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terça-feira, 17 de julho de 2007

Artigo: LISBOA? E O RESTO?

Como nota preliminar, gostaria de referir que a mim é-me absolutamente indiferente quem ganha a Câmara de Lisboa, por que não resido na capital, nem as questões relacionadas com a gestão da cidade me dizem seja o que for ou me interessam. Portanto, o João, o António, a Maria, o Joaquim, a Francisca, ou qualquer outro, podia ser Presidente da Câmara de Lisboa que me estou absolutamente borrifando para isso.
Aliás, a eleição intercalar teve apenas lugar no concelho de Lisboa (53 freguesias), mas mesmo assim a mediatização foi grande obrigando os portugueses a ter que “gramar” com coberturas televisivas absurdas, dado que os telejornais nacionais davam destaque a uma corrida local, num universo de pouco mais de 500 mil eleitores. Até parecia que se tratavam de eleições nacionais ou que os resultados desta corrida eleitoral contribuiriam fosse o que fosse para a melhoria das condições de vida dos portugueses e para a sua felicidade.
Outra questão curiosa em torno destas eleições locais, foi o patético mostrado pela televisão: na festa de vitória de Costa, junto a um hotel em Lisboa, as pessoas entrevistas pela televisão – pelo menos foi essa a ideia transmitida – eram provenientes de Famalicão, Cabeceiras de Basto, Évora, Covilhã, nalguns casos em excursões organizadas durante o dia que por mera coincidência (!) culminaram naquela festa socialista, em Lisboa. Não percebo bem como é que a vitória do PS em Lisboa, ou fosse de qualquer outro partido, diz respeito e pode interessar a cidadãos do norte ou do sul do país ao ponto de os trazer a Lisboa para a respectiva festança? Penso que os socialistas encheram a sala de um hotel de Lisboa com militantes e simpatizantes do Norte do País (!) por mera precaução por não terem a certeza de que, mesmo ganhando, conseguiam fazer a festa da vitória.
Mas há a questão política que decorre deste acto eleitoral, e essa já me diz respeito, porque me questiona sobre a pujança, a motivação e a mobilização do PSD para se afirmar, como diz, como a alternativa aos socialistas nas eleições legislativas de 2009.
Isto porque em política as coisas raramente não são o que parecem. O que se passou nas eleições para a Câmara de Lisboa, domingo realizadas, foi mau demais para o PSD e para a sua estratégia, na medida em que foi Marques Mendes quem acelerou a queda do executivo camarário liderado por Carmona Rodrigues, mas pelos vistos não consegue esconder que os resultados funcionaram exactamente de uma forma contrária, penalizando o PSD e permitindo que o PS, pela primeira vez, tivesse ganho sozinho a edilidade da capital. Os factos são estes:
Inscritos, 524.248 eleitores
Votantes, 196.041 (37.39%)
Abstenção, 328.207 (62,6%)
Votos em Branco, 4.549 (2.32%)
Votos Nulos, 3.096 (1.58%)
PS, 57.907 votos (29.54% e 6 mandatos)
Lista de Carmona Rodrigues, 32.734 (16.70% e 3 mandatos)
PPD/PSD, 30.855 (15.74% e 3 mandatos)
Lista de Helena Roseta, 20.006 (10.21% e 2 mandatos)
PCP-PEV, 18.681 (9.53% e 2 mandatos)
Bloco de Esquerda, 13.348 (6.81% e 1 mandato)
O CDS-PP com 72.58 (3.70%) ficou fora e quanto aos demais partidos os resultados conseguidos foram insignificantes. Para compararmos estes resultados com os de 2005, temos que recordar o que então se passou:
Inscritos, 536.450 eleitores
Votantes, 282.443 (52.65%)
Abstenção, 254.007 (47,4%)
Votos em Branco, 7.538 (2.67%)
Votos Nulos, 4.733 (1.68%)
PPD/PSD, 119.837 votos (42.43%, 8 mandatos)
PS, 75.022 (26.56%, 5 mandatos)
PCP-PEV, 32.254 (11.42%, 2 mandatos)
Bloco de Esquerda, 22.342 (7.91%, 1 mandato)
CDS-PP, 16.723 (5.92%, 1 mandato)
Tal como é habitual, poderíamos fazer projecções “manipulando” resultados: se juntássemos os votos do PSD com os de Carmona Rodrigues, teríamos 63.589 votos e 32,4%. Mas se juntássemos António Costa com Helena Roseta, também teríamos 77.913 votos e 39,75%. Sucede que eu tenho a certeza que entre os votos de Carmona e Roseta estão muitos eleitores do PSD e do PS pelo que este tipo de projecções não devem ser feitas, pela falta de consistência e de seriedade.
No rescaldo das eleições, é evidente que a decisão, lógica e provavelmente a única que restava a Marques Mendes, seria antecipar as “directas”, às quais vai concorrer, sem responder antes a outras questões essenciais: está o PSD nacional em condições, sob a liderança de Marques Mendes, de disputar a vitória eleitoral em 2009 contra os socialistas? Como é possível que num país que a oposição diz estar revoltado contra o governo socialista, mesmo assim na Câmara de Lisboa o PS, apesar de tudo, consegue ser o mais votado? Quando é que o PSD vai discutir a estratégia de Mendes, se ela é a mais correcta, se há credibilidade, se os cidadãos aderem ao projecto político social-democrata, se existe convicção e motivação?
Luís Filipe Malheiro

Jorn al da Madeira, 17 de Julho 2007

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