PINACULOS

Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Artigo: BALANÇOS

No momento em que escrevo este texto, e que foi hoje publicado no “JM”, não sei ainda qual foi o impacto dos discursos políticos proferidos na festa social-democrata do Chão da Lagoa, nem o que aconteceu no congresso regional dos socialistas locais, o primeiro com a presença de Marques Mendes, o segundo com Santos Silva a demonstrar que Gouveia contará com o apoio dos socialistas nacionais.
Previsivelmente a realidade política nacional, particularmente as relações entre o Funchal e Lisboa - que continuam rigorosamente a ser as mesmas que existiam antes das eleições de 6 de Maio, ou seja, quase nenhumas – marcou os discursos que, em meu entender, continuam a ter apenas um impacto mediático na comunicação social que é bastante efémero. Passados poucos dias, tudo volta ao normal. Eu tenho quase a certeza que Alberto João Jardim – porque no fundo é ele que continua a personificar o poder regional e o PSD, e tudo o resto é conversa para alegrar nas “horas mortas” ou salvar a ausência de notícias – se sente claramente um político pressionado, não pelos resultados eleitorais de Maio que o relegitimaram na liderança do executivo madeirense, nem sequer pela maioria absoluta reforçadíssima que alcançou nas antecipadas, mas sim pelo facto de ter constatado, como todos constatamos, que o eleitorado lhe deu uma oportunidade, a ele e a mais ninguém, de procurar ultrapassar a actual situação de quase total incompatibilidade, entre a Região e o Terreiro do Paço. E que, até ao momento, poucos ou nenhuns passos em concreto foram dados.
Dizem-me ser o próprio José Sócrates quem continua a impor a sua vontade política de não se envolver com Alberto João Jardim e de manter com a Madeira um relacionamento institucional circunscrito ao essencial e constitucionalmente obrigatório. Garantem-me também que a Sócrates pouco o incomodam os conflitos que aparecem na comunicação social, talvez porque entre os socialistas continentais, leia-se a nomenclatura dirigente no eixo Largo do Rato (sede do PS) – São Bento (primeiro-ministro) e Terreiro do Paço (Ministro das Finanças), se instalou a ideia de que os “problemas” com Alberto João Jardim funcionam a favor do PS, propiciando-lhes mais votos a nível nacional e originando a favor do actual governo socialista, manifestações de apoio diversas.
Portanto, tudo o que escrever, limita-se a funcionar como uma espécie de “adivinhação”, provavelmente alicerçada na rotina que se instalou na política regional, em que praticamente prevemos com antecipação quase certeira o que vai acontecer, eventualmente com algumas, poucas, “nuances”, aqui ou acolá.
Eu não sei qual será a realidade política nacional depois de 2009 – eleições legislativas nacionais – se os socialistas manterão a maioria absoluta ou se esta maioria será substituída, por exemplo, por uma maioria de esquerda, ou se o PSD terá condições para vencer eleições e encontrar nova maioria. O que eu sei é que a Madeira precisa de dar muita atenção à questão do relacionamento institucional com Lisboa porque são demasiados os sinais indiciadores de que tudo vai continuar como antes. Não se trata de ser pessimista. Poderia refugiar-me num patético “estou-me nas tintas”, e ponto final. Mas não, eu penso que, quanto mais difíceis forem as relações entre o Funchal e Lisboa, será sempre a Madeira a perder, perdem essencialmente os Madeirenses. O problema é que parece-me óbvio que há uma guerra política, pessoal, entre Sócrates e Alberto João Jardim, que impede avanços concretos, já que o primeiro-ministro conta ainda com o apoio frenético de um Ministro das Finanças que parece ter contas a ajustar com a Madeira e que, provavelmente por causa disso, nunca perde tempo em surgir ribalta, na comunicação social a querer “pôr na ordem” o Presidente do Governo e a Madeira. A última aconteceu há poucos dias, quanto Teixeira dos Santos apareceu a recusar a hipótese da transferência de verbas adicionais para a Região Autónoma da Madeira no âmbito da nova lei da interrupção da gravidez. O ministro sublinhou que "o quadro orçamental está definido. É para implementar as políticas que sejam definidas quer ao nível regional quer obviamente ao nível da República. Não há nada a alterar no quadro orçamental”. Este tipo de declaração, ao contrário do que as pessoas possam pensar, revela uma intransigência que dificilmente será ultrapassada, situação que coloca à Madeira naturais desafios que não podem ser escamoteados. Eu sou um pessimista, sempre o assumi, quanto a uma eventual mudança de atitude por parte de Lisboa face à Madeira. Não acredito, nunca acreditei, que exista, de um momento para outro, qual toque de magia, uma mudança radical de comportamentos, disponibilidades e abertura para o diálogo, que durante mais de dois anos pura e simplesmente nunca existiu.
O Chão da Lagoa será mais um combate político, apenas isso, numa caminhada que prevejo cada vez mais difícil, porque lamentavelmente não me parece que o PSD nacional esteja mobilizado e com condições políticas – embora tenha ainda tempo para alterar essa fragilidade – para pensar em 2009 com base numa perspectiva de vitória e de convicção determinada.
Quanto ao Congresso ao PS pouco ou nada haverá a esperar de concreto, porque a eleição de João Carlos Gouveia é um dado adquirido, perante a inexistência de outras alternativas. Obviamente que o mais curioso será sabermos o que durante estes dois dias pessoas como Serrão e Maximiano, claramente com responsabilidades na situação que acabou por conduzir o PS local à derrota, dirão operante os seus companheiros. A minha expectativa centra-se sobretudo no discurso e Jacinto Serrão, não só porque foi ele o líder, mas porque tenho a absoluta convicção de que poderá ter sido ludibriado por estratégias, discursos e opções que certamente agradaram a Lisboa (e a certos egos…) mas ignoraram o cerne da questão: cada vez que elas mais agradavam aos socialistas nacionais, mais prejudicavam o PS madeirense. Penso que Serrão deve ter dado uma explicação para a penosa derrota eleitoral, ainda por cima agora sem a treta da lei eleitoral para servir de desculpa…
Luís Filipe Malheiro

Jornal da Madeira, 30 de Julho 2007

Click for Funchal, Madeira Islands Forecast