados, constatou-se que no plano político – e os governos são políticos (anda esta semana num programa de televisão, Adriano Moreira afirmou que o pior que está a acontecer em Portugal é que as pessoas votam em partidos e em pessoas que por eles dão a cara, mas depois assistem ao desfilar no poder de indivíduos que não conhecem de lado nenhum, que não foram plebiscitados pelos cidadãos e que se comportam no poder como meros funcionários e gestores de interesses e da carreira pessoal) – a região não foi capaz de encontrar, pelo menos até hoje, canais de diálogo com Lisboa, talvez porque a partir de determinada altura porventura não tomou qualquer iniciativa quando se apercebeu que não teria sucesso. O que é facto é que Alberto João Jardim, porventura mais do que se lhe exigia, foi obrigado a envolver-se em contendas em relação ás quais poderia ter sido mais protegido, acabando por desgastar-se perante o poder central – não propriamente perante a opinião pública regional, como mostram os resultados. Duvido que a persistência de qualquer situação de fragilidade política, porventura até de alguma incapacidade para resolver com Lisboa seja o que for, atenuando desta forma as dificuldades que, a manter-se tudo na mesma, vão certamente colocar a Madeira perante desafios tremendos, funcione como uma mais-valia. Situações que não funcionaram adequadamente - mesmo que não tenham influído nos resultados eleitorais – não me parecem poder ser solução de coisa nenhuma.
Luís Filipe Malheiro
Partidos com candidatos desconhecidos e que não oferecem garantias, com líderes desacreditados e que não conseguem, com esta ou com qualquer outra lei eleitoral que produzam, ganhar seja o que for, podem procurar justificações (?) para as suas derrotas eleitorais, mas nunca com base na lei eleitoral. O que se passou em 6 de Maio foi a demonstração de que a nova lei eleitoral beneficiou os pequenos partidos, alargou o leque partidário com representação parlamentar, mas em nada beliscou a posição hegemónica do partido maioritário.
Mas eu não tenho ilusões. Os resultados de domingo foram, para o PSD da Madeira, uma excepção. Estávamos todos convencidos de que a vitória seria uma realidade, porventura nunca duvidamos disso, sobretudo à medida que a campanha se desenvolvia e constatávamos a empatia que recebíamos, a forma atenta como a principal mensagem política do candidato do PSD era ouvida pelas pessoas, o interesse manifestado em perceber o que se passa, etc. Mas a amplitude da vitória – embora as sondagens começassem a indiciar alguma coisa de extraordinários nos últimos dias – não era conhecida.
Penso que as regionais de 6 de Maio desfizeram um mito e propiciaram a Alberto João Jardim, também neste domínio, uma vitória política pessoal que retirou consistência e razão de ser a todas as dúvidas e críticas, umas mais abertas do que outras, que então se ouviram. Obviamente que eu considero, até pelo bom senso e pelo pragmatismo com que olho para resultados eleitorais, depois deles conhecidos, que o desfecho eleitoral de 6 de Maio foi uma excepção. A conjugação de vários factores, a influência decisiva de uma determinada situação em concreto (o impacto negativo da lei de finanças regionais e as motivações políticas, partidárias e eleitorais que estiveram subjacentes à a sua aprovação nos moldes em que aconteceu), determinaram a renovação de um voto de confiança do eleitorado em Alberto João Jardim, mais nele do que no PSD, para que seja ele a tomar a iniciativa de tentar resolver o diferendo com a República e salvaguardar os interesses da Madeira e dos Madeirenses.
O pior que poderia acontecer, agora, era mergulhar a Região na sensação do “dejá vu”, de “mais do mesmo”, porque diga-se o que se disser, a verdade é que para além das responsabilidades dos socialistas, os de lá e os de cá - pela sua cumplicidade doentia e pela desavergonhada colagem ás decisões de Lisboa, sem que ousassem, como lhes competia, uma vez que fosse, questionar o que era feito e decidido – criou-se entre as pessoas a ideia de que politicamente houve também, em termos regionais, alguma inércia, tudo porque Alberto João Jardim foi obrigado a um intervencionismo generalizado, mesmo em questões menores, mas desgastantes, em relação às quais poderia ter ficado mais distante.
Não se pode tolerar, e esse sentimento foi decisivo nos resultados eleitorais, que deputados eleitos pela Madeira aplaudissem de pé na Assembleia da República uma lei de finanças regionais, que embora justificada com argumentos que obviamente teriam que ser aceites e compreendidos, a verdade é que prejudica) a Madeira, penalizando uma região que, por mais desenvolvida que seja, no quadro das regiões portuguesas, nunca deixará de ser será, sempre, uma região marcada pela insularidade e pela ultraperiferia, realidades fortemente condicionadoras. Isso aconteceu com os deputados socialistas eleitos pela Região que contribuíram, em muito, para a derrota do seu partido e para um certo sentimento de ajuste de contas que se instalou no eleitorado e que teve repercussão nas urnas.
Para além das responsabilidades dos socialistas, que por isso foram penalizados, constatou-se que no plano político – e os governos são políticos (anda esta semana num programa de televisão, Adriano Moreira afirmou que o pior que está a acontecer em Portugal é que as pessoas votam em partidos e em pessoas que por eles dão a cara, mas depois assistem ao desfilar no poder de indivíduos que não conhecem de lado nenhum, que não foram plebiscitados pelos cidadãos e que se comportam no poder como meros funcionários e gestores de interesses e da carreira pessoal) – a região não foi capaz de encontrar, pelo menos até hoje, canais de diálogo com Lisboa, talvez porque a partir de determinada altura porventura não tomou qualquer iniciativa quando se apercebeu que não teria sucesso. O que é facto é que Alberto João Jardim, porventura mais do que se lhe exigia, foi obrigado a envolver-se em contendas em relação ás quais poderia ter sido mais protegido, acabando por desgastar-se perante o poder central – não propriamente perante a opinião pública regional, como mostram os resultados. Duvido que a persistência de qualquer situação de fragilidade política, porventura até de alguma incapacidade para resolver com Lisboa seja o que for, atenuando desta forma as dificuldades que, a manter-se tudo na mesma, vão certamente colocar a Madeira perante desafios tremendos, funcione como uma mais-valia. Situações que não funcionaram adequadamente - mesmo que não tenham influído nos resultados eleitorais – não me parecem poder ser solução de coisa nenhuma.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 09 de Maio 2007
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