Artigo: DIA DA CRIANÇA
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Como se pode, por exemplo, assinalar o “Dia Internacional da Criança”, se embora aponte como provável a redução de casos de subnutrição em mais de 30 países, um relatório das Nações Unidas sobre a fome no mundo, denuncia que a falta de alimentos mata uma criança a cada cinco segundos? O documento - "O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo - 2004" - reconhece que, “apesar do esforço em algumas partes do planeta, a meta de reduzir a fome pela metade até 2015 não está a ser conseguida, na medida em que a fome e a desnutrição levam à morte todos os anos mais de 5 milhões de crianças, a maioria (mas não somente) nos países em desenvolvimento”.
Como se pode, por exemplo, assinalar o “Dia Internacional da Criança”, se a FAO - o programa da ONU para agricultura e alimentação que realiza o levantamento - denunciou que 852 milhões de pessoas em todo o mundo se subalimentaram durante os anos de 2000 e 2002, o que representa um aumento absoluto de 180 milhões de pessoas em relação ao período de 1995 e 1997, aumento este que é generalizado a todas as regiões em desenvolvimento, com excepção da América Latina e do Caribe? Do total de crianças sub-nutridas divulgadas pela FAO, 815 milhões vivem em países em desenvolvimento, 28 milhões nos chamados países de transição (por exemplo as antigas repúblicas soviéticas) e 9 milhões nos países industrializados. Mas a fome também atinge as crianças recém-nascidas de forma drástica. Todos os anos, segundo o relatório, 20 milhões de crianças nascem abaixo do peso em países em desenvolvimento e nalguns países como a Índia e o Bangladesh, o número de casos de crianças nascidas abaixo do peso chega a 30% do total. O documento da FAO revela que a fome e a desnutrição custam cerca de 15 mil milhões de dólares anuais em dispensas médicas todos os anos e revela estimativas que apontam para a possibilidade de 15 países da África e na América Latina poderem reduzir a subnutrição para metade até 2015.
Como se pode, por exemplo, assinalar o “Dia Internacional da Criança”, se a fome e a má nutrição estão a ameaçar a vida de 3.6 milhões de pessoas no Níger, das quais 800.000 são crianças com menos de cinco anos? A Unicef e várias organizações lançaram um apelo de emergência de 12 milhões de dólares: “Neste momento o problema afecta o Níger. Mas, infelizmente, corremos o risco de que a situação se venha a verificar também em países vizinhos como a Nigéria, o Mali e o Burkina Faso. Precisamos de atacar o problema o mais rapidamente possível, para evitar uma crise como a que se vive no Níger”, disse um responsável pela organização. Como se pode comemorar o “Dia Internacional da Criança”, se indicadores oficiais constantes de um relatório do instituto de pesquisa internacional da política de alimento (IFPRI), apontam para a possibilidade de 42 milhões de crianças poderem estar a passar fome em África em 2025, caso as actuais tendências da política e do investimento continuem?
Como se pode, por exemplo, assinalar o “Dia Internacional da Criança”, se todos os anos, a fome mata seis milhões de crianças em todo o mundo? Um “Relatório sobre a Fome no Mundo da Organização das Nações Unidas para a Agricultura (FAO)” diz que o Sarampo, as diarreia ou a malária são só os motivos aparentes deste flagelo e que a subnutrição é a única causa que enfraquece os seus sistemas imunitários, impedindo-os de combater doenças banais para a maioria dos países desenvolvidos. A África subsariana e a região do planeta mais afectada por este flagelo. Este documento apresentado na 33.ª Conferência da FAO, revela que 852 milhões de pessoas em todo o mundo sobrevivem quase sem comida, sendo questionada a viabilidade da redução da pobreza extrema em 50% até 2015.
Luís Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 04 de Junho
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