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segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Artigo: Propaganda

Há dias, registei esta notícia preocupante, que mesmo sendo “maçadora” para algumas pessoas, deve ser por todas lida, para que tenhamos a noção da dimensão do embuste que provavelmente estará a ser camuflado: “A dívida do País ao estrangeiro atingiu o nível mais elevado de sempre. Em Setembro último já representava 71,6% da riqueza nacional (PIB). Contas feitas, cada português deve em média à banca estrangeira mais de dez mil euros. Boa parte desta dívida é explicada pelos empréstimos ao consumo, compras de casa própria e crédito às empresas. Tal como uma correia de transmissão, o endividamento dos portugueses também levou a banca nacional a endividar-se, contraindo fundos ao estrangeiro, para satisfazer o forte apetite pelo crédito. Em Setembro do ano passado, e pela primeira vez na história bancária, o seu passivo acumulado (responsabilidades) para com o exterior ultrapassou o total da riqueza gerada pela economia num ano. Ou seja, a dívida bancária, no montante de pouco mais de 158 mil milhões de euros, ultrapassava em 3,8% o PIB previsto para 2006. Este endividamento só não é preocupante porque os activos da banca nacional no estrangeiro levam a que o "saldo externo" da banca represente apenas metade (49,7%) do PIB português. O uso de poupanças externas para enfrentar o crédito tem uma explicação: as poupanças internas (entre as quais os tradicionais depósitos bancários) são insuficientes para enfrentar o "apetite" de crédito. Ou seja, se os portugueses estão endividados, a banca é o espelho. À excepção da Caixa Geral de Depósitos — a única instituição bancária em que os passivos (depósitos) nacionais são superiores aos créditos concedidos —, o resto do sistema financeiro tem de recorrer ao mercado internacional de poupanças. Nos últimos 12 meses, a banca comercial teve de contratar mais de 16 mil milhões de euros — o equivalente a cerca de 10% do PIB — para colmatar a apetência interna por empréstimos. Para o mesmo intervalo de tempo, os activos da banca aumentaram apenas mil milhões de euros. A dívida total das famílias, empresas — públicas e privadas — e do Estado ao estrangeiro somava 109 mil milhões de euros em Setembro. Desde 2003, a dívida ao exterior subiu 17,8 pontos percentuais, e só nos últimos 12 meses aumentou 16 mil milhões de euros, não existindo sinais de abrandamento significativo pela corrida ao crédito. Para remunerar o endividamento, os custos anuais podem superar os 3,5% do PIB. No futuro, a factura com o serviço da dívida poderá ser mais pesada, acompanhando o aumento das taxas de juro. A única saída, dizem os economistas, para superar os custos da dívida global é aumentar a capacidade produtiva e competitiva da economia. Só assim serão gerados rendimentos para enfrentar as dívidas”. Perante estes “animadores” indicadores, dou comigo a pensar: enquanto os portugueses apertam o cinto que se lixam, o governo socialista de Sócrates, que insiste na demagogia permanente de uma propaganda cada vez mais sem limites — eu não contexto a propaganda, até porque não há governo sem propaganda, nem conheço nenhuma governação sem propaganda, questiona apenas os métodos adoptados e as cumplicidades facilmente encontradas na comunicação social nas mãos de poderosos grupos financeiros e empresariais envolvidos em grandes negociatas — continua a contar com a complacência, cúmplice, do Presidente da República, para quem tudo parece estar bem, até parecendo que vive numa espécie de “oásis à beira-mar plantado. O que me parece necessário é que os portugueses comecem a perceber que existe um país real para além da propaganda, um país que deve ser descoberto e denunciado, porque é em função da realidade desse país, particularmente da sua economia e das suas finanças públicas, que passa o futuro de todos nós. Não da propaganda publicada nos jornais, da realidade deturpada, ou da mentira manipulada, até porque não há governo nenhum que tenha a coragem de admitir publicamente que errou, que falhou nas opções, que não conseguiu os objectivos pretendidos, que a realidade é diferente da que havia sido prometida em eleições, etc. Seja-me permitido citar Alexander Puschkine (Diário Secreto): “Apercebo-me dos meus erros, mas não os corrijo. Isso só confirma que podemos ver o nosso destino, mas somos incapazes de o mudar. Apercebermo-nos dos erros é reconhecer o destino, e a nossa incapacidade para os corrigirmos é a força do destino. Apercebermo-nos dos erros é um castigo pesado. Seria muito mais fácil considerarmo-nos bons e culparmos os outros todos, encontrando consolação na ilusão da vitória sobre o destino. Mas mesmo essa felicidade não me é dada”.
Luis Filipe Malheiro
Jornal da Madeira, 19 Fevereiro 2007

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