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sexta-feira, 23 de março de 2007

Alemanha quer tirar cidadania a Hitler

Mais de seis décadas após a sua morte, Adolf Hitler pode perder a cidadania alemã. É pelo menos essa a proposta de uma deputada da Baixa-Saxónia que está neste momento a ser examinada pela Comissão de Assuntos Jurídicos do Parlamento regional. A social-democrata Isolde Saalmann afirmou ao semanário Der Spiegel que este "passo simbólico" é a única forma de a cidade de Braunschweig ultrapassar o "complexo" por ter sido responsável pela naturalização do ditador.Nascido no Império Austro-Húngaro em 1889, Hitler mudou-se para Munique em 1913, irritado por ter sido rejeitado - três vezes - pelo Conservatório de Viena. Um ano depois, o pintor frustrado alista-se no exército alemão, combatendo na I Guerra Mundial. Ferido duas vezes, recebeu uma medalha pela sua coragem no campo de batalha. Finda a guerra, integra o Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães (nazi), onde sobe rapidamente na hierarquia. Mas, para se candidatar a eleições, precisava de obter a cidadania alemã.
Em 1932, a solução surge através da nomeação para um cargo administrativo em Braunschweig. Hitler não chegou a desempenhar as funções, mas conseguiu o seu objectivo: tornara-se cidadão alemão. Um ano depois, os nazis chegavam ao poder. Hoje, este episódio continua a marcar o quotidiano dos habitantes de Braunschweig, que se sentem incomodados de cada vez que se fala no ditador responsável pela morte de seis milhões de judeus. Em declarações ao Hannoversche Allgemeine Zeitung, Saalmann disse: "Se a Baixa-Saxónia, sucessora legal do estado livre de Braunschweig, se afastar da naturalização de Hitler, talvez ultrapasse o trauma."
Cidadão pouco ortodoxo
A forma como Hitler obteve a nacionalidade alemã pode ter sido pouco ortodoxa, mas a moção apresentada por Saalmann terá alguma dificuldade em ser aprovada. De facto, a Constituição alemã proíbe que se retire a nacionalidade a alguém que fique apátrida; o que se aplica no caso de Hitler, já que este renunciou à cidadania austro-húngara em 1925. Especialistas ouvidos pelo diário britânico The Times, acrescentaram que, estando o ditador morto, tirar-lhe a cidadania poderá ser complicado, apesar de algumas cidades já lhe terem retirado a cidadania honorária (ver caixa). "Quem morreu, morreu. Já não há nada para retirar", garantiu ao Der Spiegel um responsável da Baixa-Saxónia.
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Fonte: Helena Tecedeiro, DN de Lisboa

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