Artigo: Confiança?
Um novo “Barómetro Político”, realizado pela “Marktest” para alguns meios de comunicação social, já este ano, revela que as expectativas dos residentes em Portugal Continental (as regiões autónomas regra geral ficam de fora, porque os encargos com estes barómetros impropriamente designados de nacionais, aumentariam e os clientes não estão dispostos a pagar) se mantêm baixas. Ou seja, no início do ano o chamado índice de expectativa apresentava um valor de 35.5 pontos (mais 1.2%, comparativamente ao último Barómetro Político, divulgado em Novembro do ano passado). Curioso, segundo o documento, é que a população feminina continua a mais pessimista, quando comparada com a masculina (30.2 e 40.3, respectivamente), o mesmo acontecendo com os inquiridos com mais de 55 anos (índice de 31.8) relativamente aos que têm entre 18 e 34 anos e 35 e 54 anos (41 e 32.5, respectivamente). Entre a população inquirida pelos autores do documento, e cuja intenção de voto é próxima do PSD (índice foi 31, pessimismo) permanece, tal como ao longo dos meses de 2006, notam-se maiores índices de pessimismo comparativamente à população com intenção de voto PS (índice 55.8, optimismo moderado). Alega a “Marktest” que a Grande Lisboa é, simultaneamente, a região menos pessimista (com uma expectativa de 40 pontos) e aquela onde este índice mais cresceu (mais 9.1% entre Novembro de 2006 e Janeiro de 2007), obtendo o Litoral Norte um índice de 36.1 (o segundo mais elevado), seguido da região Interior Norte, com 35.7 pontos. O Grande Porto obteve um índice de expectativa de 34.1, sendo no entanto a região onde se verificou a maior quebra no período referido (menos 19.4%). Em penúltimo ficou a região Sul, que, apesar de não ter ido além de um índice de 32.7, protagonizou a segunda maior subida em termos percentuais (mais 8.9%). Finalmente, a região do Litoral Centro, onde, apesar de se ter verificado uma subida de 6.8% entre Novembro de 2006 e Janeiro de 2007, o índice de expectativa não foi além de 31.8 pontos. Mas a economia, que o socialista José Sócrates ainda há dias disse estar a crescer mais do que previsto, parece justificar o "pessimismo moderado" dos portugueses, até porque o desemprego continua elevado, os consumidores apertam a bolsa, os lojistas queixam-se de gerar menos negócios, etc. Recordo, a propósito, que o Banco de Portugal considera que os gastos das famílias serão em linha com o rendimento real disponível, ao contrário do que sucedeu nos últimos anos. Embora admita uma “ligeira aceleração do consumo em 2007” o banco central alerta para o aumento do endividamento das famílias nos últimos anos, o qual deverá "limitar o crescimento das despesas de consumo em 2007 e mesmo em 2008”. Para além da redução do poder de compra, as famílias enfrentam ainda mais custos resultantes dos aumentos das taxas de juro e do aumento dos impostos directos e indirectos, particularmente o IVA. De acordo com a Comissão Europeia, o salário médio auferido pelos portugueses registará uma variação real negativa de 0,1%, em 2007, querendo isto dizer que, pelo quinto ano consecutivo, se verificará uma queda do poder de compra dos consumidores, até porque a inflação ficará acima dos aumentos salariais negociados para este ano. Mas esta perda de poder aquisitivo será maior no caso dos funcionários públicos — para uma inflação governamental de 2,1% em 2007, corresponde uma actualização salarial, imposta, de 1,5%. Mas fiquem descansados que 2006 foi um ano de deterioração nas remunerações, inclusivamente no sector privado. É o desemprego que determina o optimismo e/ou pessimismo dos cidadãos. Para este ano o governo garante que haverá uma redução dos actuais 7,6% (contestados em muitos sectores, políticos, económicos e sindicais, por alegadamente não incluir o desemprego real em toda a sua plenitude) para os 7,5% (imagine-se esta amplitude da descida…). A OCDE aponta no mesmo sentido mas a Comissão Europeia, pelo contrário, garante que o desemprego vai agravar-se, ligeiramente, subindo para os 7,7%. Perante esta contradição de todos estes indicadores — mas que eleitoralmente permitiram, aos socialistas a conquista de uma maioria absoluta que hoje, francamente, tenho a absoluta convicção que não se repetiria — sinto pena por todos nós, pelo universo dos portugueses, dos que votaram no PS e dos que nunca se deixaram iludir, porque vamos ter que carregar a “cruz” durante mais dois anos. E isso é que me incomoda porque depois de tudo o que passamos, acho que tínhamos direito a poder sonhar e a sorrir, sobretudo a sorrir, de novo!
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 16 Fevereiro de 2007
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 16 Fevereiro de 2007
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