Artigo: Coisas do Mundo (I)
Todos os dias acontecem no mundo, por esse imenso mundo fora, notícias que nos chocam, ou nos surpreendem, mas que nem sempre chegam aos leitores, “filtradas” nos critérios de selectividades das redacções dos jornais que têm muito mais a ver com espaço disponível do que com o conteúdo dos factos. Por isso resolvi recordar algumas delas, acontecidas nos últimos meses do ano passado:
• Um homem encapuzado entrou numa escola primária holandesa e apunhalou uma criança até à morte. O ataque ocorreu na cidade de Hoogerheide, a sul de Amesterdão. A polícia já confirmou que o óbito do menor, que terá entre oito a nove anos. O suspeito detido pela polícia — e alegado pai da criança — era o director de uma agência bancária da Rabobank em Halsteren.
• O Ministério de Segurança Pública chinês anunciou que em 2005, os veículos conduzidos por estrangeiros provocaram 95 acidentes, causaram 28 mortes (0,03% do total de 98.738 mortos nas estradas chinesas). Por isso, aprovou um novo regulamento que embora tenha eliminado a obrigatoriedade de exame para circular pelas estradas chinesas para os estrangeiros — bastando para tal a carteira internacional e uma rápida sessão informativa sobre a legislação chinesa — obriga-os a um seguro especial de responsabilidade de acidentes.
• Portugal tem milhares de professores desempregados. Há dias, foi noticiado, por sinal de uma forma quase envergonhada, que o continente africano precisa de mais cinco milhões de professores para garantir educação para todos até 2015. Foi o próprio secretário-geral da Commonwealth, Don McKinnon a admitir que milhões de crianças no mundo em desenvolvimento enfrentam um futuro negro: “O mundo em desenvolvimento precisa de mais e melhores professores. Só o continente africano precisa de mais cinco milhões de professores se quiser alcançar a educação primária universal até 2015”.
• De acordo com o barómetro global da corrupção 2006, da organização não-governamental “Transparency International”, Portugal está entre os países onde há menos subornos e em que as situações de corrupção que alegadamente ocorrem afectam sobretudo a vida política. Cerca de 51 e 70% dos inquiridos admitiram que a corrupção afecta a vida política. Mas Portugal faz parte de um grupo de países em que 5% ou menos dos inquiridos responderam que já pagaram subornos nos últimos 12 meses, situação semelhante à da África do Sul, Alemanha, Canadá, Coreia do Sul, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, Fiji, Finlândia, França, Holanda, Islândia, Israel, Japão, Malásia, Noruega, Polónia, Reino Unido, Singapura, Suécia, Suíça, Taiwan e Turquia. Questionados sobre o papel do Governo no combate à corrupção, 39% dos portugueses inquiridos respondeu ser "ineficaz", 4% consideraram "muito eficaz" e 26% disseram ser "eficaz". Apenas 13% consideraram que o Governo português não combate a corrupção e 10% afirmaram que a encoraja. Este barómetro foi realizado pelo “Gallup International” em 62 países, entre Junho e Setembro do ano passado, e tem uma margem de erro de quatro por cento.
• Parece inacreditável mas a verdade é que uma em cada quatro crianças espanholas vive abaixo do limiar de pobreza. Um estudo — "Família, Infância e Privação Social" — da Cáritas e da Fundação de Fomento de Estudos Sociais e de Sociologia Aplicada de Espanha, refere que a redução da pobreza em Espanha "estancou" na última década. A taxa de "pobreza moderada" em Espanha ascende aos 20%, o que equivale a uma em cada cinco pessoas, sendo que a taxa dos que são "bastante pobres" é de quase 4%, ou um milhão de pessoas. Luyz Ayala, um dos autores do estudo, considerou inaceitável que Espanha — com níveis de crescimento económico dos mais fortes da União Europeia — tenha quase 8,5 milhões de pobres. Por outro lado a taxa de pobreza infantil em Espanha é a mais alta da União Europeia a 15, situação que especialistas atribuem à redução de apoios sociais às famílias espanholas. De acordo com os indicadores comunitários, uma pessoa vive abaixo do limiar de pobreza se tiver rendimentos anuais inferiores a 6.300 euros. A situação de "pobreza severa" corresponde a quem viva com menos de 220 euros por mês, vivendo sozinhos, ou menos de 400 euros nos caso dos casais com um filho.
Apesar de tudo, é este o nosso mundo, pelo qual temos que lutar e defender.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 10 de Jan 2007
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