Artigo: SINA?

Não vou ao ponto de desvalorizar totalmente o assunto, na medida em que existe o facto, existem protagonistas, existe a necessidade de um epílogo para tudo isto, até para que as pessoas percebam o que se passou e se acabe de uma vez por todas com a especulação, que me parece estar a crescer a vários níveis, ultrapassando mesmo os limites do razoável no que a ataques pessoais diz respeito, não faltando, como ainda ontem ouvi, notícias indiciando a pressão dos socialistas para a destituição (!) do Presidente da Câmara do Funchal, numa atitude absurda, reveladora da ausência de princípios essenciais que também na política devem estar presentes. No fundo o que o PS local pretende fazer é condenar o autarca funchalense, sem conhecer o documento, sem saber se existe matéria para essa condenação, sem conhecer qualquer decisão que será tomada pelas entidades competentes. É condenar alguém apenas porque politicamente lhes interessa, provavelmente porque continuam, cerca de dois anos depois, a não ser capazes de digerir uma copiosa e inesperada derrota eleitoral nas autárquicas, depois de uma campanha particularmente violenta e na qual a corrupção, ou melhor dizendo, a insinuação especulativa e a acusação indiscriminada, marcou presença quase diária no combate político então realizado.
Neste caso concreto há um processo, nascido há cerca de três anos – provavelmente mal nascido, ou nascido nas condições não mais recomendáveis – que foi evoluindo, porque inevitavelmente teria que evoluir da forma como aconteceu, que culminou com a elaboração de um documento (relatório) ao qual foi dado, segundo dizem os responsáveis, e eu acredito, o andamento legalmente estabelecido. Ou seja, não há anda uma conclusão para tudo isto, pelo que a tentativa errada de se querer condenar pessoas, sem esperar pelo veredicto, parece-me desajustado.
É sabido que o PSD madeirense terá em Março de 2008 um congresso regional, destina do, em meu entender, a preparar o partido para o momento decisivo, agendado para Outubro de 2010, um ano antes das regionais de 2011. O PSD da Madeira precisa, neste momento, de tranquilidade interna, de coesão na diferença de opiniões e de uma concentração de esforços para que ele se mantenha blindado a pressões que naturalmente surgirão de fora para dentro, visando influenciar opções e, pior do que isso, apostando no condicionamento da liberdade de opção e na decisão dos seus filiados. Alberto João Jardim já anunciou uma alteração estatutária que não pode ser, nem vai ser, cirúrgica, servindo apenas num determinando contexto ou a uma determinada perspectiva de análise das coisas. Foi o próprio Jardim que anunciou que provavelmente o partido deixará de ter Vice-Presidentes da Comissão Política, para que não existiam diferentes patamares de importância política, facilitando desta forma o processo de decisão interna. Foi também o líder do PSD da Madeira quem anunciou que a Comissão Política a sair do próximo Congresso de 2008, poderá ter mão mais de 12 a 15 membros, já que provavelmente a comissão permanente será abolida. Não me parece que, neste contexto de mudança, faça sentido manter nas “directas” a obrigatoriedade, que aliás não existe em mais lado nenhum, de impor aos militantes a votação numa comissão política e num secretariado, remetendo para o congresso apenas a eleição dos demais órgãos incluindo o conselho regional que Alberto João Jardim já anunciou pretender ver reforçada a sua importância, e que é eleito em Congresso. Mas estas alterações são matéria da competência do próprio Alberto João Jardim, que está certamente atento a tudo isto, que melhor do que ninguém percebe os com tornos, a montante e a jusante destas questões estatutárias, e que se prepara no Conselho Regional de Setembro para apresentar uma proposta inicial que será sujeita a apreciação e discussão interna, visando a aprovação de Dezembro deste ano, no Conselho Regional, das alterações estatutárias propostas. Depois disso, as “directas” para o Congresso de Março de 2008 realizar-se-ão com base nos novos estatutos. Esta reforma estatutária tem que apostar em 2011 e na estabilidade interna do partido, não vai servir facções, nem institucionalizar qualquer modelo de controlo partidário que seria absurdo, desajustado e perigoso Soluções de recurso, ou a reboque de “sugestões” com intencionalidades facilmente adivinháveis, opções assentes na fragilidade politica que acabarão por ruir, certâmen te que não serão toleradas por Alberto João Jardim.
O PSD da Madeira está consciente de tudo isto, os seus militantes e eleitores sabem que precisamos que ter um partido pós-Alberto João Jardim que sendo obviamente diferente – porque ninguém pode ter a veleidade tonta de querer ser uma espécie de “clone” de uma liderança carismática e profundamente marcante no partido e na região – pelo que as prioridades do partido, são essencialmente as de se manter fora de tudo isto, apostando apenas no essencial e nas responsabilidades que aos poucos lhe serão pedidas.
Este caso teria conseguido o mesmo mediatismo, a mesma amplitude informativa, a projecção até nos meios de comunicação social nacionais, se, por exemplo, não tivéssemos saído recentemente de eleições na Câmara de Lisboa, em circunstâncias de todos conhecidas, ou se João Cunha e Silva e Miguel, Albuquerque não fossem ambos mais do que supostos ”delfins” – porque continuo a acreditar que há uma diferença entre o querer ser e o permitir que os outros, particularmente os meios de comunicação social, continuem a dizer que eles são… - dois Vice-Presidentes do PSD da Madeira?
Quando afirmei que o PSD estava à margem deste assunto, obviamente que não estou mandatado - e tive a preocupação de o referir – pelo partido para falar em seu nome e, muito menos, falar em nome da consciência e da liberdade de pensamento de cada militante, até porque os partidos são constituídos por pessoas que certamente lêem jornais e ouvem notícias. Disse claramente que era essa a minha dedução. Porque no passado já nos confrontamos com situações semelhantes, e conseguimos manter o equilíbrio, a unidade e a inteligência de saber separar o “trigo do joio”.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 16 de Agosto 2007
<< Página inicial