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sexta-feira, 16 de fevereiro de 2007

Artigo: Justiça

Eu acho uma vergonhosa hipocrisia haver um deputado socialista — Maximiano Martins — que tenha a suprema ousadia (lata, para alguns) — mesmo que se tenha comportado durante o seu mandato em São Bento, sistematicamente contra a Madeira, lamentavelmente movido apenas por imposições partidárias, refém de orientações políticas e obedecendo a estratégias eleitoralistas engendradas em reuniões realizadas em ambientes socialistas em Lisboa — de se regozijar com a promulgação da lei das finanças regionais, de não esconder a sua satisfação, de inclusivamente considerar que se trata de uma lei justa, quando ela retira à Madeira, só este ano, 34 milhões de euros, quase 7 milhões de contos (34 milhões de euros). Como é admissível que o eleitorado madeirense, independentemente de ter votado no PS — mas neste caso permitindo a eleição destas pessoas — possa tolerar a hipocrisia de haver quem se possa vangloriar com os nossos prejuízos, só porque o alegado envio de menos dinheiro de Lisboa para o Funchal, vai criar dificuldades ao Governo Regional, a Alberto João Jardim e ao PSD, facilitando a vida (a ver vamos!) dos socialistas, concretamente do PS da Madeira, de Serrão e companhia, nas eleições regionais de 2008? Salvo se estivermos a falar de um povo sem vergonha na cara, sem qualquer ética e privado de princípios, entre os quais a obrigação suprema de se defender colectivamente contra os inimigos externos, acho que ninguém pode comportar-se assim e votar desta forma, premiando os que traíram aquelas que deveriam ser as exigências máximas de quem se candidata por um Povo e uma Região, independente de ganhar ou não as eleições. Seria, por exemplo, intolerável para mim, e objecto da minha repulsa, que se passasse o contrário, que num cenário de maioria absoluta do PSD, algum deputado social-democrata da Madeira ousasse sequer admitir que poderia ter comportamento semelhante só que tem sido a imagem de marca negativa e surpreendente de Maximiano Martins.
Como é possível que um deputado eleito pela Madeira, possa manifestar “satisfação” e arrastar o Presidente da República para a festança, só porque promulgou a lei de finanças regionais (embora essa colagem socialista a Cavaco não seja, ou melhor dizendo, não deveria constituir uma surpresa para ninguém quando é hoje mais do que óbvio que o Presidente da República foi cúmplice da tramóia socialista que culminou com a dissolução da Assembleia da República e a convocação das eleições legislativas de 2005), quando sabe melhor do que ninguém — ele e outros comparsas locais — que a Madeira é penalizada em 34 milhões de euros? Dizem agora alguns iluminados que pretendem branquear a questão essencial subjacente a tudo isto (a vertente política) — e ainda há dias ouvi dois empresários locais sustentar o mesmo, depois de terem andado anos a “mamar” à conta do orçamento regional e a encher os bolsos à conta de obras públicas — que será fácil ao Governo regional resolver o problema: basta reduzir as verbas do Jornal da Madeira e cortar nos apoios ao futebol, para que tudo se componha. Estamos a falar de menos 7 milhões de contos no primeiro ano, que serão nos anos seguintes superiores.
Transformar uma derrota — porque é disso que se trata, de uma derrota penosa e lamentável — numa manifestação de satisfação por parte de políticos e partidos, só porque estes sonham com o poder regional em 2008 e estão dispostos a tudo para que essa caminhada seja facilitada (até por golpadas como estas), como se nada dependesse da vontade e da inteligência do eleitorado, é uma patifaria. Nada mais do que isso. Uma derrota do PSD? Ou uma derrota da Madeira? Uma derrota de Alberto João Jardim? Ou uma derrota dos Madeirenses? Uma atitude de justiça de Lisboa só porque o PSD é poder na Madeira? Ou uma absurda facada nas costas do nosso Povo e da nossa Região, protagonizada por uma maioria política que, histórica e ideologicamente, sempre foi, e continuará a ser, sempre, hostil às autonomias, tal como é hostil à regionalização do Continente? Uma lei “justa” ou uma golpada que contou com a cumplicidade de gente sem escrúpulos, que se aproveitou dos Madeirenses para ter tachos e ganhar alguma visibilidade fora da Madeira, que pensa, fala e vota em função da cegueira partidária e dos objectivos eleitorais?
Eu convenço-me que o ajuste de contas tem que ser feito. Não se podem branquear comportamentos e aceitar passivamente que transformem o inferno num paraíso. Quem agiu mal, quem agiu de má fé, quem deliberadamente prejudicou a Madeira, independentemente das naturais diferenças de opiniões que possamos ter e da concordância ou divergência que tenhamos face a opções governativas em matéria de encargos orçamentais, ou das divergências mais ou menos acentuadas em termos ideológicos e políticos, deve ser penalizado, tem que ser penalizado. Caso contrário, se da parte de quem tem o direito e o dever de julgar, houver uma cumplicidade com semelhante gente, partidos ou atitudes, expressa numa não penalização que quem é merecedor dessa decisão colectiva, então, e no que me diz respeito, será tempo de me dedicar à pesca ou a coisas mais interessantes, nunca continuar na política.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 15 Fevereiro 2007

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