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Opinião e coisas do nosso mundo...

quinta-feira, 29 de março de 2007

Artigo: Eleições regionais (XIV)

Já várias vezes aqui referi que sou um fundamentalista, no que à rigorosa observância de regras éticas no que à actividade política diz respeito. O vínculo de um cidadão a um partido é um acto de opção e de liberdade, não uma imposição seja de quem for. Por isso, essa decisão deve assentar em princípios, numa opção ideológica ou no apoio a um determinado programa partidário. Eu acredito que uma grande parcela do eleitorado que vota nos principais partidos, não precisa de campanhas eleitorais, nem sequer prde tempo a ouvir os políticos nos momentos pré-eleitorais, até porque facilmente adivinham, particularmente nos meios mais pequenos como o nosso, o que ele vai dizer ou fazer. Admito que possam questionar-se, indignar-se, que possam até discordar de decisões tomadas, mas em nome da coerência e dos princípios, não me parece pensável que mudem o seu sentido de voto apenas por isso. O mesmo não direi aios chamados eleitores flutuantes, que não se sentem vinculados a nenhum partido, que não se revêem em nenhum programa partidário ou ideologia específica, mas que, compreensivelmente, votam em função de itens que impõem a si próprios, em função do debate político, das propostas em discussão, das ideias, da qualidade dos candidatos, da mensagem de renovação, da garantia de competência e de seriedade do projecto e dos seus principais protagonistas, etc. Giovanni Papini no “Relatório Sobre os Homens, falava da outra face da inveja: “Aqueles que são invejados entristecem-se com o rancor que sentem à sua volta; se são orgulhosos, por receio de algum prejuízo; se generosos, por compaixão dos que invejam. Mas depressa se alegram: se me invejam, isso quer dizer que tenho um valor, dos méritos, das graças; quer dizer que sentem e reconhecem a minha grandeza, o meu triunfo. A inveja é a sombra obrigatória do génio e da glória, e os invejosos não passam, de forma odiosa, de admiradores rebeldes e testemunhas involuntárias. Não custa muito perdoar-lhes, quando existe o direito de me comprazer e desprezá-los. Posso mesmo estar-lhes, com frequência, gratos pelo facto de o veneno da inveja ser, para os indolentes, um vinho generoso que confere novo vigor para novas obras e novas conquistas. A melhor vingança contra aqueles que me pretendem rebaixar consiste em ensaiar um voo para um cume mais elevado. E talvez não subisse tanto sem o impulso de quem me queria por terra. O indivíduo verdadeiramente sagaz faz mais: serve-se da própria difamação para retocar melhor o seu retrato e suprimir as sombras que lhe afectam a luz. O invejoso torna-se, sem querer, o colaborador da sua perfeição”. Não podemos aceitar, para defesa do prestígio da política e dos seus actores, que as pessoas vagueiem entre partidos, com a mesma facilidade com que se anda na rua. E muito menos mudando de camisola como se tudo isso fosse uma normalidade. Não tolero, nem sequer compreendo, que partidos de poder, partidos e de massas, e portanto com responsabilidades acrescidas, possam aceitar ser cúmplices de comportamentos ziguezagueantes que em nada dignificam o exercício da política, antes a transformam num covil de oportunistas sem escrúpulos Obviamente que reconheço o direito de qualquer cidadão que se encontra na política de se indignar com decisões, com escolhas, com atitudes que possam ir contra as suas ideias, princípios ou expectativas. Mas essa liberdade não pode transformar-se em libertinagem, muito menos a libertinagem de mudar de um dia para outro de partido como quem muda de meias. Os partidos políticos, da direita à esquerda, são organizações piramidais, que começam pelas bases e terminam na oligarquia dirigente situada no topo. Mas são essencialmente, no que aos processos de decisão diz respeito, estruturas essencialmente oligárquicas, porventura pragmáticas, onde as respectivas elites decidem e procuram impor, pela via legal, as suas opções ou propostas. Não vale a pena andarmos a perder muito tempo com discussões patéticas sobre a democraticidade, maior ou menor, dos partidos nos momentos de maior tensão, onde a vulnerabilidade interna é posta á prova de uma forma mais intensa. Nos momentos de decisão há sempre alguém, uma estrutura, o que quiserem, que tem mais capacidade e mais poder de decisão que os demais, que pode influenciar essa decisão. Pouco importa se bem ou mal. O que importa é que, depois, eles sejam capazes tanto de assumir a responsabilidade e receber as honras em caso de sucesso, como de se responsabilizarem pelo insucesso ou pela derrota, afastando-se. Não podemos ter partidos, como é o caso da oposição regional, que ao longo de 30 anos têm somado derrota atrás de derrota, e que considerem essas derrotas uma normalidade, pior, transformando-as muitas vezes em incompreensíveis “vitórias”, argumento que apenas garantia a sua sobrevivência no poder. Em vez de assumirem responsabilidades e se demitirem, o que vimos foi malabarismo, a procura de “justificações” destinadas não a justificar a derrota, mas antes a retirar legitimidade à vitória de quem realmente ganhou, por ser essa, por ter sido até hoje essa, a vontade livre e democrática das populações.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 29 de Março 2007

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