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Opinião e coisas do nosso mundo...

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Artigo: ESTATÍSTICAS...

Cada vez que o INE ou qualquer outra instituição externa, divulga indicadores estatísticos favoráveis – porque os outros são...”esquecidos” - os governos, todos os governos, fazem uma festarola junto dos meios de comunicação social, mergulhados numa situação de auto-elogio que além de ridícula, contrasta com a realidade quotidiana sentida pelos cidadãos em geral, pelas famílias e pelas empresas. Se uma subida de 0,5 por cento é motivo imediato para conferências de imprensa, discursos políticos inflamados e previsões maximalistas, é um, facto que raramente existe uma consensualidade estatística. Ainda há dias ouvimos vários membros do governo socialista contestar os critérios utilizados pela Comissão Europeia – mas quando eram favoráveis nem contestados foram... – nos quais assentam as previsões relativas ao sucesso (ou insucesso) governamental no combate ao défice das contas públicas.
Recentemente tivemos exemplos concretos:
“A taxa de desemprego subiu para 8,4% da população activa no primeiro trimestre, o que representa mais 0,7 pontos percentuais de que no mesmo trimestre do ano passado e mais 0,2 pontos percentuais do que no trimestre precedente (o último de 2006), revelou o Instituto Nacional de Estatística. A população desempregada foi estimada em 469,9 mil pessoas, representando mais 9,4% do que no trimestre homólogo de 2006 e mais 2,5 por cento do que entre Outubro e Dezembro de 2006. Por seu lado, o número médio de desempregados entre Janeiro e Março subiu 0,2% face ao primeiro trimestre de 2006 e desceu 0,1% face ao trimestre anterior. Um aumento da taxa de desemprego em simultâneo com a redução do número de desempregados resulta de um aumento da população activa – a que está em idade de trabalhar e quer trabalhar – que no primeiro trimestre deste ano aumentou 0,95% face ao primeiro trimestre de 2006, para 62,6% da população em idade activa (a que tem 15 e mais anos) (...)”.
Não estamos a falar de uma notícia sem significado. Estamos a falar de níveis de desemprego que atingiram uma taxa recorde, amais alta dos últimos 21 anos. Mas apesar disso, qual foi a reacção do Ministro Silva Vieira? A habitual, desvalorizar a notícia que não abona a favor do governo:
“O ministro do Trabalho afirmou que há dados que contrariam a tendência de aumento do desemprego mostrada pelo Instituto Nacional de Estatística e considera que, mantendo-se a aceleração do crescimento económico, Portugal está em condições de conter e começar a reduzir o desemprego. A taxa de desemprego aumentou 0,7 pontos percentuais em Portugal, no primeiro trimestre deste ano, face a igual período do ano passado, para 8,4%, segundo os dados hoje divulgados pelo INE. Em termos trimestrais, a taxa de desemprego registou um crescimento de 0,2 pontos percentuais, face aos últimos três meses de 2006. As regiões com taxas mais elevadas no primeiro trimestre foram o Norte, com 9,5%, seguido do Alentejo, com igual valor, e de Lisboa e Vale do Tejo, com 8,8%. As regiões com menos desemprego foram os Açores (4,7%) e o Centro (6,7%) (...)”.
Ou seja, quando não interessa, toca a minimizar os indicadores divulgados.
Na véspera, foi publicada outra notícia, da responsabilidade de um departamento governamental, a qual foi pretexto para declarações entusiásticas de Silva Vieira que, um dia depois, perante o aumento do desemprego, se viu embaraçado A notícia foi esta:
“O número de desempregados inscritos nos centros de emprego diminuiu 10,4% em Abril, face ao mesmo mês do ano anterior, o que acontece pelo 14º mês consecutivo, indicou o Instituto de Emprego e Formação Profissional. No final de Abril estavam inscritos nos centros de emprego do continente e das regiões autónomas 420.685 indivíduos, menos 48.568 do que no período homólogo de 2006. Face ao mês anterior, o número de desempregados inscritos desceu 4,7% em Abril, o que equivale a menos 20.671 pessoas do que em Março deste ano. Do conjunto de desempregados contabilizados no final de Abril, 92,2% procuravam um novo emprego — menos 11,2% do que no mesmo mês do ano passado (...)”.
Este jogo de palavras mostra bem o oportunismo de todos os governantes, de todos os governos, que procuram jogar com a opinião pública quando as estatísticas lhes favorecem, mas que se apressam a desmenti-las, em última instância até em negá-las. Não se trata de uma habilidade deste governo socialista, embora este tenda a ser mais habilidoso que os antecessores. É antes uma prática corrente com todos os executivos, porque julgam que conseguem enganar as pessoas – como se elas não tivessem um quotidiano e não sentissem as dificuldades – e ganhar eleições ou manter-se no topo nas sondagens.
Luís Filipe Malheiro

Jornald a Madeira, 21 de maio 2007

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