PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Artigo: PSD

O PSD nacional volta a estar, comos e esperava, em ebulição, tudo por causa da vergonhosa derrota eleitoral sofrida para a Câmara de Lisboa, para o desgaste que naturalmente daí resultou e para o facto do partido estar hoje, em termos nacionais, desmotivado, distante da liderança, mergulhado na dúvida, sem dinâmica, sem crença, numa expressão, sem fé numa vitória nas legislativas de 2009. Ora estes “atributos” são exactamente aqueles que não podiam, em circunstância alguma, caracterizar o PSD. E Marques Mendes, naturalmente, é arrastado por causa desta crise, sendo por isso natural e legítimo que a sua liderança, que a eficácia da sua estratégia, dos eu discurso, dos seus métodos de partido de oposição. Não se concebe que o maior partido da oposição ande a assinar pactos de regime com o poder que combate, seja sobre o que for. Se o governo é governo, se possui uma ampla maioria absoluta na Assembleia da República, se tem a legitimidade eleitoral para legislar, então que legisle sozinho, que produza e aprove as leis que entender, sendo depois questionado pelo eleitorado, no momento das eleições, pelo que fez e pelo que não fez, pelo impacto negativo e/ou positivo da legislação aprovada.
O poder não tem que levar atrelado a si, e numa posição de submissão tonta, o maior partido da oposição que, deste modo, acaba por perder a legitimidade para, depois, criticar o governo que diz combater. Como é que Marques Mendes quer que os portugueses, mas principalmente os militantes eleitores social-democratas, percebam que um dia o PSD e o seu Presidente andem freneticamente irados em cima do governo socialista, desancando sobre tudo e todos, e dois dias depois ande a assinar pactos sobre a reforma da justiça (?) ou sobre a reforma do parlamento que nem consensuais são ou serão? Então se ataca um governo, como é que com ele depois estabelece acordos, ainda por cima bipartidários, deixando à margem desse entendimento os demais partidos da oposição? Marques Mendes julga que vai chegar ao poder às cavalitas do PS e de José Sócrates?
É neste contexto que acontece o Chão da Lagoa e, com ela, a presença do líder do PSD nacional, facto que há uns anos não acontecia – o último a estar presente foi Marcelo Rebelo de Sousa. Ressalvando que Mendes tinha sido convidado, e tinha confirmado a sua presença, ainda antes da campanha eleitoral para a Câmara de Lisboa, a verdade é que Mendes politicamente falando, chega ao Chão da Lagoa claramente penalizado e diminuído, porque um líder perdedor dificilmente consegue deixar de o ser. Apesar de tudo, ele pode encontrar no Chão da Lagoa o élan que necessita para retomar o combate político interno, visando as directas de 28 de Setembro, nas quais terá uma vez mais como opositor Luís Filipe Menezes que, lamentavelmente, andou dois anos sistematicamente a desestabilizar PSD e a sua liderança, a atacar Marques Mendes, a procurar protagonismo nos meios de comunicação social que é essencial para ele, a dar “manteiga” a jornalista se meios de informação, a falar sobre tudo e sobre nada, até do que não sabe ou não deve, enfim, comportando-se como uma pessoa que certamente agradará aos que desejam um PSD em permanente convulsão, fragilizado, pateticamente a braços com guerras ou vaidades pessoais de alguns indivíduos, impedindo-o de se concentrar, como devia, unido, com consistente, coerente, credível e mobilizador, nos objectivos políticos essenciais.
É sabido que o PSD da Madeira, enquanto tal, não manifestou ainda qualquer apoio a nenhum dos candidatos. Não sei sequer se o fará, ou melhor, se o deve fazer. Mas há pessoas que manifestaram o seu apoio pessoal a Marques Mendes. Um deles, Alberto João Jardim, foi claro nos fundamentos da sua opção e na justificação da sua solidariedade pessoal e política. Admito que outros se lhe seguirão, mas que eventualmente alguns possam posicionar-se ao lado de Meneses. Pessoalmente não decidi em qual deles votarei. Uma cosia é certa: não vou ao Congresso perder tempo. Sei que Marques Mendes não tem sido uma liderança forte, consistente e convincente, que não tem sido capaz de mobilizar o partido. O que esperto – por isso sou um adepto fervoroso das directas limitadas apenas ao líder do partido, deixando tudo o resto para o Congresso – é que o Congresso do PSD não se transforme numa palhaçada, numa perda de tempo, para que tudo fique na mesma. Um Congresso é um Congresso. Quando se chega à reunião magna de um partido com tudo resolvido, então o que é que podem esperar destes encontros os seus participantes? Espero que Mendes reflicta muito sobre esta questão e não ceda a alterações estatutárias demagógicas e que, no fundo, desvirtuam os próprios partidos, afastando-os do debate de ideias.
Pedro Adão e Silva, e pode parecer um paradoxo citá-lo neste meu artigo, dirigente socialista, docente universitário no estrangeiro e apontado como uma das esperanças do PS, escreveu há dias, e a propósito deste tema: “Quando ao fim de dois anos a popularidade do Governo Sócrates começa a consolidar uma tendência de baixa, custa a perceber a situação em que o PSD se encontra. Há, contudo, várias causas explicativas. Algumas das quais não são da responsabilidade do PSD – por exemplo, as circunstâncias do exercício da oposição em Portugal e o reposicionamento do PS, que é hoje percepcionado como o partido do poder e do reformismo, lugar outrora ocupado pelo PSD. Ainda assim, grande parte dos males que afectam hoje o maior partido da oposição são da sua exclusiva responsabilidade (…)” O principal problema do PSD é, sim, nunca ter reflectido sobre as verdadeiras causas da situação em que se encontra actualmente”. Eu assino por baixo. Desconfio que Luís Filipe Menezes não percebe esta realidade incontornável.
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 27 de Julho 2007

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast